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Conversando com o fiscal de renda sobre poesia: Billy Bragg, O Trovador

RICARDO AMARAL

A Europa sempre produziu cantantes absolutamente desligados da tendência pop ou econômica, como se prestassem um compromisso poético e musical apenas com suas crenças e pensamentos.

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Em 1987, durante minha permanência em Londres, entre uma pizza e outra em Covent Garden, ouvi algo que se parecia muito com Bob Dylan, mas com um incrível sotaque cocknie e com uma pegada folk-punk.
O som vinha de uma loja de discos (extinta hoje!!) e já sai dela com o disco do sujeito com este título: Talking with the taxman about poetry. Sensacional! Billy Bragg é um trovador inglês, um roqueiro alternativo, cujo único compromisso é com ele mesmo.

Eu sei… Não é som para toda vida, mas para o resto da minha vida…

Com requintes de crueldade, doses de preconceitos cirúrgicas, sarcasmos a cântaros, Billy Bragg é imperdível. Você só precisa se dar ao trabalho de entender a letra.

O disco abre com Greetings to the New Brunette, uma canção incrível, cujo refrão me marcou para sempre, pois retrata, com precisão, o que foram os anos 1980 para mim.

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“Politics and pregnancy
Are debated as we empty our glasses
How I Love those everning classes…”

The Marriage é fantástica. Uma canção insólita, com introdução de marcha ligeira britânica no início, virando reggae no decorrer.

Billy Bragg destrói os sonhos de sua “amada”, colocando o casamento como algo burguês e piegas. E provoca a namorada ao desafiar: “I Dare You to Wear White”, provavelmente provocando a moça com a pureza exigida pela igrela para o uso do branco.

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Ideology podia ter sido escrita ontem. Em qualquer subúrbio de São Paulo ou Rio de Janeiro. A letra é tão politicamente crítica ao sistema capitalista, que não se resume apenas na imensa diferença entre as classes sociais na Inglaterra, mas em todos os lugares. 

É uma descrição de como são os políticos ontem, hoje e sempre. Como os apertos de mãos entre inimigos de partido; a declaração só dos bens que podem comprovar dos políticos e o desvio dos tributos comandam máxima no que chamamos “hoje” de democracia.

Levi Stubbs Tears é uma celebração a veneração de Billy Bragg pelo “Four Tops” grupo de doo whop americano, cujo vocalista Levi Stubbs sofreu anos de violência doméstica e abandono por seus pais.

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There is Power in a Union é a música “Trabalhista”, ou melhor, anti-conservadorista de Bragg. Nela, com exagero típico, ele convoca os trabalhadores a unirem-se em sindicatos, onde o “Poder” ou melhor, a “Força”, é muito maior. É… lá deu certo!

Help Save The Youth of America é hilária!!! Ou melhor, tragi-cômica! Dificilmente você vê um inglês expor, com tanta facilidade, o quão ridículo eles acham são os americanos. “Deus ajudem a salvar os jovens da América. Deus os ajude a salvarem-se de si mesmos”.

Quando voltei a ouvir Billy Bragg, por acaso dia desses, entendi que trovadores e menestreis são como profetas. Andam por ai sem nenhuma pretensão de serem entendidos, mas pouco se importam com isso.
Um dia, vão entendê-los e, no caso de Bragg, ouvi-los.

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