Ontem eu tive o privilégio de assistir de camarote a gravação de um clipe, que não vou falar de quem é, pois meu espírito de João Kléber fala mais alto. Meu grande parsa Victor Steluto, mais conhecido como Quentin Tarantinho, ou o Francis Coppolla de São Bernardo do Campo tem sua produtora, a Slide Films por 6 anos e vive dirigindo clipes, programas e etc, e atualmente temos nos juntado pra fazer o canal do Music Wall andar (finalmente), o que tem feito eu aprender muito sobre o mundo do audiovisual.
Merchands à parte, toda essa conversa tem me inspirado, e feito que eu redescobrisse uma paixão que eu tive desde pequeno, assistir videoclipes. Quer dizer, não só assistir por assistir, mas apreciar mesmo. Fiz isso muito nas últimas semanas, e percebi como isso foi importante para a minha formação musical.
Através de clipes maravilhosos de bandas como Beastie Boys, Fatboy Slim, Beck e outros, conheci muita coisa, e tive o insight de escrever sobre os meus diretores de clipes preferidos. Bom, o chefinho Lucas Krempel deu o aval, e anuncio que a partir de hoje teremos um especial de seis episódios sobre os diretores de clipes mais doidões, chapados, polêmicos e criativos que fazem parte não só da minha vida, mas como de milhares de pessoas ao redor do mundo, começando por um dos, se não o meu favorito, Spike Jonze.
O narigudo e piadista Adam Spiegel nasceu na pequena cidade de Rockville, no estado americano de Maryland. Foi criado por uma família de descendência judia e com mais 2 irmãos, que mais tarde mudou para a cidade de Bethesda, uma cidade maior que faz fronteira com a capital Washington. Em Bethesda Adam se interessou e teve contato com o Skate, e até arrumou um bico como fotógrafo na revista local Freestylin’ Magazine, onde recebeu o apelido de Spike Jonze, uma referência à Spike Jones, um músico famoso por suas sátiras nos anos 1940. Ainda na revista o agora nomeado Spike começou a produzir vídeos que começaram a ganhar notoriedade na cena local, e a capacidade de Spike filmar em alta velocidade e movimento fizeram com que bandas como o Chainsaw Kittens e o WAX o convidassem para dirigir seus primeiros clipes.
Porém a carreira do jovem narigudo decolou mesmo com esse clipe aí. O Sonic Youth já era uma banda que tinha uma bagagem, e resolveram dar uma chance para o garoto interiorano que estava dando seus primeiros pulos como diretor. Em 100% Spike teve total liberdade de mostrar o seu talento. Escreveu roteiro, dirigiu e até atuou, sendo um dos protagonistas do clipe. Depois do “boom” de 100% Spike dirigiu clipes para X, Breeders, Dinosaur Jr. e Rocket From The Crypt, porém, apesar de começar a fazer seu nome, Spike não havia mostrado ainda seu lado “picareta/zoeiro” que se tornaria sua marca registrada.
Em 1994 Spike Jonze trabalhou bastante. Talvez tenha sido o ano em que ele tenha engordado seu currículo de uma forma massiva, o que resultaria no reconhecimento de sua obra. Nesse ano trabalhou com o Weezer em dois clipes, Undone – The Sweater Song e Buddy Holly, marcando época em um clipe divertidíssimo e extremamente bem-produzido, onde misturava cenas do seriado setentista Happy Days contracenando genialmente com a banda.
Esse clipe marcou época, é verdade porém o que dizer de Sabotage dos Beastie Boys? Quando junta um cara totalmente surtado da cabeça e um trio que adora pagar de fanfarrão, boa coisa deve sair. Reza a lenda que o grupo apenas havia convidado Spike para ser roteirista e Adam Yauch (ou MCA, como preferir) iria dirigir como de costume. Porém ao ler o roteiro o próprio MCA desistiu e entregou a cadeira de direção à Spike, fazendo um clipe que além de marcar história, se tornou padrão na categoria e algo que até hoje ninguém conseguiu nem sequer imitar.
Depois de Sabotage a vida de Spike Jonze nunca mais foi a mesma. Spike saiu do circuito das bandas independentes para fazer super produções com Daft Punk, R.E.M, Puff Daddy, Björk e Notorius B.I.G. Emplacou produções memoráveis como Praise You do Fatboy Slim onde Spike literalmente parou um cinema com a dancinha do seu grupo em Los Angeles para filmar sem permissão, e Drop do Pharcyde onde os integrantes do grupo aprenderam a cantar a música de trás pra frente para sincronizar no efeito desejado. Duvida? Então se liga.
O reconhecimento bateu na porta de Spike Jonze, que acabou migrando para Hollywood. Spike dirigiu o elogiado Quero Ser John Malkovich que chegou a ser indicado ao Oscar na categoria de melhor diretor.
Em Her Spike quase ganhou como melhor filme, mas acabou levando como melhor roteiro original, e ainda levou um Globo de Ouro pelo mesmo quesito. Ainda ajudou a criar o saudoso (para algumas pessoas, para outras não) Jackass, onde ainda fez algumas pontas, e ainda comprou a marca de skate Girl. Mesmo se tornando um workaholic Spike ainda acha tempo pra se dedicar aos clipes.
Recentemente trabalhou com Lady Gaga e Kanye West, e mesmo com todo o furor do mundo Pop, Spike consegue deixar sua marca fanfarrão em sua obra, o que faz dele sem dúvida nenhuma um dos nomes que transformaram o videoclipe em algo sem graça e comercial, para algo artístico, divertido e revolucionário.
