Por Carlota Cafiero

Viciado em punk rock, história geral e café – God bless the genius that invented coffee (Deus abençoe o gênio que inventou o café), postou em sua página no Facebook –, Christopher Joseph Ward, o CJ Ramone, alvo de grande admiração não apenas por parte dos fãs, mas de outros importantes músicos que toparam participar de seu primeiro álbum solo, o independente Reconquista, sem cobrar nada.

É com o repertório inédito e também alguns clássicos dos Ramones que o baixista e vocalista de 48 anos está em turnê pelo Brasil desde 26 de junho, para tocar em 11 cidades, incluindo Santos na agenda. A apresentação na Cidade começa às 20 horas, no Tribal Club. CJ deverá subir ao palco às 21h30.

Integrante da lendária banda nova-iorquina entre 1989 e 1996 (quando a banda acabou), ele toca acompanhado de outros músicos não menos lendários: Steve Soto e Dan Root (guitarristas da banda The Adolescents) e Michael Stamberg na bateria.

Bancado pelos fãs
CJ deve Reconquista aos fãs, que ajudaram a bancar o álbum por meio da plataforma on-line de financiamento coletivo Pledge Music (www.pledgemusic.com).

Gravado em um estúdio em Orange County, na Califórnia, o disco tem participação de grandes músicos como Billy Zoom (da banda X), Jay Bentley (Bad Religion), Dennis Casey (Flogging Molly), Dan Root e Frank Agnew (The Adolescents), Matt Katz (tecladista da Blondie), Marcus Hollar (The Street Dogs), Jonny ‘Too Bags’ Wickerson e Johnny Maures (Social Distortion).

O baixista chegou a ficar preocupado em ter que pagar por todas as participações em seu disco, mas logo descobriu que, para todos aqueles músicos, era uma honra fazer parte de um projeto que se revelaria um tributo aos Ramones.

De fato, Reconquista tem o mesmo DNA dos Ramones, pois várias músicas poderiam ter sido cantadas por Joey – em algumas faixas até parece que CJ emula a voz do amigo – e há uma faixa em especial, Three Angels, que foi feita em homenagem aos ex-parceiros Johnny, Dee Dee (primeiro baixista dos Ramones, a quem CJ substituiu) e Joey, que morreram, respectivamente, em 2004, 2002 e 2001.

“A letra de Three Angels foi bem difícil de escrever, porque não é nada fácil falar sobre sua relação com alguém em apenas alguns versos de canção, mas eu queria prestar um tributo a eles porque são uma grande influência em minha vida. Eles realmente são como três anjos para mim”, disse o baixista em conversa com A Tribuna, por telefone, de um hotel em Goiás, onde tocou na sexta-feira.

Autismo
O músico também contou que o título do álbum é inspirado em um longo período da história espanhola conhecido como Reconquista, que durou de 718 a 1492, quando os povos ibéricos cristãos finalmente expulsaram os invasores árabes de seu território.

“Eu costumo ler montes de livros de história e, enquanto eu gravava o novo disco, estava lendo um livro sobre essa parte da história espanhola. O nome realmente resume o que eu estava tentando dizer com essa nova gravação, que era retomar o meu nome e a minha carreira musical, pois eu fiquei distante por um longo tempo, cuidando da minha família”, disse o músico, que integrou as bandas Los Gusaños e Bad Chopper antes de seguir em carreira solo.

CJ tem três filhos – Liam e Liliana, do primeiro casamento, com Chessea, sobrinha de Marky Ramone, e Mia Dove, com Denise Barton. Em 1999, o mais velho, Liam, foi diagnosticado com autismo, o que levou CJ a falar abertamente sobre o assunto e a participar de campanhas para esclarecimento do autismo. Nesse período, chegou a receber dois convites para integrar o Metallica, mas teve que recusar devido ao tratamento do garoto, que, segundo ele, tem um talento especial para aprender novas línguas.

“Meu filho fala italiano e espanhol. Não sei de quem pegou esse talento, porque eu não tenho”, respondeu ao ser questionado se teria aprendido algumas palavras em português.

Protestos no Brasil
No contato com os fãs no Brasil, o músico diz que vem atualizando-se sobre os protestos no País e que tem incentivado os jovens a postarem vídeos e fotos das manifestações em sua página no Facebook.

“Na imprensa americana fala que são por causa dos 20 centavos (no aumento da passagem do ônibus), mas, no contato com os fãs, eu sei que não se trata só disso. Tenho falado com vários fãs do Brasil através do Facebook e os encorajo a colocar as razões dos protestos em minha página. Várias pessoas colocam vídeos e fotos”, diz.

Sobre algumas fotos publicadas na imprensa brasileira de jovens vestindo camiseta dos Ramones no meio das manifestações, CJ comenta: “That’s good. I like that. That’s the spirit”.

SERVIÇO
CJ Ramone – Hoje, às 20 horas, com abertura da banda ElectricLove (cover do The Cult), na Tribal Club, na Rua Frei Gaspar,6, Centro, Santos. Ingressos: R$ 50,00 (primeiro lote), R$ 60,00 (segundo lote) e R$ 70,00 (na porta com um quilo de alimento não perecível). À venda na Top Shirts (Rua Marcílio Dias, 9, Gonzaga, tel. 3284-3552) e no site www.ticketbrasil.com.br.

(*) Reportagem publicada originalmente no jornal A Tribuna no dia 2 de julho de 2013