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Depressão e a Música

Hoje peço licença para abordar um assunto que embora seja muito pessoal, creio que não seja exclusivo para mim, e sim a milhares e milhares de pessoas ao redor do mundo. Hoje abordo pela primeira vez de forma pública sobre um dos meus maiores inimigos e de 350 milhões de pessoas ao redor do mundo segundo a OMS (dados mais recentes de 2012): a depressão.

“Tá, mas o que isso tem a ver com música? E o que eu tenho a ver com isso?”, é o que você deve estar imaginando, mas saiba você que a música salvou e salva muitas vidas desse grande monstro.

Meu primeiro quadro de depressão surgiu na minha adolescência, não lembro em qual idade ao certo, mas para mim foi terrível. Meu pai, com quem morava na época não entendia muito bem, e tratava como “frescura” ou “indisposição” da minha parte, porém, nem ele e nem eu encarávamos de fato o que estava acontecendo comigo. Comecei a perceber mesmo quando perdi cabelo e peso de forma muito rápida, e cheguei aos 63kg medindo 1,83m. Mal saía de casa, ou do quarto, e durante esse tempo, quando percebi como estava, resolvi buscar uma saída.

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Meus amigos não moravam perto, e meu caminho mais curto para sair daquilo foi através dos discos do Nirvana que eu tinha ganhando quando era criança. Nunca tinha dado muita importância para a banda, apesar de terem me entupido de discos deles, porém, ao me aprofundar de como a vida de Kurt Cobain tinha sido e como ela acabou, tudo aquilo serviu como um grande aviso do que poderia acontecer comigo mesmo se eu não me cuidasse.

Kurt Cobain foi diagnosticado com TDA (Transtorno de Déficit de Atenção) aos 8 anos, tomou Ritalina até os 12, e aos 20 foi diagnosticado com Transtorno Bipolar. Talvez o consumo em excesso de drogas, decepções amorosas e musicais fizessem com que tudo aquilo tivesse acontecido com ele.

Um outro exemplo que tomei, foi uma banda que acompanhei por mais tempo. É a banda que também tenho mais escutado ultimamente, o Red Hot Chili Peppers. Eles sempre estiveram lá quando ninguém podia estar, verdadeiros amigos imaginários, me dando conforto e motivação para fazer muita coisa.

“Mas como? Eles são tão alegres, pra cima e palhaços”. Sim, o Chili Peppers é de fato tudo isso, e eles exalam alegria, porém, Anthony Kiedis se expressa de uma maneira tão sincera em sua alegria que faça com que isso seja triste.

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Para entender isso, talvez você tenha que estar triste, para aí sim compreender a sinceridade e aí sim atingir a alegria. Quando eles falam que “foram para o outro lado”, como em Otherside, você sente que eles foram para o outro lado. Quando eles falam que “tem cicatrizes”, como em Scar Tissues, você sabe que aqueles desgraçados tem cicatrizes.

A música nacional também me deu grandes armas para essa guerra. Músicas como Se Tu Lutas, Tu Conquistas, do SNJ, A Vida é Desafio, do Racionais Mc’s, foram um verdadeiro alento pra eu me manter em sã consciência.

Porém, de Santos, o Charlie Brown Jr. é com certeza o meu maior exemplo disso tudo. De uma forma geral, a banda me influenciou de uma maneira muito grande, em especial o Chorão. Me via muito no Alexandre por nossa história ser muito parecida. Filhos de pais separados, adoramos falar palavrão, sinceridade em excesso, vivem sem um tostão no bolso e para acabar de foder tudo, a mulher que a gente ta afim não tá nem aí para gente. EU ERA O CHORÃO e me via naquele cara.

Eu não assistia MTV por um bom tempo, porém, em 6 de março de 2013 resolvi ver o que estava passando. Estava desempregado na época, de saco cheio de fazer qualquer coisa, só queria ver um clipe ou qualquer coisa que estivesse passando ali, porém, ao ligar me deparei com a notícia, o Marginal Alado havia finalmente ganhado asas.

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O mais estranho é que no mesmo dia, comecei a ouvir toda a obra da banda novamente, e músicas que eu nunca havia entendido me atingiram como um caminhão por seu significado, um verdadeiro momento de epifania. Quinta-Feira virou um verdadeiro “grito de dor de um homem que falava a verdade, mas ninguém se importava”, e no final das contas, você infelizmente percebe que “parecia inofensiva, mas te dominou”.

Mais uma vez tomava tudo isso como exemplo, e que naquele momento, o que realmente precisava era saber que “o bom é que não se pode entender, se perder e se achar pra poder se entender. Tem que saber chegar, tem que esperar sua vez. Não deixe o mar te engolir.”

Eu vejo um monte de gente falar: “Ah, venci a depressão.” Não sou especialista, psiquiatra e nem quero ser, mas acredito que a depressão não seja um estágio, e sim uma condição que vai e volta, com ou sem razão. Acredito que a depressão pode ser combatida, do após dia e com absoluta certeza, sozinho a gente não consegue fazer isso.

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Por isso, meu conselho é: não se entupa de remédios controlados ou qualquer coisa que irá fazer com que isso tudo piore. Se entupa de discos, pesquise sobre músicos que tiveram ou tem depressão e como eles usam a música como sua ferramenta mais eficaz no combate à essa terrível doença.

Por fim, principalmente, se entupa de amor. Procure seus familiares, seus amigos, esposa, marido, namorada ou namorado, converse à respeito, se abra com todos eles, se caso não ache o devido apoio, procure outra pessoa, alguém sempre esticar a mão pra você e irá te ajudar, mas não sofra sozinho.

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