CLÁUDIO AZEVEDO

O que resta a ser dito sobre o Morbid Angel? Que o seu debute, Altars of Madness (1989), é considerado um dos melhores álbuns de death metal da história?  Que seu terceiro ato, Covenant (1993), é o álbum de death metal mais vendido dos Estados Unidos, tendo superado a marca de mais de 150 mil unidades (número expressivo para um gênero tão agressivo e underground)? Que Trey Azagthoth  foi eleito o melhor guitarrista do estilo de todos os tempos? De fato, a banda dispensa apresentações. A técnica de Trey, somada ao vocal macabro de David Vincent  e aos  poderes mágicos do incrível baterista Pete Sandoval, influenciaram  jovens ao redor do mundo, através de clássicos como Maze of Torment, Chapel of Ghouls, Immortal Rites, Rapture, Fall From Grace….a lista é longa.

Após uma sequência de cinco álbuns matadores (contando com o ao vivo Entangled in Chaos), David Vincent anunciou sua saída da banda, alegando as tradicionais “diferenças musicais” com o resto do time, em 1996. Sem perder tempo, foi recrutado Steve Tucker, americano de Ohio (o Morbid é da Flórida) que realmente não pipocou e , ao lado de Sandoval e Trey, produziu pérolas como Gateways to Annihilation (2000) e o brutal Formulas Fatal To The Flesh (1997). Bons álbuns, mas que não conseguiram evitar o retorno de Vincent ao posto de frontman do grupo. A expectativa era enorme, mas infelizmente dessa reunião saiu Illud Divinum Insanus (2011), que com certeza faz companhia a Load e St.Anger como um dos álbuns mais odiados da história do metal. Os fãs não engoliram os estranhos experimentos e o álbum foi um retumbante fracasso. Para piorar, Sandoval – que nem chegou a gravar o álbum – abandona o barco. Pouco depois, Vincent também anunciou sua segunda saída do Morbid. Para seu lugar, novamente Tucker é trazido das trevas.

Tudo isso para chegarmos a Kingdoms Disdained (2017), o álbum “K” de sua série intencionalmente alfabética. As dúvidas eram óbvias. A banda voltaria ao seu estilo brutal de sempre? O baterista novo seria capaz de segurar a bronca? Tucker ainda estava em forma? Ao ouvir a faixa de abertura, Piles of Little Arms, todas as questões são respondidas com um sonoro “sim”. Sem introduções inúteis, a faixa traz o Morbid Angel agressivo e impiedoso que fez a alegria dos metal maniacs mundo afora. D.E.AD. possui riffs assustadores , bem típicos de Trey, mudanças sombrias de andamento, velocidades insanas intercaladas com partes intrincadas. Ou seja, o bom e velho Morbid. Garden of Disdain mostra uma pegada mais lenta, lembrando a fase Domination (1995), nem por isso deixando o ritmo diminuir. A quarta faixa, The Righteous Voice, é onde o baterista Scott Fuller anuncia a todos o que veio fazer aqui. Sua estonteante velocidade é capaz de deixar o ouvinte paralisado, e com um polêmico sentimento de que Pete Sandoval não faz a menor falta. O que o cara fez nessa música é algo bem sério! Vale mencionar o segundo guitarrista, Dan Vadin Von, que completa a nova formação.

Um retorno mais do que bem sucedido, que deve ser ouvido com atenção por todos os amantes da música pesada, do início ao fim, afinal, todas as faixas possuem suas qualidades, sendo desnecessário citar todas. Nesses tempos escuros, onde diariamente recebemos a notícia de que algum músico bateu as botas ou alguma banda encerrou atividades, Kingsdom chega como uma bênção (maligna, é claro). E que todas as letras do alfabeto sejam alcançadas por essa verdadeira máquina de fazer som!

Kingdoms Disdained
Ano de lançamento: 2017
Gravadora: Silver Lining Music

Formação:
Trey Azagthoth – Guitarra
Steve Tucker – Baixo, Voz
Dan Vadin Von – Guitarra
Scott Fuller – Bateria

Faixas:
1- Piles of Little Arms
2- D.E.A.D.
3 – Garden of Disdain
4- The Righteous Voice
5- Architect & Iconoclast
6- Paradigms Warped
7- The Pillars Crumbling
8- For No Master
9- Declaring New Law (Secret Hell)
10- From The Hand Of Kings
11- The Fall of Idols