Como porta de entrada de uma série de textos sobre krautrock na coluna, o Neu! vem com três discos autonomeados: um de 1972, outro de 1973 e mais um de 1975. Foi formado por dois ex-membros do Kraftwerk – Klaus Dinger e Michael Rother – que buscaram, na ocasião, uma sonoridade própria que discernisse de seus trabalhos no antigo grupo.
Ambos os trabalhos lançados pela dupla são instrumentais – com raras exceções em que a voz nebulante dos alemães surge (quase que balbuciadamente). A aura vanguardista que permeia a obra é um quê a ser levantado, dada a originalidade das canções em uma época (1972!) em que os sintetizadores e os sons ambientes mal haviam sido experimentados. Isso acaba levando os dois discos a campos experimentais – o que, com a ajuda da longa duração das faixas, deixa os trabalhos necessitados de um maior compromisso do ouvinte.
Para os fãs de Radiohead, eles citaram Neu! como uma de suas influências para o A Moon Shaped Pool, seu último trabalho. A faixa Ful Stop (com sua introdução tipicamente krautrockiana) é a isca pra quem quer adentrar nesse novo mundo. Para quem se interessa por rock progressivo – embora, pasmem, não seja a mesma coisa – o trabalho dos germânicos também pode ser uma experiência e tanto. As levadas crescentes, o ritmo paciente e a vibe que te faz viajar dentro de cada segundo são algumas das coisas em comum entre os gêneros.
Por outro lado, o virtuosismo aqui não se encontra tão presente: embora longas, as faixas não apresentam grandes viradas ou solos mirabolantes, seguindo uma repetição ambiente (algo que o Brian Eno se inspiraria nos anos seguintes). Isso, talvez, torne dos discos experiências um pouco mais apreciativas e sensitivas do que qualquer outra coisa.
Em tempo, como de praxe, é comum que tais discos rotulados como “ambientes” acabem funcionando em situações… ambientes. Então é normal que, enquanto os discos sejam feitos para uma maior funcionalidade, também caiam bem como plano de fundo pra qualquer coisa. E tanto faz se pega mal falar isso, porque é verdade. Tente passar um aspirador de pó ao som de Hallogallo. Fica muito mais empolgante.
https://youtu.be/4ya4K3GpljI
Eu recomendo que você ouça os três discos inteiros. É sério. Eu fui e não voltei mais já tem duas semanas. Contudo, não pretendo dissecar o assunto por completo hoje – vou deixar isso para o artigo sobre krautrock, que deve sair ainda esse mês. No mais, fica a recomendação. Um excelente final de semana a todos.