O tema de hoje da Ruídos percorrerá as ruas frias de Leeds, na Inglaterra. O alvo é um fruto shoegaze e, olha… é sempre interessante falar sobre shoegaze. O fato de ser um dos movimentos mais autênticos e menos comentados fora do círculo underground sempre me deu um certo comichão. Não foi à toa que meu primeiro texto por aqui falava sobre Chapterhouse e outras bandas do gênero. O nome da vez é o Pale Saints.
Não faz muito tempo que os descobri. Nessas idas e vindas da tal pesquisa musical, acabei encontrando a banda por acaso, em uma playlist do Spotify – os mais conservadores que me perdoem. Não encontrei nada sobre o grupo em português, portanto achei que seria interessante trazer essa exclusividade para o Blog N’ Roll.
O grupo – formado por Ian Masters, Chris Cooper e Colleen Browne – nasceu na 4AD, um dos maiores selos britânicos de música alternativa. A influência do Cocteau Twins – que também batia cartão na gravadora – era um dos lampejos sonoros que faziam da banda uma das crias do dream pop. O auge, no entanto, veio com a explosão do shoegaze na terra da rainha. E da pra colocá-los como uma explosão modesta nesse contexto, se quisermos.
Os grandes momentos da banda podem ser encontrados em três EP’s: Barging In The Presence Of God (1989), Half-Life (1990) e Flesh Baloon (1991). Todos eles têm um viés denso, com músicas mergulhantes. As canções intercalam-se entre baladas dream pop e momentos experimentais/instrumentais, que servem tanto para background sound quanto para uma maior análise – o que não é, necessáriamente, uma dualidade ruim.
Kinky Love (uma releitura da canção de Nancy Sinatra), é o principal hit do grupo, e apresenta o ápice do etéreo. O uso do delay é usado no baixo como se ele fosse uma guitarra, e adiciona tons aquáticos para a construção da mesma. É a única faixa cantada em todo o EP, mas merece destaque pelo seu potencial radiofônico em meio a vários minutos de sons esquisitos e, por vezes, ininteligíveis.
A adesão aos conceitos sonoros dos anos 1990, no entanto, fica evidente em uma coletânea de singles. Embora traga consigo uma faixa dos extended plays, Mrs. Dolphin apresenta uma atmosfera bem diferente da habitual. A nova roupagem – com tons dissonantes, guitarras distorcidas e vocalizações flutuantes – não conversa tanto com o dream pop conduzido nos trabalhos apresentados anteriormente, e soa como uma sinopse daquilo que o cenário alternativo vinha apresentando com a chegada do grunge e do shoegaze.
Àquela altura do contexto histórico musical, a sutileza melancólica e oitentista de bandas como The Cure começavam a abrir espaço para os sons do Sonic Youth, do Nirvana e do My Bloody Valentine. Isso influenciou a sonoridade da banda, que antes era equiparada a Galaxie 500 e agora passava a figurar ao lado de nomes como Ride e Lush (de sonoridade suja e heterogênea, simultaneamente). O destaque, nesse novo cenário, fica por conta de Throwing Back The Apple, Ordeal e Sight Of You, faixas que captam tanto a agressividade garageira presente nas rádios underground quanto a brandura e suavidade do início.
Obs: grupo encerrou suas atividades em 1996, o que o torna praticamente uma exclusividade noventista. Só pra deixar um pouco mais místico. Bom fim de semana!