Após cinco anos sem lançamentos originais, o Thirty Seconds to Mars reinventou-se com America, lançado em 6 de abril pela Interscope. O álbum abre espaço para a turnê mundial Monolith, que já possui datas confirmadas para a América do Norte e Europa. Deixando em evidência o desejo declarado do frontman Jared Leto pela experimentação em diferentes gêneros musicais, o álbum carrega uma essência eletrônica que se encaixa perfeitamente no momento atual que vivemos no cenário pop internacional. Entretanto, pode ser uma aposta arriscada para os fãs do rock alternativo da banda, podendo se passar facilmente por uma produção de astros pop como The Weeknd e Dua Lipa ao invés de um disco alternativo repaginado do 30stm.
A proposta de America é reunir críticas sociais e políticas. Infelizmente, estas manifestações se resumem basicamente às múltiplas capas em lista do disco e à canção de abertura, Walk On Water, que reúne um forte senso de patriotismo e diversidade frente às controvérsias relacionadas à atual administração norte-americana, com postura anti-imigração.
Segundo o frontman, a ideia de promover várias capas do disco é “surpreender, entreter ou provocar”, pois como grupo, as listas criadas nas capas permitem uma análise da cultura que estamos vivendo atualmente em nossa sociedade. Nomes como Kim Kardashian, Lebron James, Oprah e o próprio Donald Trump são citados, além de empresas, organizações, esportes e notícias da atualidade.
Retornando a Walk On Water, o single tem mais força quando acompanhado de seu videoclipe, que já traz como abertura a frase “What does America mean to you?” (O que America significa para você?). A frase iniciou a campanha da banda por vídeos de fãs de todos os estados do país. A proposta, iniciada no Dia da Independência americana (4 de julho), era reunir um compilado de vídeos que ilustrassem como é a vida nos Estados Unidos. Além das imagens, o vídeo reúne informações sobre a população, como o fato de que 99% dos americanos são imigrantes ou descendentes de imigrantes e que 61% dos americanos não sabem cantar o hino nacional. O resto dos vídeos recebidos será transformado em um documentário entitulado Um Dia Na Vida da América, dirigido por Jared Leto. Ao todo, 10 mil vídeos foram recebidos pela equipe e distribuídos entre o clipe e o documentário, que ainda não tem previsão de lançamento.
Dangerous Night conta com um pouco da perspectiva do produtor Zedd, sofrendo mais influência do progressive house. Cantando os limites de um amor perigoso, Leto canta sobre os desafios de um romance misterioso. Rescue Me tem forte apelo vocal, além de um ritmo agradável e uma sonoridade mais suave. O refrão é marcante, podendo ser considerado um dos mais memoráveis do álbum. Toda a letra discorre sobre a disputa entre manter-se são e vender-se aos seus demônios pessoais, destacando também a facilidade em ser corrompido quando você se sente vulnerável e solitário.
Monolith é com certeza um dos principais destaques do disco, sendo a única canção inteiramente instrumental. A marcação de ritmo é bem forte, com grande apoio nas distorções, mas não soa tão inovadora. Ela introduz a canção Love Is Madness, com participação da cantora Halsey. Nesta faixa, a eletrônica caiu como uma luva, facilitando as pontes da música e aumentando a química vocal entre a dupla.
Remedy é um forte contraponto à toda estética do álbum. Cantada pelo baterista Shannon Leto, a música é o mais próximo de um som acústico sem intervenção digital. É limpa, artística e destoa completamente da sonoridade do disco. Na sequência, Live Like A Dream tenta reacender uma crítica social sutil, com vocais emocionados de Jared e uma combinação melódica razoável.
Outra parceria no disco é do rapper A$AP Rocky, que passa batido na participação em One Track Mind. Mais uma vez o amor é retratado sobre a perspectiva da desilusão, destacando a solidão como um dos temas mais recorrentes no álbum. Os versos pausados tornam-se maçantes, enfraquecendo a postura mais agitada do ritmo. Hail To The Victor, produzida com participação do duo YellowClaw, tem uma atmosfera mais dançante e torna-se outro ponto de destaque.
Em Rider, última canção do disco, as escolhas musicais a tornam não só uma das canções mais melancólicas de todo o conjunto como também uma tentativa mais criativa de mescla de gêneros musicais. Seus primeiros versos podem ser interpretados como referência à clássica Riders On The Storm, da banda The Doors, em seu contexto de solidão e amargura.
Em uma batalha para vencer os padrões em que foram delimitados, o 30 Seconds to Mars consegue se desvincilhar completamente de suas raízes para desempenhar uma nova versão de si nesta produção. Porém, essa escolha se mostra completamente avulsa a tudo que já fizeram anteriormente. America é inovador pela sua origem, mas não é surpreendente se comparado a outras produções do gênero, tornando-se cansativo em alguns pontos e fraco em sua proposta conceitual. O álbum já está disponível em todas as plataformas digitais. Ainda não há informações sobre quando a turnê Monolith chega ao Brasil, mas a atual agenda se encerra em setembro de 2018 em Lisboa, Portugal.