Eu tinha preparado um outro texto para lançar, hoje, na Romper Stomper, porém, subi na padaria para tomar um café, li um jornal e dei aquele scroll básico no meu Facebook, o suficiente para abortar a ideia anterior. Me deparei com uma reflexão sobre a situação atual do rock no Brasil, o que me fez lembrar de algumas coisas que já havia mentalizado tempos atrás e deu aquela brainstorm gostoso. Rock n’ Roll is Dead?
Lenny Kravitz disse, em 1995, que o rock estava morto, porém, acho que ele se precipitou em dizer isso e faria mais sentido se ele lançasse nos dias de hoje.
Vejo que o leque de criatividade e as barreiras impostas implicitamente por diversos lados, impedem que o estilo cresça. Lembro que falei um pouco sobre isso no meu primeiro texto sobre Tr00zismo, aqui na Romper Stomper, porém, de um forma mais panorâmica. Aprofundando nisso, percebo que a gente se acostumou a apenas ouvir clássicos e desprezar algo que seja totalmente diferente.
Desde pequeno me envolvi com o hardcore e o punk rock, porém com o passar dos anos fui vendo a mesma fórmula se repetir diversas vezes. No caso do hardcore melódico por exemplo, sempre tem aquelas oitavadas, bateria acelerada e o refrão com a mesma melodia padrão para sei lá quantas bandas.
Não que não goste disso, eu AMO, mas sentia falta de ver alguma coisa diferente ali no meio e que dava muito bem para ser encaixado. O Propagandhi sempre foi um grande exemplo de que dá para fazer diferente. Da para você colocar um solo extremamente cabeçudo, digno de Dream Theater no meio da música. Você consegue alternar entre vocais melódicos e agressivos, e colocar uma quebrada de tempo na bateria. Mas aí você fala: “Aaaahhh, mas é o Propagandhi né?” Bicho, eles são o Propagandhi, PROPAGANDHI hoje. Quando eles tocavam metal progressivo, lá no final dos anos 1980, ninguém ligava para eles.
Seguindo a linha do punk rock, acho que a coisa se divide em três fórmulas. Ou você segue a linha do punk de São Francisco dos anos 1980, como Dead Kennedys, com arranjos distorcidos, o street punk no molde de Cockney Rejects, com uma postura mais “clássica”, ou algo mais pop, que soe como o Green Day ou Rancid. Ou você faz isso ou você está fora. Sempre importante frisar que eu AMO todos os estilos citados e que continuo escutando tudo isso.
No meio disso tudo, quando comecei com o Music Wall, o Nino Tenório (O Inimigo, Eu Serei a Hiena, Síndrome), amigo de longa data, veio me mostrar sua banda nova, o Jesus Macaco, enquanto estávamos no metrô. Achei fantástico só o nome e quando ele colocou o fone para que eu escutasse, caí para trás. Era exatamente aquilo que eu estava tanto esperando, algo que fosse diferente de tudo que estava sendo feito.
O Jesus Macaco soava como se os caras do Minor Threat trombassem o Fela Kuti e chamassem o James Brown para dar um rolê. Era algo que não esperava ouvir, totalmente novo e fora da curva. Virei fã instantaneamente. Fui em alguns shows do JM e após algum tempo, a banda infelizmente deixou de existir. Talvez o Jesus Macaco tenha sido uma das poucas que me impressionou MESMO em anos.
Acredito que a gente, que faz parte do mundo do rock, seja escrevendo, fazendo música, produzindo show, discos, sendo dono de casa de show ou sendo fã, caímos na formatação de não pode existir experimentalismo. Não podemos sair ali do nosso quadradinho “criacional”, do contrário iremos trair nosso próprio ideal. Mas sempre me pergunto se podemos aprender algo novo. Se sempre temos que ficar correndo atrás do nosso rabo e achar que está bom. Será?
Muito se fala do funk por exemplo, e embora acredite que algumas das letras tenha conteúdo depreciativo, vejo que a gente tem é que lavar a boca pra falar do trampo dos caras. Quer dizer, eles construíram a maior cena independente do país dos últimos anos. O mais rentável movimento underground é o funk.
Os MC’s vivem de sua música, têm agenda lotada e diversos seguidores não só em redes sociais, mas em qualquer lugar que eles vão. Em relação ao funk, vejo somente comentários negativos vindo de quem faz e de quem ouve rock. Mas o que eu fico pensando é justamente se a gente não tem nada a aprender com esses caras. Não em conteúdo, obviamente, mas em questões logísticas. Será que a gente já aprendeu tudo que a gente deveria aprender? Será que a gente só consegue produzir o que já está sendo feito? Fica a dúvida.