VINICIUS HOLANDA
Hoje um disco seminal do rock brasileiro, Fairy Tales, dos santistas do Harry, lançado em 1988, abriu as portas para a música eletrônica no País. O pioneiro Agentss (que daria origem aos grupos como Azul 29, Voluntários da Pátria e Akira S e As Garotas Que Erraram) já havia lançado extended plays no inícios daquela década, mas o grupo liderado por Johnny Hansen – morto na última sexta-feira, após um infarto fulminante – foi mesmo quem sacramentou a cena com um álbum completo. E que álbum.
O tecladista Roberto Verta, que havia entrado na banda um ano antes, é considerado o ‘cérebro eletrônico’ por trás do trabalho, que alternou punk, pós-punk, synthpop, EBM, new beat e experimentalismo.
O músico, hoje radicado na Capital, lembra que a guinada em direção à sonoridade eletrônica foi gradual. “Os sintetizadores foram um recurso estético adicional durante um tempo e acabaram sendo incorporados com maior intensidade quando nosso baterista (Cesar Di Giacomo) saiu da banda momentaneamente”. Isso ocorreu pouco antes do lançamento do segundo álbum, Vessel’s Town, em 1990.
Verta lembra que um jornalista à época os chamou de ‘techno-punk-pós-industrial’. “Apesar de darmos risadas com o termo, no fundo resume de alguma forma os caminhos que a banda trilhou”. Ele não participou do disco Electric Fairy Tales, uma releitura lançada em 2014 do trabalho original sem o uso de elementos eletrônicos, com uma nova formação. Mas dá seu ponto de vista sobre a obra: “Soa como essas canções era tocadas ao vivo no período de 1987 a 1999. Me lembram muito dos ensaios e shows dessa época”.
O tecladista resume a distância entre ambos com uma observação interessante: “O Fairy Tales é como a fotografia de uma época revelada somente três décadas depois”. Seja por qual prisma for observada, será uma imagem que vai durar para sempre.