RICARDO AMARAL
Ao eclodir a Segunda Grande Guerra, nos anos de 1930, o som da América era o swing, ditado pelas Big Bands, como Tomy Dorsey, Glenn Miller e Duke Ellington. Com o envio das tropas à Europa, em 1942, as bandas foram enviadas para o entretenimento dos soldados e os EUA passaram a recepcionar os grupos vocais de swing, grande parte deles composto por mulheres.
O exemplo mais agudo foram as Andrew’s Sisters, cujo repertório era todo ele composto por canções ufanistas de apoio ao envolvimento americano no conflito mundial.
As irmãs Andrews possuíam um naipe de vocais de uma oitava, numa terça e uma quinta, gerando um som inconfundível. A ausência dos instrumentos de metal levou os acompanhamentos à guitarra elétrica (recém-nascida pelo gênio de Fender), o contrabaixo de pau tocado com os dedos, na marcação, e a bateria com caixa, bumbo, tambor e um tom-tom.
Com o fim da guerra, uma geração de jovens influenciada pelo gênero vocal nasceu nas periferias afrodescendentes, cuja única forma de criar uma harmonia era através da vocalização. Nascia o Doo Whop o avô do rock and roll.
Pittsburgh, considerada berço do estilo, lançava o grupo de brancos The Skyliners, cuja composição Since I don’t have you chegou ao status de “mais regravada da América”, até o advento de Yesterday, dos Beatles.
A mistura entre o swing e o rythm and blues deu origem ao que se chamou à época de “vocal group harmony”. A designação de Doo Whop não é contemporânea ao estilo. Nasceu em 1961, em matéria de jornal do “Chicago Defender”, que menciona a marca vocal a partir da feita pelo grupo The Turbans, em When you Dance.
No ano de 1956, o Doo Whop vira febre juvenil, lançando grupos todas as semanas e alcançando todas as primeiras 20 colocações da Billboard.
A primeira a chegar no topo das paradas foi Why do fools fall in love, do incrível Frankie Lymon and the Teenagers, um grupo formado por garotos negros, cujo vocalista Lymon tinha apenas 14 anos de idade.
Entre 1955 até 1959, a canção cuja marca se tornou mais relevantes foi Sha-boom, cujo sucesso do “The Chords” se manteve por seis meses em primeiro lugar.
Outro destaque de sucesso internacional é creditado ao The Platters, com canções icônicas como Blue Moon e Smoke gets in yours eyes.
“Os primeiros passos para o rock and roll, já sob a influência dos Commets de Bill Halley, chegou com Dion and the Belmonts, I wonder why e The Wanderer, esta última recriada na Jovem Guarda por Roberto Carlos sob a alcunha de Lobo mau. Dion foi uma espécie de epidemia nacional para os jovens brancos.
No mesmo ano de 1959, os Drifters lançavam Save the last dance for me e Under the boardwalk, tornando o grupo o favorito dos negros. Under the boardwalk teve cover dos Rolling Stones.
O Doo Whop é a trilha sonora obrigatória de todos os filmes que retratam a “Era de ouro” da sociedade americana.
Para mim, escutar Doo Whop é transferir-se no Delorian para 1956 e viver a festa “Enchantment under the sea” e se emocionar com Marty McFly entoando a maravilhosa Earth Angel, clássico do gênero, gravado por The Penguins.
Certamente eu devo ter morrido ainda jovem em 1959 e reencarnado, de teimoso que sou, em 1964, porque vivo cada canção como se fora parte de minha história.