Fiquei afastado de shows desde agosto do ano passado por motivos de dinheiro, cansaço, e porque odeio seres humanos, ou não. No último final de semana colei no meu primeiro show em 2016, e não foi um show qualquer, foi a comemoração de 5 anos dos meus amigos do Muff Burn Grace.
Caso você nunca tenha ouvido falar, faço das palavras de Cumpadi Washington as minhas, SABINADA INOCENTCH, mas como sou um rapaz bem empático e entendo que nem todo mundo tem a obrigação de conhecer tudo, o resumo da história é: “Um power trio formado em Sampa cinco anos atrás, pelos amigos André Guimarães, Juninho Bacon e Ricardo Gobar, com o intuito de tocar stoner rock ou qualquer coisa que caiba em um Big Muff e afinações extremamente graves”.
Saí de São Bernardo do Campo rumo à ZL, acompanhado do meu parça Tinho, Quentin Tarantino do ABC Paulista, para gravarmos um especial da banda(que você confere em breve) e obviamente curtirmos o rolê. Depois de tomar um 7×1 básico do GPS, desembarcamos no nosso destino e já fomos muito bem recebidos com muitos quitutes, conversa boa e, claro, o famoso “Mé”.
Após uma jam session entre convidados bem divertida, o MBG se apresentou pra gente, abrindo logo com duas músicas do seu disco novo, que já já sai do forno. O que posso adiantar é que será um disco que carrega muito a identidade do Muff Burn Grace, e que o que me aparenta, é um trampo que os caras sentiram muito tesão em fazer.
Conheço o André há muito tempo, bem antes de existir a banda e de eu ter o Music Wall. Posso falar que nesse tempo que conheço essa peste, nunca vi o cara tão bobo em falar de algo que ele está fazendo. Parecia aquele seu amigo de ensino médio comentando os crush na hora do intervalo.
Tocando, o Muff Burn Grace é sempre um caso à parte. Todos os rolês que compareci onde tinham mais bandas escaladas, o público sempre comentava nos corredores sobre a maneira como o trio se apresenta, de forma enérgica, deixando um chão alagado de suor e colocando geral para dançar, fazer air guitar ou fechar os olhos e balançar a cabeça como se tivesse tomado Ritalina. Um verdadeiro e genuíno show stoner.
Por falar em stoner, um dos papos que iminentemente surgiu nesse rolê foi sobre esse maledeto e encapetado estilo musical. Para ser bem honesto, apesar de gostar muito do estilo, não sou conhecedor profundo. Conheço Kyuss, Queens Of The Stone Age, Fu Manchu e Clutch, e mesmo assim, algumas dessas bandas não são consideradas stoner para alguns. Mas de qualquer forma, sempre considerei tudo isso simplesmente rock.
Se for para lamber e colar um rótulo na embalagem, aí podemos falar um pouco sobre as origens do estilo, começando lá nos remotos anos 1960, com o Blue Cheer, uma banda de San Francisco que trocou mais de integrante do que a Lady Gaga de roupa em um único show.
Passados os anos, surgiram na Inglaterra o Led Zeppelin e o Black Sabbath, que apesar de não serem taxadas como bandas stoner, são responsáveis por serem uma das grandes influências do gênero, por carregar a herança dos riffs psicodélicos, batidas arrastadas e desaceleradas, e efeitos de tudo quanto é tipo.
Efeito é o que realmente o que caracteriza uma banda de stoner rock. Além de ter os pré-requisitos já citados, um dos objetivos principais do gênero é trazer uma experiência mais aproximada de uma viagem de LSD para o público, derivando assim o termo “stoner rock”, ou “rock chapadão”.
O stoner ganhou mesmo notoriedade mainstream graças à dupla Nick Olivieri e Josh Homme, que já havia sido muito comentada no Kyuss, e mais tarde no Queens Of The Stone Age. O Kyuss encerrou suas atividades em 1995, e logo em seguida a dupla montou o QOTSA, que chamou atenção geral no seu segundo disco, o Rated R.
Esse disco era totalmente fora da regra do que você podia tocar no final dos anos 1990. Não era mistura com rap, não era baladinha de amor, não era boy band, não era banda de pop punk fanfarrona, enfim nada disso. A primeira música, Feel Good Hit Of The Summer tinha pouco menos de três notas, uma bateria que se repetia da nauseum e uma letra que continha única e exclusivamente nome de droga de tudo quanto é tipo.
Quando a banda lançou Songs For The Deaf dois anos depois, ninguém podia segurar os caras. Com Dave Grohl na batera, o QOTSA gravou um dos melhores e mais elogiados discos da década passada, e tornou conhecido o termo stoner rock no mundo inteiro.
Esse disco rendeu bons frutos não só para o QOTSA, mas deu luz à filhos no mundo todo, com bandas absorvendo aquilo como influência e porta de entrada para um mundo de muita doideira e experimentalismo.
No Brasil, Goiás foi o Estado precursor do estilo. O Black Drawing Chalks veio de lá. Foi a primeira banda a ganhar uma grande atenção da mídia e público no Brasil. Ainda oriundos do coração do país, podemos citar o Hellbenders, que vem fazendo grande sucesso e o Dry, bem porradeira. Do Rio de Janeiro temos nossos parças do Stone House On Fire, que acabou de lançar um discaço, em Campinas tem o Circus Boy, e mais uma infinidade de bandas que você pode achar na internet mais próxima da sua casa, afinal, lista-las seria injusto.
O stoner rock surgiu como uma grande opção de ir na contramão de tudo que está sendo feito. Seja fazendo oposição ao mais pop e enlatado mainstream ou o mais tradicional, tr00 e conservador underground, o stoner está ali justamente para fazer o papel do estranho do rolê. Sabe aquele cara que quando chega na festa fica todo mundo olhando e ninguém se mistura? Então, ele mesmo. Mas por algum motivo, por sua peculiaridade talvez, esse bicho estranho chame atenção, nem que desperte a curiosidade para dar uma olhada na espreita, o que francamente vale muito.