A violência contra a mulher é protagonizada por uma figura masculinizada. Homens agridem, mulheres apanham, e muitas vezes são mortas por seus companheiros ou ex-companheiros. Em resumo, chegamos ao Feminicídio.
O rapper Eduardo Taddeo, ex-Facção Central, em seu álbum lançado em março, O Necrotério dos Vivos, se põe no lugar que muitos homens protagonizam: o de agressor. Isso ocorre na faixa Abc do Feminicídio. É uma música para ouvir e refletir.
E, como mulher, doeu ouvir a música pela quantidade de violência presente. E são violências reais, que estão aí, diariamente, atingindo a vida das mulheres.
O caminho para o Feminicídio
No início da música, Eduardo detalha o surgimento da relação do casal. “Amor à primeira vista” como mesmo descreve a letra. Logo em seguida, ele indaga: “conto de fadas? Que nada, que me fez largar as armas. E chorar de emoção quando disse que tava grávida”. Aqui vemos como a ideia de paternidade pode ser vista como salvação da figura masculina agressora. Na realidade, sabemos que não!
Depois, uma revelação: os pais de sua companheira não deram consentimento ao relacionamento. Bem, posso interpretar que ela pode ser menor de idade ou estar no início da fase adulta. Mesmo assim, eles prosseguiram com a relação.
“Fomos morar juntos e junto vieram as agressões.
Trecho da música Abc do Feminicídio
Logo os palavrões evoluíram pra escoriações e luxações
Em vez de pensar em enxoval, berço, cueiro
Gastava a merreca dos bicos nas noitadas em puteiros
Como não usava camisinha, a contaminei
Com sífilis e outras DST que eu nem sei
Espancamento virou rotina mesmo na gestação
Se alguém perguntar fala que foi um escorregão”
Há muitos relacionamentos assim, em que homens as levam como “amor de sua vida”, mas não só as agridem como sobrecarregam elas com sua carga emocional.
Ele descreve a história enquanto o ouvinte sente desgosto. Detalhadamente como tudo acontece, nitidamente percebemos que ele é o agressor assim como ele mesmo se assume. A música te leva a todo o tipo de violência até o assassinato da vítima.
Ela, que já tinha recorrido a policia para manter-se longe do ex-companheiro. Mas, não adiantou, conforme constatado em muitos casos da realidade.
Homens, é preciso refletir sobre Feminicídio
Eduardo Taddeo “é das antigas”, um dos representantes do rap nacional. Seu álbum não perdeu sua essência e ele continua contando histórias nas letras. E ele mostra que essas histórias se repetem.
Em 2019, 1.310 mulheres morreram por Feminicídio no Brasil. No ano anterior, 1.222. O aumento foi de 7,2%. Quantas delas passaram por situações presentes na música até o assassinato acontecer?
“Na verdade, eu não queria uma esposa
Trecho da música ABC do Feminicídio
Queria alguém pra cozinhar, transar, lavar minha roupa
Eu era outro machista da sociedade patriarcal
Que põe mulher no mais baixo degrau político e profissional”
Os homens, protagonistas desse crime, também devem falar sobre e refletir sobre suas ações. Pois, além do Feminicídio, a violência contra mulher abarca uma série de atos como pressão psicológica, dependência emocional, abuso, traição, entre outros.
Muito mais que mulheres entenderem o que são relações abusivas e agressivas, é necessário que os homens também se reconheçam como tal.
Essa é uma música daquelas que te embrulha o estomago, mas relata a realidade de muitas mulheres! Homem, você que gosta de ouvir outros homens, é daqueles que “mulher no rap só quer falar de machismo…”, ouça Abc do Feminicídio. Aí, veja se se reconhece em alguma parte da letra, ou se reconhece algum “parça” seu.
O álbum O Necrotério dos Vivos está disponível nas plataformas digitais.