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Disorder - Caio Felipe

Disorder #8 – A Cantora Punk

Kathleen Hanna é uma das feministas mais conhecidas da década de 1990, cantora na banda de punk rock Bikini Kill, tendo feito parte do Le Tigre e The Julie Ruin também.

O Bikini Kill ia além de uma banda que gritava sobre ódio contra governo ou sistema. Ela tinha um foco mais especifico, contra o machismo, sexismo e patriarcado, abordou isso de uma forma talvez não muito explorada anteriormente.

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“Eu sou seu pior pesadelo que veio à vida. Eu sou a garota que não consegue calar a boca. Você não é um cara grande o suficiente para lidar com essa boca. Eu vou dizer a todos o que você fez pra mim.”

Kathleen nasceu em 1968 em Portland, Oregon, e assim como muitos jovens daquela geração, seus pais se divorciaram. Logo depois de terminar a escola no final dos anos 1980, ela se mudou para Olympia, onde trabalhou um tempo como stripper para se sustentar e começou a se envolver com um pessoal mais artístico. Era uma cidade com um senso de comunidade entre os jovens. Lá começou a fazer “spoken word”, intervenções e, junto com amigas, abriram uma galeria de arte onde poderiam expor seus trabalhos sobre sexismo, machismo, temas em trabalhos que eram proibidos na escola de fotografia que ela frequentava.

“Descobri Kathy Acker, a escritora norte-americana, e fui para este workshop que ela fez, e ela me disse: ‘Por que você quer escrever?’ E eu disse, ‘porque ninguém nunca me escutou toda a minha vida, e eu tenho tudo isso que eu quero dizer.’ E ela disse: ‘então, por que você esta fazendo spoken word? Você deveria estar em uma banda, porque ninguém vai para ver spoken word, mas as pessoas vão para ver bandas.’ Então, fui para casa e comecei uma banda.”

Revolution Grrrl Style Now foi o primeiro lançamento do Bikini Kill. Gravado e lançado independente em 1991 no formato k7

Se a ideia do Bikini Kill era trazer as garotas à frente e dar voz à elas, quando se é mulher e se é intimidada a sempre ficar atrás (enquanto os garotos ficam a frente) é necessário alguém que inspire a revolução que outras garotas tinham dentro de si, alguém que ajude elas a botar isso para fora, a ver que elas não estão erradas e que não devem se calar. Kathleen fez isso sendo co-fundadora do movimento feminista riot grrrl.

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Musicalmente, as mulheres sempre foram “representadas” em sua maioria como objetos em clipes musicais (principalmente daquela farofada que atingiu o rock nos anos 1980). E na maioria das vezes, quando elas ocupavam uma posição no palco, os comentários eram do tipo: “você conhece a banda x? A vocalista é uma gostosa”.

“Foi um momento emocionante para um monte de mulheres jovens, especialmente. Ela estava falando para as mulheres e querendo se conectar com as mulheres. E é por isso que eu acho que a intervenção do Bikini Kill era realmente necessária.” – Ann Powers

O movimento riot grrrl foi criado dentro do punk rock, acredito que não havia outro “estilo” que abraçaria melhor o conceito. Metal? Pouco provável. Hard Rock? Dificilmente. Mas o punk rock (por mais que infelizmente tenha seus defeitos) era o único caminho viável. E aquela virada de século de 1980 para 1990 foi o gancho importante para ser criado essa cena feminista.

As “velhas” bandas não davam mais tanto as cartas e a industria da música estava sendo tomada pelas bandas de rock alternativo. A revolução estava acontecendo e ela estava vindo do underground. Todo o papo de “girls to the front” foi importante para as garotas fazerem realmente parte de shows no qual a maioria das vezes era entupido de caras se esmurrando na frente e elas tinham que ficar no fundo assistindo quietas.

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“Fisicamente não era o espaço para as mulheres jovens estarem seguras nesses shows. E isso foi uma grande parte do que Kathleen fez, foi dizer que é inaceitável.”

Os homens podem estar na sala, mas eles não podem dominar ela.

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Do último disco do Bikini Kill – Reject All American (1996)

Kathleen recebia cartas de caras dizendo que ela “deveria morrer”, enfrentou uma mídia sexista e cruel como já sabemos, jornalistas que não entendiam nada sobre o que ela estava falando, distorciam as coisas a procura de uma manchete que vendesse. Com o tempo ela foi se afastando dos holofotes e ficando mais reclusa. Foi nessa fase lá para 1997 que ela criou e gravou o projeto Julie Ruin.

“Eu fiz um disco chamado Julie Ruin, que era um álbum solo, e eu fiz isso meio que para escapar do que tinha acontecido comigo. E assim eu fiz com um nome falso. No Bikini Kill, eu estava cantando para um macho imbecil indescritível que era parte do mundo e permiti outras mulheres me verem fazendo isso. E ai eu queria realmente começar a cantar diretamente para outras mulheres”

Influenciada por esse trabalho eletrônico, logo após ela criou, junto com Johanna, o Le Tigre, que tinha um apelo mais pop, mas não era tão inofensivo quanto o pop convencional.

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“Éramos como uma banda do partido feminista. Toda a nossa ética era sobre como fazer algo que tinha politicamente conteúdo radical que você pudesse dançar”

Depois de todo sucesso do Le Tigre, Kathleen infelizmente teve que se afastar do mundo da música. Por um bom tempo ela não sabia o que tinha até ser diagnosticada em 2010 com doença de Lyme no estágio final. Quando você de alguma forma, seja através da música, ajuda pessoas por ai, elas não esperam que você precise de ajuda e as pessoas começaram a questionar por que Kathleen Hanna havia as abandonado?!

Em 2013, saiu o documentário The Punk Singer (Sini Anderson) que conta toda história dela e explica um pouco do motivo do afastamento dela devido à doença.

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E no mesmo ano ela voltou com o The Julie Ruin:

Kathleen e o Bikini Kill, junto com outras, abriram um caminho para debates, encorajou garotas a serem elas mesmas, buscarem seus direitos e deu voz à elas. Hoje, Kathleen lança discos e excursiona por ai com o The Julie Ruin.

Num país politicamente esquisito como o nosso Brasil, no qual o governo não possui efetivamente nenhuma representante feminina em seus ministérios (fora sua legitimidade completamente questionável), onde as mulheres vão encontrar sua representatividade? É nas ruas que a luta continua e que mulheres como Kathleen Hanna se fazem muito inspiradoras para essa nova geração.

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