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Hora da tradução: Sultains of Swing, do Dire Straits

RICARDO AMARAL
Essa vai para meu amigo Beto Peralta

A primeira da série Quer vocês queiram ou não, é a hora da tradução. Quem me conhece já sabe, basta começar um som, cuja letra é significativamente importante e… Quer vocês queiram ou não…

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Traduzir músicas já mereceu, por parte das rádios, as piores ofensas à língua inglesa. Em I Should Have Known Better, chatíssima mela cueca de Jim Diamond, uma “radia” caiçara chegou ao cúmulo de traduzir: Ai, ai, ai, ai. Ai, ai, ai, ai… deveria ter sabido melhor! Pára!

Traduzir poesia exige um mínimo de conhecimento do contexto literário a traduzir. A tradução “ao pé da letra” é uma falácia ignóbil que ofende o autor e destrói a canção, embora no exemplo acima não há como piorar aquela música.

Minha ideia aqui é tentar criar uma releitura da poesia, de canções que tratam de cotidiano e usam expressões, ou ideias, intraduzíveis literalmente.

Vejam um exemplo dado em uma palestra que dei há anos na Cultura Inglesa, A Day in The Life, dos Beatles (Why this is not a surprise?) Na parte que divide a canção, de autoria de Paul McCartney, temos:

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Woke up, fell out of bed
Dragged a comb across my head
Found my way downstairs and drank a cup
And looking up I noticed I was late
Found my coat and grabbed my hat
Made the bus in seconds flat
Found my way upstairs and had a smoke
And somebody spoke and I went into a dream

Muito bem, depois de acordar, descer as escadas, o protagonista sobe as escadas, dá uma fumada e viaja. Como assim? Bem, em Londres, ou melhor em toda a Inglaterra, os “double deck buses” tem uma escada para chegar no deck superior, onde a lei permite fumar (ou permitia em 1967). Fez sentido? Lógico! Ah sim, ninguém fuma um Marlboro e viaja, certo?

Estava terminando O dia em que a música morreu quando recebo um whats do meu cunhado Beto, que acabara de patrocinar a tradução de Sultains of Swing para a Vera na carona diária ao trabalho. Ele me pedia: “Faz uma na tua coluna. Essa música merece!”

Sem dúvida. Sultains of Swing, dentre várias, é uma obra de arte, tanto no som como na letra, que trata do lado urbano inglês de fazer e ouvir som: pelas calçadas, parque e tube stations.

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Assim, uma vez por mês, Sons pra Toda Vida fará uma tradução, quer você queira ou não.

De Dire Straits, ano 1978, SULTAINS OF SWING!
You get a shiver in the dark
It’s raining in the park, but meantime
South of the river you stop and you hold everything
A band is blowin’ dixie double four time
You feel alright when you hear that music ring

O escuro dá um arrepio
Chove no parque, mas ao mesmo tempo
Ao sul do rio, você dá uma paradinha e saca tudo
Uma banda tá tocando dixie, quatro por quatro
E dá uma sensação boa quando se ouve esse som pegando

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And now you step inside, but you don’t see too many faces
Comin’ in out of the rain, you hear the jazz go down
Competition in other places
Oh, but the horns, they blowin that sound
Way on down south, way on down South London town

Dai você entra na onda, mas não vê muitos rostos
Entrando e saindo da chuva, vc escuta um jazz rolando
Competição em outros lugares
Mas os metais, que sopram aquele som
Lá pro sul, lá pro sul da cidade de Londres.

You check out guitar, George
He knows all the chords
Mind he’s strictly rhythm
He doesn’t wanna make it cry or sing
Yes, and an old guitar is all he can afford
When he gets up under the lights to play his thing

Você repara na guitarra, George
Ele manja todos os acordes
Segura nos acordes de base
Ele não tá ali pra fazer ninguém chorar ou cantar
É, uma velha guitarra foi tudo que ele pode comprar
Quando ele está sob as luzes pra tocar seu som.

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And Harry doesn’t mind if he doesn’t make the scene
He’s got a daytime job, he’s doin’ alright
He can play the “Honk Tonk” like anything
Savin’ it up for friday night
With the “Sultans”
With the “Sultans of Swing”

E Harry nem se importa se não rouba a cena
Ele tem um trampo de dia e tá se dando bem
Ele toca um Honk Tonk como se fosse qualquer coisa
Economizando tudo pra sexta noite
Com os Sultões do swing

And a crowd of young boys, they’re fooling around in the corner
Drunk and dressed in their best brown baggies and their platform soles
They don’t give a damn about any trumpet playing band
It ain’t what they call rock and roll
And the “Sultans”
Yeah, the ‘Sultans’ played Creole, Creole

Uma garotada zoando na esquina
Bebendo e trajando suas melhores calças boca larga e sapatos de plataforma.
Não tão nem ai pruma banda que usa trompete
Não é exatamente o que eles chamam de Rock and roll
Simm, os Sultões tocam é creole (espécie de blues de New Orleans)

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And then the man, he steps right up to the microphone
And says, “At last”, just as the time bell rings
“Goodnight, now it’s time to go home”
And he makes it fast with one more thing
We are the “Sultans”, we are the “Sultans of Swing”

E aquele cara de pé diante do microfone
E ele diz: Enfim, bem na hora que o sino toca (nos pubs ingleses, o sino anuncia a hora de fechar (closing time) e o momento de pedir a última rodada)
“Boa noite. Agora é hora de ir pra casa”!
E ele rapidamente anuncia uma coisa a mais:
“Nós somos os SULTÕES, OS SULTÕES DO SWING!

E assim, a canção passa a significar muito mais do que já é, com um dos maiores solos de guitarra da época, pelos dedos frenéticos de Mark Knopfler.

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