No fim de setembro, o L7 disponibilizou nas redes de streaming um novo single, Dispatch From Mar-a-Lago. Com fortes críticas ao atual governo americano, a música é a primeira do grupo em 18 anos, e traz à tona os respingos de um movimento que foi um dos principais porta-vozes dos direitos femininos no século passado: o riot grrrl.
O movimento foi criado como um contraponto aos dogmas machistas que existiam nas cenas punk, nos anos 1980. Foi no início da década seguinte, no entanto, que ganhou notoriedade, com a chegada da Bikini Kill e da Bratmobile; bandas cruciais para o engajamento feminista e para as proporções sociais que o movimento tomaria.
Os gêneros musicais presentes são majoritariamente punk e hardcore, sendo a atitude e o protesto algumas das principais características das bandas envolvidas. Nomes femininos que se destacaram no mundo da música, como Patti Smith, Debbie Harry e Kim Gordon, são algumas das principais vitrines inspiratórias do movimento, embora, musicalmente, o mesmo siga direções diferentes das personalidades citadas.
Para não fugir da proposta da coluna, não me aprofundarei na história ou nas vertentes ideológicas – para quem se interessar, existem ótimos textos de viés informativo na internet que contam detalhes de cabo a rabo. Hoje, vou fazer o papel de recomendar grandes momentos – musicalmente falando – do movimento, citando três álbuns importantes para entender e curtir a cena, que tem bastante coisa legal.
Bikini Kill – Pussy Whipped (1993)
Concebido pela principal banda do movimento, Pussy Whipped chegou como um manifesto inesperado. O disco, diferente do que se esperava após os lançamentos individuais que o antecederam, conseguiu reunir tanto a visceralidade punk quanto um lado mais feliz, amigável e acessível; sendo a canção Rebel Girl um dos maiores sucessos do punk mundial. Em alguns dos shows da turnê, a vocalista Kathleen Hanna mandava, gentilmente, os homens da platéia irem para trás, abrindo espaço para as mulheres se aproximarem do palco.
L7 – Bricks Are Heavy (1992)
Seattle e Olympia são cidades muito próximas, e isso, talvez, seja um dos pilares da relação entre o grunge e o riot grrrl. Embora Courtney Love renegue a causa feminista, nomes conhecidos como Kurt Cobain e Eddie Vedder são simpatizantes declarados. No meio dessa dança, encontra-se o L7, de Los Angeles, com um punk rock (ou heavy metal) que une as duas tribos de um jeito que o Norvana nunca conseguiu. Seu terceiro álbum de estúdio, Bricks Are Heavy, é um dos mais importantes da era grunge, abrindo portas para a inserção de mulheres no movimento. Destaque para Wargasm e Pretend We’re Dead.
Sleater-Kinney – Dig Me Out (1997)
1997 é tido como o ano em que as coisas começaram a desvanecer para as riots. Segundo as ativistas, a mídia foi responsável por se apropriar e trivializar o movimento, transformando-o em uma vitrine da moda punk feminina. Foi nesse ano, entretanto, que o Sleater-Kinney deu um último suspiro para a causa. Dig Me Out é o segundo e mais bem-sucedido álbum do trio de Olympia, e sintetiza o ativismo do riot grrrl em 13 faixas. As letras politizadas marcam presença, mas contrastam com uma pessoalidade pouco vista em outras bandas do estilo. Um marco dos anos 1990 que fez 20 anos recentemente.
Em tempo, é óbvio que, além desses, muitos outros álbuns merecem ser citados, como Pottymouth, do Bratmobile, e Frump One Piece, do The Frumpies (que tem no Youtube); mas esse artigo é só o básico do básico pra um movimento tão gigantesco e que, indiretamente, acaba perdurando até os dias de hoje.