No último domingo, a banda brasiliense Móveis Coloniais de Acaju fez um comunicado em seu Facebook e parou meu mundo:
“Olá gente, gostaríamos de comunicar que faremos uma pausa com as/nas atividades do Móveis por tempo indeterminado. Foi bom demais o que construímos com todos. Estamos muito felizes com tudo que conquistamos e a todos que sensibilizamos de alguma forma.
Gratidão eterna a tudo e a todos por esses 18 anos de aprendizado diário e de amor infinito. Estamos preparando uma despedida para encerrar esse ciclo. Foram muitos anos vivendo emoções coletivamente. Chegou a hora de nos aventurarmos de outras formas. Mas isso não significa que deixamos de nos amar nem de amar essa troca que temos com vocês. Sabemos que vai bater muita saudade. daqui a pouco, mas precisamos passar por isso.Beijos pra todo mundo e até breve!
Como brasiliense, apaixonada por música, o Móveis foi, desde o princípio, uma das bandas com as quais mais me envolvi. Na época, ainda estava no ensino médio e um amigo que já era da UnB me contou sobre essa banda engraçada, que fazia um som muito doido, com um pouco de samba, um pouco de rock, muito de ska e mais um monte de outros estilos misturados. Gênero inusitado e próprio que levava o nome de Feijoada Búlgara. E a banda era tão numerosa que ele tinha ido a um show em que os caras se vestiram de Branca de Neve e os Sete Anões.
Eu tinha que conhecer aquilo de perto! No primeiro show, virei fã. Era uma explosão de energia!
O som, as letras, o figurino (que na época mudava muito. Teve até um período em que tocavam de smoking), e claro, A RODA DE COPACABANA. As pessoas vinham me perguntar sobre o Móveis e eu só conseguia responder: “Vá ao show e entre na roda da música Copacabana!” Não tinha jeito melhor de conhecê-los.
Se você não conhece a roda, se liga lá no minuto 3:00!
Acompanhar o trabalho do Móveis também me ajudou a entender a cena independente. Os membros da banda eram responsáveis pelas artes, pela barraquinha de produtos oficiais, pela divulgação… o trabalho era autoral de ponta a ponta. Além do envolvimento com o próprio trabalho, a banda também é responsável por boa parte da agitação cultural brasiliense. Promovendo outras bandas novas, abrindo o próprio microfone pro Frango Kaos, técnico do Móveis, para cantar O Padre Baleiro de sua banda, o genial Galinha Preta!
Ahh, e como deixar de fora o Móveis Convida ? O festival, criado pela banda, foi responsável pelos shows mais incríveis que assisti na minha adolescência! Pato Fu, Ludov, Los Hermanos, Paralamas do Sucesso… Teve também um show incrível do Móveis, abrindo para o Nando Reis, na Concha Acústica de Brasília, lá por 2005, pouco antes da minha mudança para o Rio. É muito louco porque todo grande show brasileiro que assisti em Brasília tinha o dedinho do Móveis. Aliás, é dessa época que vem meu hábito de procurar bandas independentes nacionais também.
Os caras se tornaram referência mesmo nesse ramo da produção e gestão cultural mesmo. Promovem palestras e workshops, inclusive. Talvez seja uma das bandas da minha geração que mais movimenta a cena no brasil. Espero que não abandonem esse viés. Fará muita falta…
Já morando no Rio, continuei acompanhando o trabalho deles. Nos shows históricos, tipo o do saudoso Canecão, primeiro andar da Fundição Progresso, no Jóquei Clube e no minúsculo teatro do Oi Futuro de Ipanema (onde tivemos que fazer a roda de Copacabana sobre as cadeiras fixas!) e pela internet, né? Principalmente pelos videoclipes criativos, engraçados e inovadores deles. Tipo quando todo mundo ficou online acompanhando a gravação do clipe de Tempo via twitter para poder ter seu arroba grafitado no vidro na frente dos caras!
É, não foi devagar, mas será eterno!
Por hora, o Esdras Nogueira, saxofonista da banda, lançou o NaBarriguda, disco instrumental feito em parceria com o guitarrista Marcus Moraes, cheio de suingue, com canções autorais e versões de Hamilton de Holanda, Egberto Gismonti e Cartola. Puro fervo!
Sigo aqui, com a minha camisa do Móveis, acompanhando os projetos paralelos dos seus membros e esperando que este não seja mesmo um fim… só um até logo!
Agora chega de nostalgia! Boa sorte, galera! Sigam arrepiando!