Tem semanas que são foda. Por mais que você busque um assunto pra abordar, parece que o marasmo toma conta de tudo e você não tem ideia do que falar. Não sei se é por conta do feriado no meio da semana ou os estudos por conta do ENEM, mas essa semana está sendo assim para mim em vários setores. Sendo assim, a pagação de pau acaba te salvando, ou quase isso, tem vezes que o universo conspira para você buscar a inspiração. Enfim, acho que você vai entender do que eu estou falando.
Durante essa madrugada, não consegui dormir por conta desse calor maldito e um mosquito infeliz que insistia em apenas sobrevoar meu ouvido. Levantei, tomei uma água, coloquei o Spotify em uma lista randômica e abri o PC. Comecei a ler e reler algumas das matérias daqui do Blog, vi bastante coisa legal, e me chamou a atenção uma matéria na Bombando no Foninho, do Matheus, sobre três discos que mudaram o curso da música em 1991. Em simultâneo, o Spotify tocava Siva do Smashing Pumpkins. A faixa faz parte do disco Gish, de 1991 também, e aí a epifania veio que nem um trem desgovernado.
Comecei a pesquisar sobre o que tinha rolado na época e percebi como aquele ano havia sido importante para a música. Tudo que estava acontecendo no underground tomou o mainstream de assalto, dando uma nova cara para o que estava sendo feito na indústria fonográfica. Fazendo uma verdadeira revolução não só musical, mas como comportamental e visual.
Na virada da década de 1980 pra década de 1990, o que estava em evidência era o New Wave de bandas como INXS, A-HA, o Metal farofa do Mötley Crue, Twisted Sisters e óbvio, o ritmo proibido da lambada, mas em 1991 tudo mudou. O ano anterior já mostrava indícios disso, com bandas como o Alice In Chains, Depeche Mode e Pantera, mas 1990 foi só uma amostra do que aconteceria em 1991.
É muito difícil de datar quando ou quem começou essa revolução, na verdade isso não importa. Mas se você é uma pessoa que gosta de datas e números, o Guns N’ Roses começou a tour de Use Your Illusion em abril daquele ano. Essa tour aliás foi uma das mais históricas de todos os tempos. Isso graças aos atrasos pra tocar, brigas, prisões, mais brigas, xiliques do Axl, e claro, muita briga. Em um dos shows havia um cara filmando tudo com uma câmera na plateia. Axl pediu para os seguranças o tirarem de lá, o que não aconteceu. Pistolando com seu jeitinho, Axl então mergulhou no meio da galera e deu um sacode no cara, e ao voltar para o palco anunciou que o show havia acabado.
Todos esses acontecimentos desencadearam na saída do guitarrista Izzy Stardlin, que não aguentou o baque e picou a mula. Polêmicas à parte, o álbum foi um tremendo sucesso, lançado em formato duplo, clipes ultra produzidos e uma das músicas fazendo parte da trilha sonora de um dos filmes mais bem-sucedidos da época.
https://www.youtube.com/watch?v=_U5IhEAFGwQ&ab_channel=MusicEvolution
Em sequência, uma das bandas que mais ganhava popularidade naquele ano resolveu encerrar suas atividades. O Jane’s Addiction que colhia os frutos do então aclamado Ritual de Lo Habitual se afundou em tretas, drogas e muitos desentendimentos entre os integrantes. Para fechar com chave de ouro, o vocalista Perry Farrell organizou a tour de despedida da banda, que contou com participação de Rollins Band, Fishbone, Rage Against The Machine, Nine Inch Nails (foto) e Siouxie and The Banshees e foi batizada de Lollapalooza.
A tour foi um tremendo sucesso, com performances que são lembradas até hoje, e devido à isso, Farrell decidiu que continuaria com o projeto nos anos seguintes, tornando a tour um dos maiores festivais do mundo que perdura até os dias de hoje. Muitas das apresentações do Lollapalooza 91′ foram gravadas em VHS, e podem ser encontradas no YouTube, como essa do Nine Inch Nails.
Não da pra falar dos anos 1990, em especial de 1991, sem falar do Grunge. O estilo foi o grande fator de mudança da música naquele momento, trazendo uma postura mais descompromissada e que visava mais a música em si do que o próprio sucesso. Reza a lenda que os percursores do estilo tenham sido as bandas Mother Love Bone e Malfunkshun, que tinham em comum o vocalista Andrew Wood.
Andrew começou sua carreira como músico com seu irmão no Malfunkshun, após alguns anos a banda acabou e Andrew montou o Mother Love Bone com seus amigos Jeff Ament e Stone Gossard, mas uma overdose impediu que Andrew continuasse. Um dos seus melhores amigos era Chris Cornell do Soundgarden, que ficou inconsolável com a perda. Para espairecer um pouco, Chris escreveu dezenas de músicas sobre o amigo, mas as músicas não encaixavam no Soundgarden, e acabou por pedir ajuda aos ex-companheiros de banda de seu falecido amigo. Nasceu assim o Temple of The Dog, projeto que ainda contava com Eddie Vedder que assumia as vozes de algumas faixas, e lançou um único disco. A banda entrosou com Eddie, e a vontade de tocar era grande. Sendo assim, com a exceção de Chris Cornell,o grupo se juntou para formar o Pearl Jam, e em 1991, lançou Ten, um dos discos de maior sucesso até hoje, não só da carreira da banda, mas da década.
https://www.youtube.com/watch?v=MS91knuzoOA&ab_channel=PearljamVEVO
E quando você fala de Grunge, o primeiro nome que vêm à sua cabeça com absoluta certeza é Nirvana. O trio sem dúvida alguma definiu a imagem e o som dos anos 1990, e mesmo com uma carreira meteórica, sacramentaram o seu nome na história, mesmo que isso não fosse o objetivo de Kurt Cobain. O Nirvana já havia lançado Bleach dois anos atrás, mas não havia chamado tanta atenção, e no final das contas era aquilo mesmo que Kurt queria.
O grupo havia acabado de receber seu novo baterista, Dave Grohl, e após diversos shows para pegar liga, a banda decidiu entrar em estúdio capitaneado por Butch Vig e bancado pela DGC, sub-selo da então poderosa Geffen Records . No dia 10 de Setembro, ia para a rádio a primeira exibição do novo single do Nirvana, Smells Like Teen Spirit, que tomou uma forma gigante em poucos instantes, e ao ganhar seu clipe exibido na MTV, instantaneamente se tornou um verdadeiro hino, e impulsionando o lançamento de Nevermind.
A história por trás de Smells Like Teen Spirit também é algo muito curioso. Segundo o próprio Kurt Cobain, ele literalmente estava tentando copiar o Pixies em sua forma de compor. De acordo com Kurt, “a banda tem uma maneira fantástica de grudar na sua cabeça, soar pop, mas ao mesmo tempo ter algo sincero ali.”
O título surgiu após uma conversa sobre punk rock e anarquismo que Kurt teve com Kathleen Hannah do Bikini Kill. Após o longo debate, Kathleen escreveu em uma parede “Kurt Smells Like Teen Spirit”. O título agradou Kurt, que no momento achou que havia algo de revolucionário naquilo, e até o dia do lançamento da música, não sabia que Teen Spirit era uma marca de desodorante.
No mesmo dia em que Nevermind foi lançado, o Red Hot Chili Peppers obteve a redenção através de Blood, Sugar, Sex, Magik. Após a banda ter quase acabado e a dispersão sonora que havia se instalado na banda nos últimos anos, o produtor Rick Rubin foi convocado após diversas tentativas negadas para entrar em estúdio com os Peppers. Rick alugou um casarão em Hollywood, fazendo uma verdadeira internação musical em que ninguém entrava e nem saía, tudo era voltado para a gravação do disco.
A sonoridade crua, quase desprendida de efeitos chamou a atenção, e finalmente a banda havia se encontrado, e de Give It Away pra frente a o Red Hot se tornou um dos maiores nomes da música contemporânea.
Outro lançamento de destaque desse ano é motivo de discórdia até hoje em dia. Black Album, do Metallica, levou três anos para ser composto, e deixou pra trás de vez o segmento thrash metal, estilo que a própria banda havia sido pioneira na década passada. Isso gerou e gera uma certa revolta por uma parte dos fãs do Metallica. Desse ponto pra frente ou você amava ou odiava a banda, mas mesmo com todo esse haterismo englobado, Enter Sandman, Sad But True, The Unforgiven e Nothing Else Matters se tornaram não só um dos maiores hits da banda, mas também dessa geração.
https://www.youtube.com/watch?v=Tj75Arhq5ho&ab_channel=dudeme12
De fato, essas bandas e tantas outras, que se eu fosse mencionar ficaria até amanhã escrevendo, fizeram da anti-cultura algo que fosse aceito por todo mundo. O que fez com que todo esse movimento tomasse forma e voz no mesmo período? Alguns demógrafos (se você não sabe o que é isso, procura no Google) explicam que isso se deve pela maioridade atingida pelos integrantes da tal Geração X (pessoas que nasceram entre 1963 à 1980), criados geralmente por uma outra geração muito conservadora e controladora. Assim que a maioridade é atingida, o que você faz após viver toda sua vida em uma redoma de vidro? Quer liberdade, certo? E curiosamente, alguns dos maiores hits dos anos 90 falavam justamente sobre isso.
Particularmente esse é o meu período favorito na história da música. Não carrego isso como nostalgia, até porque não vivi boa parte disso, mas tenho total devoção por essa época que prezou por atitude e de levar a vida de um jeito mais desencanado. Mas claro, se pudesse ter aquela famosa maquininha do tempo pra fazer um teleporte pra essa época, não pensaria duas vezes.
A Romper Stomper de hoje foi escrita com uma camisa de flanela xadrez, camisa do Sonic Youth e All-Star rasgado.
CURIOSIDADE:
Como os adolescentes e crianças de hoje em dia reagiriam se escutassem as bandas dessa época? Aqui ó (Em Inglês):
https://www.youtube.com/watch?v=syGKzWsBrQ8&ab_channel=FineBrothersEntertainment