A jornada do rock apresenta grandes momentos isolados. Incontáveis são as bandas e os artistas que limitam-se a gravação de um único disco capaz de movimentar multidões e, por muitas variáveis, não podem (ou não querem) dar o seguimento esperado a isso. O Sex Pistols é um exemplo direto e reto. Algumas delas, por outro lado, não conseguem necessariamente influenciar uma geração, mas têm o mérito de atrair uma legião de seguidores que cultuam a sua obra única fielmente, mesmo depois de muitos anos após seu lançamento. Esse é o caso de Dreamin’ Wild, o solitário e esquecido na carreira dos irmãos Donnie e Joe Emerson.
Era 1978 quando os ainda adolescentes Donnie e Joe lutavam pra manter o sonho de lançar um disco. Segundo o caçula, Joe, as possibilidades de participar de uma grande cena ou de ir à concertos eram quase impossíveis, visto que a cidade de Fruitland, em Washington, onde moravam, tinha apenas 751 habitantes e ficava muito afastada dos grandes centros. Sendo assim, o sonho da música sempre pareceu um pouco distante para os Emerson.
As chances começaram a clarear mesmo quando o pai deles fechou um acordo com uma rádio local e, no mesmo ano, investiu $100,000 na criação de um home stúdio (valor que na época não era coisa tão absurda assim). Na ocasião, gravar em casa era uma opção muito mais viável do que gastar dinheiro subindo pra grandes metrópoles. Dessa forma, a dupla se viu livre para depositar todas as suas influências clássicas em um LP, nascendo, assim, um dos discos esquecidos mais apaixonantes da década de 1970. Segue um breve faixa a faixa nos próximos parágrafos.
A música de abertura faz jus à seu nome. Good Time é uma das faixas que cativam pela sua honestidade e resgate aos ideais sonoros do rock dos anos 1950, com riffs simples e até mesmo inocentes em determinado ponto. Transmite uma certa serenidade e nos remete, também, a lampejos de surf rock. Give Me The Chance segue a linha, mas de forma menos direta – com tons misteriososs, dignos das melhores baladas de blues do fim dos anos 1960.
A canção seguinte, Baby, tem uma das construções mais pegajosas da história do rock mundial. À medida que a canção aparenta crescer (pois ela segue quase que linear até seu fim) seu refrão é repetido pela quinquagésima vez, e a partir daí é tiro e queda. Uma das faixas mais intimistas do trabalho, dada a forma sexy e sussurrada com que os instrumentos são apresentados. Não muito diferente do cover fiel de Ariel Pink, que revisitou a canção em 2011 para uma nova geração de jovens alternativos.
Feels Like the Sun é uma das mais climáticas do disco, trazendo uma ambientação quase que californiana consigo. Não tem letra, o que torna dela uma perfeita soundtrack para dias de sol, como o próprio nome já diz. Love Is é a balada que todo e qualquer disco dos anos 1970, em teoria, precisa ter pra funcionar por completo. Bem lenta, a canção abaixa um pouco os ânimos do trabalho – que são retomados novamente com a rollingstonica (e excelente) Don’t Go Lovin’ Nobody Else.
Para a penúltima faixa, mais uma balada: Dream Full of Dreams. Levada no piano, a canção lembra os momentos mais introspectivos do Elton John, mas surpreende com uma letra positiva sobre sonhos. My Heart é a canção derradeira, e com seus 7 minutos de duração encerra a obra avassaladoramente, com momentos que relembram o The Velvet Underground de Loaded. Apesar da longa duração, a faixa segue a linha easy listening do resto do trabalho.
O disco não teve grande retorno comercial. Os próprios irmãos – que não entendiam nada de indústria na época – não disponibilizaram mais do que 2.000 cópias para venda. Hoje, com o poder da informação imediata e o fácil acesso à música, o trabalho se tornou um clássico cult, pretendido por diversos colecionadores de LP ao redor do globo. Foi relançado em 2012, aproveitando a visibilidade concedida pela nova geração.