WILLIAN PORTUGAL
Dos anos 1980 pra frente se formou uma lista gigantesca de bandas e artistas que todos amam odiar. Bandas que saíram da curva do nicho em que foram criadas, ou criaram, e passaram a ser hostilizadas de certa forma. O mais novo membro dessa lista é o Queens Of The Stone Age, que acabou de lançar o controverso Villains, seu sétimo álbum de estúdio.
https://www.youtube.com/watch?v=b36Z7p3dAdA
O primeiro single lançado foi The Way You Used To Do, apesar de The Evil Has Landed ser tocada em shows desde o começo do ano, e sendo abraçada por Feet Don’t Fail Me, que vem sendo usada em diversos vídeos promocionais da banda, como esse, com o músico Liam Lynch.
Apesar de até então ser o disco com menos músicas da banda, Villains é três minutos mais longo que seu antecessor, … Like A Clockwork, mas não menos cirurgicamente bem produzido.
Capitaneada por ninguém menos que Mark Ronson, que já havia trabalhado com nomes consagrados como Amy Whinehouse, Adele, Lady Gaga, e outros, o QOTSA passou a primeira metade de 2017 no estúdio lapidando o que seria a mais louca de suas experiências.
De forma mais despojada, despretensiosa, o álbum tem uma cara mais dançante e porque não, fanfarrona. Destoando completamente da forma como o Queens sempre trabalhou, o que gerou revolta em parte dos fãs mais fervorosos do bom e velho stoner rock.
Ao pé da letra, o stoner deriva da sensação do consumo da maconha (façam PROERD crianças), e por suas lacunas de riffs que se repetem ad nausem, em um tempo desacelerado. Villains não tem nada disso, o que tecnicamente, o desclassifica do gênero materno da banda. Não que isso seja algo negativo, muito pelo contrário, mostra que a banda tem coragem suficiente para renovar sua obra, no alto dos seus 21 anos de carreira, e como não deve absolutamente nada pra ninguém, por que não fazer?
As referências que foram utilizadas são muito bem equilibradas. Pode notar claros exemplos de David Bowie, Talking Heads, e claro, The Cramps, banda que o vocalista Josh Homme é fã declarado. Destaca-se também o belo trabalho do baixista Michael Shuman, principalmente na faixa Head Like a Haunted House, e a performance do batera Jon Theodore, que após quatro anos, sente-se nitidamente confortável com seu posto. Já a arte/conceito do álbum ficou por conta do talentosíssimo artista Boneface.
Eu vivi tempo suficiente para ouvir o termo “traidor do stoner”, pois é, isso chegou até o meu ouvido. O que eu não consigo entender, é como você pode trair um legado que você mesmo construiu, mesmo durante anos negando fazer parte daquilo, e se hoje existem diversas bandas abraçando essa vertente a culpa é sua?
Eu vejo que quando uma banda ou artista “se vende”, ela faz aquilo mesmo que a crítica, e principalmente os fãs esperam que ela faça, ao contrário do que muita gente acha que acontece ao rotular alguém de “vendido”. Exemplificando, é o que o Metallica faz desde o Death Magnetic, e o Rancid fez no Trouble Maker. Discos e shows extremamente seguros, para que ninguém fale mal, e elogie “a volta às raízes”, e que fique claro, não faz com que sejam ruins, mas apenas desinteressantes pela falta de risco imposto no processo criativo. Eu não quero ouvir um novo Rated R, eu quero dar play e ser surpreendido pelo inesperado.
Ver uma banda arriscando como o QOTSA fez em Villains, o Red Hot Chili Peppers em The Getaway, e o que aparentemente o Foo Fighters irá fazer em Concrete & Gold, é um grande suspiro artístico, e deixa claro que ainda existem bandas, que por mais bem-sucedidas que sejam, não estão interessadas em apenas agradar fãs, e sim em criar algo novo, arriscar e talvez moldar um novo padrão.