Meu objetivo ao abordar o Tr00zismo não é polemizar, apontar dedo ou mandar indireta, e sim abordar uma reflexão sobre como nós mesmos estamos cuidando desse nosso amado meio chamado música.
O termo “Troo” surgiu nos anos 2000, com os fóruns de internet e as bandas de new metal. A palavra primeiramente foi usada por fãs de Metal tradicional como uma forma depreciativa para as bandas que estavam surgindo, como por exemplo: “Slipknot is not Troo”, e mais tarde sendo estilizada para “Tr00”, servindo assim para designar o sujeito que se colocava em cima de um palanque de sabedoria para debater qualquer tipo de assunto.
Não vou mentir, já fui MUITO Tr00. Meu primeiro chilique por conta de Tr00zismo foi por descobrir que outras pessoas conheciam Hot Water Music pela internet, e eu por uma fita VHS que alugava de forma clandestina em uma biqueira daqui de São Bernardo do Campo.
Isso durou até eu descobrir através de uma surra verbal que um amigo me deu, por me lembrar que a música caminha muito além da minha vontade, dos meus gostos ou da minha opinião. Até hoje sou grato por ser lembrado disso, e ser menos babaca por esse sermão.
Recentemente li uma nota de um cara chamado Fábio Reis, que comanda um site chamado “Mundo Metal”. Essa nota/desabafo mostra as conseqüências que o Tr00zismo trouxe ao cenário do metal. Entre o texto do Fábio, a cena do metal, o hardcore e o punk rock(que acompanho mais de perto), percebo várias similaridades, e aos poucos as consequências vão aparecendo, como por exemplo, pessoas talentosíssimas desistindo de fazer música por simplesmente acharem que não pertencem à um cenário musical com tantas regras.
Existem diversos padrões de Tr00zismo que foram segmentados durante os anos. Por exemplo: “Metallica acabou no Master Of Puppets, depois se vendeu”; “The Clash não é punk, é muito produzido pra ser punk”; “Sepultura acabou no Chaos AD. Esses tamborzão do Roots é feito pra agradar brasileiro, e depois a banda virou uma banda cover dela mesma”.
Todos esses exemplos, no caso, voltados às mudanças radicais que as bandas resolveram adotar ou até não resolveram adotar em suas épocas, porém, será que por sermos tão fãs de algum artista/banda, temos o direito de ditar o que eles podem ou não podem fazer? E, mais, o que as outras pessoas que gostam daquilo podem ou não podem fazer? De fato, vejo que experiências musicais têm se tornado cada vez mais tímidas. Estamos nos acostumado a apenas ouvir o trivial, sem surpresas ou novidades.
Fiz uma breve pesquisa de como as artes plásticas tiveram o espaço reduzido em relação aos séculos anteriores, e acabei por descobrir que artistas pop, como Andy Warhol eram considerados subversivos, adversos e que fugiam do tradicional e reflexivo impressionismo que artistas como Oscar-Claude Monet seguiam, e por isso, não eram vistos com bons olhos pelos críticos do segmento.
De lá pra cá sei lá quantos anos se passaram, e você conhece algum artista plástico que seja um verdadeiro fenômeno mundial, extremamente famoso e cultuado como alguns desses exemplos? Pois é, nem eu, mas tenho medo de que a música siga o mesmo caminho e se torne algo que somente “os clássicos” sejam cultuados, e as novidades sejam procuradas apenas por aficcionados.
Já parou para pensar qual foi a última banda que apareceu fazendo algo totalmente novo e fez sucesso? Posso soar ignorante, mas só consigo lembrar do Linkin Park. E, isso já completou mais de 16 anos. Será que não deveríamos ser mais abertos ao novo? Será que não deveríamos ser mais tolerantes ao diferente? Será? Não sei, fica a dúvida.