VINICIUS HOLANDA
“Eu quero uma casa no campo/ Onde eu possa compor muitos rocks rurais”. Os versos de Casa no Campo foram escritos por Zé Rodrix, que, com a composição, venceu o Festival de MPB de Juiz de Fora (MG), em 1971. A música, depois gravada por Elis Regina, virou sucesso – o termo rock rural ganhava repercussão nacional.
Engana-se quem pensa que o estilo – moldado pelas mãos do trio Sá, Rodrix e Guarabyra nos álbuns Passado, Presente & Futuro (1972) e Terra (1973) – acabou relegado a peça de museu: está aí o projeto Nós do Rock Rural para comprovar.
O grupo – que faz show de lançamento de seu álbum homônimo no Sesc Pinheiros, na Capital, neste domingo – reúne os experientes Guarabyra e Tavito aos representantes da nova geração, Tuia e Ricardo Vignini, com participação especial de Zé Geraldo – outro ícone da música popular brasileira com os dois pés fincados no campo.
Na estrada
O disco é o desfecho de uma história iniciada em 2017, quando o cantor e compositor Tuia – ex-integrante da banda Dotô Jeka – resolveu reunir essa turma para algumas apresentações. Os shows passaram por algumas capitais e contaram com convidados como Renato e Chico Teixeira e integrantes do 14 Bis.
Nome por trás do grupo Matuto Moderno, que mescla rock e música caipira, o violeiro Ricardo Vignini diz que dividir o palco com os dois mestres do projeto é um privilégio. “Tavito é uma aula de harmonia em pessoa. O Guarabyra é ídolo, admiro seu trabalho do tempo em que eu nem era nascido”.
O álbum Nós do Rock Rural traz um show ao vivo, gravado no início do ano passado, com sucessos como Rua Ramalhete (Tavito) e Dona (Guarabyra), além de composições de todos os membros.
Para Vignini, o conceito de rock rural já se autodefine. “Foi o nome que conseguiu simplificar a origem do rock, que teve sua raiz na música rural como blues, country e folk, e, aqui, a música caipira e o forró”.
O músico começou a carreira tocando guitarra, mas abandonou o instrumento há duas décadas para se dedicar exclusivamente à viola. “Tonico e Tinoco sempre tocou na minha casa por causa da minha avó. Convivia em harmonia com o jazz do meu pai e o Black Sabbath do meu irmão”.
Legado
A aproximação do universo da música caipira o fez conviver com o ídolo Índio Cachoeira, exímio violeiro e luthier (construtor de instrumentos), que integrou a dupla Cacique e Pajé e estava praticamente esquecido, há cerca de 15 anos.
“Foi sorte minha, gravei com ele cinco CDs, um DVD e consegui levá-lo para a França”, lembra o paulista. “Quando o conheci, estava trabalhando como motorista de ônibus. Espero ter conseguido gravar seu nome na história da música brasileira”.
Acordes
À parte os shows com os projetos Nós do Rock Rural e Moda de Rock (parceria com o músico Zé Helder, em que clássicos do rock ganham roupagem violeira) e a carreira com o grupo Matuto Moderno, Ricardo Vignini desenvolve um trabalho solo.
No dia 10 de março, o músico lança Viola de Lata, no Itaú Cultural (São Paulo). O álbum foi totalmente gravado com violas dinâmicas (ou ressonaras) – instrumentos que começaram a ser construídos no final da década de 1920, antecessores da amplificação nos equipamentos acústicos.