JÚNIOR BATISTA
Reunindo 14 nomes da cena rap caiçara, a coletânea Da Baixada Santista Hip Hop Vol. 1 será lançado nesta sexta-feira (ouça abaixo), on-line, “pro mundo todo”, nas palavras de Rica Silveira. O artista, fundador do selo independente Da Baixada Record Label, foi quem organizou toda essa galera e promete um produto final que vai agradar e expandir o ritmo.
O músico é paulistano, mas veio morar em Santos há um ano. Pisando na areia, o rapaz percebeu que a cena da Baixada tinha muito potencial. “Tem vários bons artistas por aqui que não são explorados. Então pensei na coletânea como uma forma de dar voz àqueles que não conseguem se destacar”, diz ele.
Para juntar todo mundo, ele começou uma seleção em outubro do ano passado. Já pensando no selo que gostaria de criar, conheceu vários cantores e suas músicas. Durante o período de adaptação à Cidade, ele também trabalhou. “Lancei dois videoclipes e minha música hoje já está tocando na Jovem Pan Santos e na MTV”.
Na bagagem, Rica tem ainda atuação com outros selos na Capital paulista, além de turnês pela Europa e na Argentina.

Um dos artistas que marca presença no álbum é a Banca da Escória, formada pelos amigos Airan, o Turco, 27 anos, e Mojica, 23 anos. Os meninos são de Piracicaba, mas há um ano Airan trocou a montanha pelas praias santistas. “O bom deste trabalho é que centraliza toda a produção local. Tem muito artista bom que não consegue projeção porque falta algo para impulsionar”, conta Airan.
Além disso, o CD ajuda a trazer mais união ao movimento em prol da música hip hop. “Pega aquela galera que faz sempre batalha de MCs e divulga o trabalho deles pra todo mundo. E como é streaming (on-line), o mundo todo vê”.
A dupla se conheceu na faculdade de Jornalismo, e de lá veio a influência para a faixa gravada no álbum, Retalhos Mentais. O contexto geopolítico é o tema central. “Tivemos contato com o assunto na faculdade e resolvemos ler mais. A música fala do conflito na Síria, cita Grécia, o desemprego em Portugal e até os confrontos na Palestina”, detalha Airan.
Os meninos estão aproveitando todo o conhecimento para também dar um up na carreira, já que irão gravar a segunda música este ano. “Até temos algumas coisas já gravadas, mas vamos lançar esta e depois pensar num EP”, continua ele.
Como o amigo Mojica ainda mora em Piracicaba, ficou difícil se reunir. Mas, mesmo distantes, eles continuam compondo.
Falar de política também é o foco da Wufólogos (foto destaque). Apesar de suas letras variadas, Estilo Underground fala da crise política brasileira, situação e fecha com uma mensagem de esperança. “Acredito que as letras podem mudar vidas. De repente, quem ouve é tocado”, diz o rapper Mysthério.
O grupo tem estrada. De 1997, Mysthério é o único membro da primeira formação. Completam Brunão Mente Sagaz, Mano Orelha e SVit.
O nome veio de duas variantes: Wu vem do grupo americano Wu-Tang Clan, formado em 1992, na Cidade de Nova Iorque. Os rappers criaram uma espécie de família. Com selo e rádio próprias, os músicos “apadrinham” grupos que seguem o mesmo estilo que o deles.
Esses grupos, por sua vez, estão espalhados pelo mundo. Aqui no Brasil, o representante oficial é a Wufólogos. “O Vision MC, que trabalha com o Tang Clan, viu uma apresentação nossa em Tatuí (Interior) e nos convidou. Fomos registrados e tudo”, conta Mysthério.
Para compor o nome, foi bem sem querer. “Eu tinha uma revista em casa sobre Ufologia. Nós não sabíamos mais que nome dar e aí, pensei: pô, Wufólogos. A galera curtiu e pegou”.
No ano passado, eles lançaram o CD Somos Poucos Mas Somos Muito Loucos, totalmente autoral. Para este ano, pensam em lançar o segundo, que vai se chamar Família Wufólogos.

Diversidade
São quatro cidades com representantes no álbum: Guarujá, Santos, São Vicente e Itanhaém. A ideia, após o lançamento, é começar a fazer shows em março. Os locais ainda não foram definidos, mas Rica garante que vai tentar fazer ao menos um show em cada cidade participante.
Ao todo, participam: Wufologos, Jotaerre, Banca da Escória, Rica Silveira, Caixa 2, Cres, M.O Manorelha, Ponto de Expressão, D.D.R, Brunão Mente Sagaz, Undegrau, Jay Flow, SemCortesia e New Connection.
Rica ainda destaca a participação do rapper Jotaerre, que está em atividade desde 2013 e é conhecido em Santos por desenvolver as batalhas de rima.
“O meu trabalho, apesar de estar entrando como selo e tudo mais, é importante, mas não é o principal. O trabalho é coletivo, todo mundo participa e dá opinião”, arremata Rica.
