Lançamento em Santos nesta sexta-feira: Baterista do Rush supera luto sobre duas rodas e conta em livro

Por Carlota Cafiero

Imagine seu mundo desabar duas vezes, uma seguida da outra. Foi assim com o baterista da lendária banda Rush, Neil Peart, quando, em 1997, perdeu a única filha, Selena, de 19 anos, em um acidente de carro, e a mulher, Jackie, menos de um ano depois, de câncer.

O que ele fez? Pegou a estrada com sua motocicleta e rodou 90 mil quilômetros em 14 meses. Como um fantasma e sem destino certo, ele iniciou sua jornada pela assimilação das perdas e superação do luto começando por Quebec, no Canadá, até o Alasca, e depois descendo a costa americana para cruzar o México.

Peart transformou a experiência no livro Ghost Rider – A Estrada da Cura, publicado originalmente em 2002, e pela primeira vez no Brasil agora, pela Editora Belas Letras,
com tradução de Candice Soldatelli.

Trata-se de um relato épico de 513 páginas, que está sendo “enfrentado” pelos jornalistas Lucas Krempel A Tribuna e do Blog’n’roll e Sérgio Martins (revista Veja), pelo produtor musical Chico Marques (blog Alto e Claro) e o produtor cultural Eugênio Martins Júnior.

A convite da Editora Belas Letras, o quarteto se encontrará nesta sexta-feira, às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som de Santos (MISS), para um bate-papo sobre o livro, que custa R$ 39,90.

“Peart é considerado um dos melhores bateristas da história e Ghost Rider é a chance dos fãs saberem como o ídolo superou a adversidade em seu pior momento”, comenta Lucas.

Eleito o melhor baterista do mundo pela conceituada revista Rolling Stone, Peart sempre foi um cara metódico e reservado, que não costuma ser visto em coletivas de imprensa com sua banda – essa tarefa é cumprida pelo vocalista, baixista e tecladista Geddy Lee e pelo guitarrista Alex Lifeson.

“Comecei a pensar sobre como iria enfrentar mais uma turnê de rock, que sempre havia encarado como uma combinação de tédio esmagador, exaustão constante e insanidade em torno do circo montado – nada que combinasse com meu temperamento reservado, independente e impaciente”, escreveu o baterista em seu livro, ao lembrar dos planos para a turnê de lançamento do álbum Test For Echo, de 1996, que incluiria 67 shows nos Estados Unidos e Canadá.

Um cara sensível
Misturando relatos sobre vida pessoal e compromissos com a banda, o livro deverá agradar em cheio aos fãs do Rush – que em julho completa 40 anos de estrada – e a quem curte biografias, histórias de viagem e superação.

Mas não espere uma autobiografia típica de um músico de rock, com descrições de loucuras e envolvimento com mulheres, drogas e crises criativas. Peart está mais interessado em falar sobre sua relação com a estrada, a solidão e a natureza.

“Os pássaros me atraíam desde a infância, quando eu consultava as pequenas ilustrações num livro da minha avó e tentava identificar as espécies que via voando pelos arredores da cidade onde eu vivi e pelas florestas do sul de Ontário. Era um tipo de entusiasmo juvenil que permaneceu quando atingi a idade adulta. Mesmo nesta jornada desafortunada eu levava comigo um pequeno binóculo e um guia de campo, como sempre costumava fazer em qualquer parte da África, da Europa, da América do Norte ou do México que eu visitava”, descreve o baterista.

Sérgio Martins trabalha há mais de 20 anos com jornalismo cultural e se lembra da dúvida que acometeu o meio da música quando Peart sumiu no mundo. “Acompanhei um pouco desse caso porque, na época em que o músico perdeu a filha e a mulher, o Rush estava lançando uma coletânea de apresentações ao vivo e entrevistei o Geddy Lee. Todo mundo se perguntava sobre o que iria acontecer com o Peart, que praticamente havia sumido, e se a banda iria continuar. Para mim, está sendo interessante conhecer a personalidade dele por meio do livro. Ele não é tão frio quanto eu imaginava”, conta.

Autoajuda
Apesar de não pertencer ao gênero autoajuda, o livro levará muita gente que passou ou está passando por uma perda a pensar em maneiras de superar o sofrimento. “As perdas na vida de Neil Peart fizeram dele um homem mais forte. Ghost Rider é um livro inspirador, quase uma autoajuda. Impossível não se identificar com o baterista do Rush. Quando perdi o meu pai em 2006, vítima de um enfarto fulminante, também fiquei sem chão. Era o meu melhor amigo. Não saí com uma moto por aí, mas passei a fazer algo que sempre tive medo: voar. Viajei para muitos países após a partida dele”, descreve Lucas Krempel.
A Editora Belas Letras prepara também o lançamento do livro anterior de Peart, The Masked Rider O Ciclista Mascarado, que narra as aventuras dele em uma bicicleta, pedalando pela África.

Um bate-papo sobre o livro Ghost Rider – A Estrada da CurA, de Neil Peart, acontece sexta-feira, às 19 horas, no Museu da Imagem e do Som de Santos (MISS) , Av. Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias. Entrada franca. jornada de um sonhador que superou o luto sobre duas rodas. O aguardado livro do baterista do Rush, Neil Peart, será lançado em Santos na sexta-feira, com bate-papo.