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One Hot Minute: a ovelha negra dos Red Hot Chili Peppers

Semana passada falei sobre o Pablo Honey, do Radiohead, e a ideia de comentar sobre discos subestimados me deu um gás pra explorar uma gama enorme de possibilidades do tema. Hoje, seguindo a onda, o tema será o One Hot Minute, a ovelha negra (pra não repetir o já usado patinho feio do texto passado) do Red Hot Chili Peppers.

“Drogas e bissexualidade”, balbuciava um John Frusciante entorpecido, referindo-se aos estereótipos criados acerca dos rockstars na sua adolescência. O ano em questão é 1994. Dois anos antes, o guitarrista deixava de integrar o Red Hot Chili Peppers para seguir uma vida de junkie nas beiradas do mundo. Dave Navarro, do Jane’s Addiction, seria anunciado oficialmente como seu substituto oficial cerca de um ano depois, não demorando para que, junto à banda, lançasse o disco que viria a ser o filho bastardo do Red Hot: One Hot Minute. Além de dividir a opinião da crítica e dos fãs, o álbum trouxe consigo a fase mais “rock n’ roll” e contraditória da banda, marcada, em especial, por um estereótipo que passeia por dois temas conhecidos: drogas e bissexualidade.

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Com uma proposta bem diferente do que já havia sido apresentado pelo Red Hot anteriormente, pode ser compreensível que o disco seja o escolhido pelos fãs para o cargo de ovelha negra. Nele, você não encontrará um hit como Under The Bridge, e muito menos as jams que marcaram presença anos de Hillel Slovak. Aqui, a presença de Navarro é o que dá as caras ao álbum, do qual é assolado por uma atmosfera muito mais sombria do que os antecessores. Para obscurecer ainda mais o cenário, o relacionamento de Anthony Kiedis com a heróina estava cada vez mais íntimo – o que é deixado bem claro nas letras do trabalho. “Minha tendência para a dependência está me ofendendo”, canta no verso que abre o disco, em Warped. A música foi a primeira do disco a ser divulgada, e além de apresentar uma sonoridade bem pesada, chamou mais atenção ainda por causa do clipe, que terminava com um beijaço entre o Anthony Kiedis e o Dave Navarro.

A verdade é que a idolatria por Frusciante e a recusa dos fãs por algo diferente acabou ofuscando bastante o trabalho, que é muito subestimado. Apesar do desprezo que esses fãs – e a própria banda – criaram acerca de tudo feito nesse período, o disco tem bons momentos, e contém canções que ganham de lavada de qualquer coisa feita pós-2003 pelos californianos. Aeroplane, que teve leve repercussão nas rádios, é um hit daqueles que a banda, há tempos, não consegue fazer. My Friends é uma das mais bonitas composições de Kiedis, enquanto Walkabout é a maior definição de música “gostosa” possível. A faixa-título, por sua vez é, sozinha, melhor do que o The Getaway inteiro.

Como quase tudo naquela época, o disco também entrou no passeio do grunge. Coffee Shop, talvez a faixa mais pesada, até exagera na fórmula pra soar como as bandas de Seattle, mas não consegue o efeito desejado. Entretanto, não seria justo dizer que o movimento foi desonrado, visto que poucas faixas depois encontra-se um belo tributo ao seu principal influenciador. Tearjerker, homenagem de Kiedis ao falecido Kurt Cobain, apresenta um dos momentos mais densos do disco, na forma de uma balada bem Jane’s Addiction, mas com a explosão vocal característica de Kiedis no refrão. Pode-se citar, ainda nesse tema, One Big Mob, que remete bastante ao Red Hot dos anos 80, mas com a acidez de Navarro e a ambientação grunge que permeava a primeira metade dos anos 90.

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Com as críticas ruins chegando por todos os lados, em pouco tempo Dave Navarro já estava no olho da rua. Antes de ir, afirmou que a banda só daria certo se John Frusciante voltasse ao seu antigo posto. E ele não estava errado. Um ano depois, Frusciante, recuperado das drogas, retornaria à banda e a levaria ao mainstream novamente, com Californication. As músicas de One Hot Minute, no entanto, nunca mais foram tocadas. “Não toco essas coisas Heavy Metal que o Navarro fez”, disse o guitarrista, pouco tempo após seu retorno. Hoje, com Josh Klinghoffer, seria interessante revisitar essa parte coberta do passado dos Peppers nos shows. Seria, no mínimo, mais empolgante do que ter de ouvir o solo de Dark Necessities.

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