Ouvir álbuns grandes e conceituais é sempre ótimo. Não tem como negar que ficar duas horas prestando atenção em solos intermináveis, discursos e histórias pode ser um passatempo incrível. O problema é que, às vezes, só queremos uma trilha sonora para aqueles momentos de tempo preciso, como quando estamos no chuveiro. É aí que entram aqueles EP’s curtinhos, que se encaixam perfeitamente em qualquer intervalo do nosso dia e nos satisfazem com pouco. Listei alguns dos meus favoritos abaixo (claro, dentro dos padrões da coluna).
Sap – Alice in Chains (1992)
Esse EP poderia ser um divisor de águas na carreira do Alice in Chains. Sua aura calma, sintetizada em belas faixas acústicas, são um contraponto ao seu sucessor (Dirt, 1992), que serve de exemplo como um dos discos mais sujos e pesados da era grunge. O trabalho tem cerca de 20 minutos de duração, e apresenta pouquíssimos momentos de distorção. Uma dica pra quem não gosta, tanto assim, dos momentos tradicionais da banda, que voltaria aos moldes que a consagraram já no próximo álbum.
Half Life – Pale Saints (1990)
Diferente dos outros dois EP’s lançados pela banda (que apostam muito mais numa sonoridade densa e experimental), Half Life traz um sentido mais pé no chão às faixas que o compõe. As canções são mais agitadas, com construções sonoras extremamente acessíveis (perfeitas para o chuveiro), enquanto as guitarras apresentam uma distorção quase que premeditada do shoegaze. Um hino para quem gosta do dream pop descompromissado do fim dos anos 1980. Já escrevi sobre a banda aqui.
Yo La Tengo – From a Motel 6 (1994)
O Yo La Tengo é uma daquelas bandas feitas para ouvir num volume médio. Um som explodindo janelas, talvez, transforme a experiência em algo sem sentido. Suas faixas são sempre muito cadenciadas, e os vocais sussurrados são uma das principais características do grupo. From a Motel 6, lançado bem no comecinho da estrada da banda, é uma sinopse desse sentimento. A leveza com que os instrumentos são conduzidos, mesmo que em momentos mais agitados (como a faixa-título), cria uma atmosfera nebulosa para o trabalho, que soa como uma cria do shoegaze com o indie e o noize.
R.E.M. – Chronic Town (1982)
Esse foi o primeiro trabalho lançado pelo REM, e serviu de modelo para aquilo que a banda lançaria ao decorrer dos anos 1980. São 20 minutos de uma aposta sonora agitada, com influências que passeiam de Patti Smith a Television. Aqui, os característicos arpeggios de guitarra se apresentam pela primeira vez, assim como o vocal inteligível do Michael Stipe – sempre contrastado com os backing vocals do Mike Mills impecáveis. A produção quase que independente do disco é um charme a mais. Os refrões dançantes tornam dele perfeito pra pular e cantar junto enquanto ensaboa a cabeça.
The Breeders – Safari (1992)
Com cerca de apenas 11 minutos de duração, Safari nos apresenta o mundo alternativo de Kim Deal, que precisava de algo além das excentricidades sonoras do The Pixies. O conjunto de canções é uma mistura garageira com bons momentos de folk, além de trazer trejeitos do movimento Riot Grrrl (ainda que de forma discreta). A curto prazo, a crueza dos instrumentos pode soar esquisita – e isso fica ótimo com o passar do tempo. Pra quem gosta de Pixies e de outras bandas do cenário alternativo da época, como Pavement e Sonic Youth, o EP é um prato cheio.
