JÚNIOR BATISTA
O som lembra o rock dos anos 1970, de bandas como Led Zeppelin, Kiss, Queen, AC/DC e Pink Floyd. O visual também: calças pretas justas, tatuagens e cabelos longos. Mas os integrantes são brasileiros. Essa é a Erodelia, banda alternativa de Santos com dois discos independentes na bagagem e um videoclipe com o Zé do Caixão. Neste ano, o grupo mostrará aos americanos que também entende do som.
O grupo resgata o estilo de rock “que nunca chegou no Brasil”, explica o vocalista Caio Del Lucchesi. Ele se refere ao hard rock. Na opinião do cantor, os roqueiros Rita Lee, Raul Seixas e Erasmo Carlos faziam algo mais suave, com baterias e guitarras quase imperceptíveis.
O conjunto tem cinco anos de estrada na atual formação estão Erick Ajifu (baixo), Yan Cambiucci (guitarra solo), Danilove (guitarra base) e Heitor Jabbur (bateria). “Tentamos ao máximo desafiar o ouvinte com ideias novas, principalmente no som”, diz Caio.
As letras descrevem relações do dia a dia, como namoros ou noitadas. O som autoral, com fortes solos de guitarra e muita bateria, é prioridade. Na contramão de artistas que se moldam às gravadoras, o grupo investe na originalidade cobrada de um artista. “Não nos vestimos pra agradar nem fazer personagem, é porque amamos. Não sentamos e pensamos no que dá dinheiro”.
Essa Noite eu Tirei Pra te Odiar (veja o vídeo aqui) descreve a raiva do homem traído e cheio de vingança. Tem participação do artista Zé do Caixão. “Nós convidamos e nem acreditamos quando ele aceitou. E ele falou que ouviu as músicas e gostou”, conta o baixista Erick Ajifu. No vídeo, a moça é sequestrada para o bar do Zé e obrigada pelos integrantes a ouvir todos os desaforos guardados pelo namorado ressentido.
Nos Estados Unidos, o primeiro show é no Tennesse, a convite de uma casa de rock. É a primeira viagem internacional da banda. Os detalhes da turnê ainda serão fechados. “Nós ficaremos lá um mês e há possibilidade de mais shows”, explica Caio.
Influência mitológica
O nome da banda veio de referências da mitologia grega, que possui deuses com atributos específicos, como Atena (sabedoria), Ares (guerra) ou Afrodite (amor). Ero veio do deus Eros, do amor. Delia é derivação de Delos, que em grego significa manifestação, como manifestação do amor. “A manifestação pura do amor ao rock, à música, à vida”, explica Caio Del Lucchesi, vocalista do grupo.
Material
A banda apresenta o álbum Santa Madeira, idealizado pra seguir uma ordem comparada ao cinema. Cada música é como um filme em cartaz. A letra, o ritmo, as fotos, tudo foi feito para parecer uma grande estreia.
O material foi enviado a diversos locais do país, como a Capital e o Rio de Janeiro e teve boa receptividade, mas não era rentável, segundo o grupo. “Pedem pra tocar de graça ou então cover, o que não acrescenta nada para a gente. Fazer o que lá? Fingir que somos outra pessoa?”, justifica Erick.
Gravadoras
Assinar com uma gravadora é um dos sonhos da Erodelia, embora reconheçam a dificuldade que é fazer um som original e traduzir isso num CD. O mundo alternativo tem um limite. “É bom ter essa vivência do independente, mas falar que é super legal, não é”, explica Caio, referindo-se ao cansaço pela falta de infraestrutura, como o transporte de aparelhos e amplificadores e nas viagens, normalmente de ônibus.
A partir desse reconhecimento também que o grupo pode ganhar visibilidade da mídia, o que a cena alternativa só proporciona a um público muito segmentado.
União
Brigas são comuns entre músicos. Pior mesmo é a disputa de egos que abala as bandas da região. “Somos a segunda cidade com maior número de bandas por habitante do país e a cena é toda dispersa”, fala Caio. Festivais em que bandas se unem para tocar juntas são cada vez mais raros na Baixada.
O grupo tentou há dois anos formar festivais pra mostrar essa música, mas não deu certo pela desunião no meio. “Quando tem um concurso fora da região, ao invés de se unir para alavancar o grupo das nossas cidades, há desavença e disputa”.