Todo segmento tem aquela pessoa que chega para ser o famoso “quebra-recorde”. O futebol tem o Pelé, a Fórmula 1 tem o Schumacher, o cinema tem Walt Disney, e o videoclipe tem Mark Romanek. Nenhum outro diretor na história da categoria recebeu mais prêmios do que ele. Seu trabalho apesar de não ser tão polêmico, fanfarrão, abstrado ou fofuxo quanto nossos homenageados anteriormente é tão marcante quanto, e de uma perfeição cirúrgica, o que lhe rendeu Grammys e VMAs.
Romanek é um verdadeiro maníaco por cinema desde pequeno. Aos 9, se apaixonou pela sétima arte assistindo 2001: Uma Odisséia no Espaço, o que segundo o próprio é a sua maior inspiração para ter se tornado diretor.
Na adolescência experimentou gravar curtas em Super 8 e 16mm, e ainda trabalhou como assistente de diretor de Brian De Palma em seu documentário autobiográfico.
Em 1986 dirigiu seu primeiro filme, Static, que obteve um sucesso no underground da indústria e serviu de trampolim para que o jovem Romanek se deslocasse para Londres. Uns dos grandes fãs do filme eram os integrantes da banda new wave The The, que com a ascensão do videoclipe na época o convidou para produzir um. Mark foi o responsável por Sweet Bird Of Truth e achou que levava jeito para coisa. Voltou para os EUA decidido que iria se tornar diretor de clipes.
A carreira de Mark deslanchou meteoricamente, e em pouco tempo tinha no seu currículo artistas do calibre de De La Soul, Keith Richards e a sensação do R’n’B da época En Vogue. Dirigindo clipes para essas bandas, Mark Romanek já colecionava quatro prêmios do Video Music Awards da MTV americana, e em 1993 emplacou seu primeiro grande clássico.
Are You Gonna Go My Way? alavancou não só a carreira de Mark Romanek, mas ajudou bastante Lenny Kravitz a se tornar um dos maiores ícones pop dos anos 1990.
A partir desse ponto de ignição, Mark foi altamente requisitado pelos principais nomes daquele momento. Madonna produziu dois clipes em uma leva só, R.E.M., Weezer, Nine Inch Nails, David Bowie também. Até o Rei do Pop Michael Jackson lançou uma ultraprodução em Scream, em parceria com sua irmã Janet Jackson. Todos esses clipes se não foram premiados, com absoluta certeza se tornaram verdadeiros símbolos do que é fazer um videoclipe de qualidade.
Já nos anos 2000, o nome Romanek continuou a ser cobiçado. No Doubt, Audioslave, Mick Jagger e Linkin Park foram alguns dos nomes que rechearam ainda mais o currículo do cara, mas um outro clipe, música e artista deixaram de se tornar apenas sucesso, para se tornarem lendas na imortalidade musical.
https://www.youtube.com/watch?v=vt1Pwfnh5pc&ab_channel=DFTranslateBR
American IV: The Man Comes Around é o último disco de Johnny Cash lançado em vida, composto basicamente de covers de grandes sucessos do rock das últimas 3 décadas, entre eles Personal Jesus do Depeche Mode, uma colaboração com o guitarrista John Frusciante, In My Life dos Beatles e Hurt do Nine Inch Nails.
Com sua saúde evidentemente debilitada, o eterno Men In Black abriu as portas de sua casa para Romanek e sua equipe gravarem o clipe de Hurt. Todos ficaram hospedados durante uma semana para conhecer cada detalhe de sua história e sua intimidade. As condições físicas de Johnny são nítidas no clipe, que nos deixou exatamente sete meses depois do clipe ser lançado. June Carter, seu eterno amor, três meses depois das filmagens.
Hurt levou o Grammy de melhor videoclipe naquele ano e um astronauta de prata no VMA pela melhor Fotografia. Foi considerado por veículos de comunicação do patamar de TIME e NME como um dos melhores clipes de todos os tempos.
Esse clipe/música foi responsável por muitas pessoas conhecerem Johnny Cash, pois até então sua carreira não fora tão explorada fora dos EUA quanto a de Elvis Presley e Chuck Berry. Graças a esse retrato, digo, essa obra de arte produzida por Mark Romanek, principalmente os mais jovens conseguiram ouvir a voz grave do homem de preto e se aprofundar em sua obra.
Após a colaboração com Johnny Cash, Romanek decidiu dar uma parada em sua carreira videoclíptica. Após dois anos totalmente parado, se envolveu no projeto de adaptação cinematográfica de A Million Little Pieces, livro de James Frey, de 2003. Porém, o caldo desandou devido aos malditos copyrights.
Mark passou ainda os quatro próximos anos tentando produzir um filme. The Wolfman chegou a sair, mas acabou desistindo por “incompatibilidade financeira”.
Em 2010, finalmente sai Never Let Me Go, um drama científico baseado em um livro do autor japonês Kazuo Ichiguro. Esse, porém, foi seu último trabalho como diretor, e Mark voltou aos videoclipes em 2013.
Muitas pessoas se perguntam o que de fato faz com que seu trabalho seja reconhecido. Uns falam que é o “QI”, o nepotismo ou até aquela famosa ficha rosa. Mas de fato, não há bônus sem ônus. A carreira de Mark Romanek é o resumo de seu perfeccionismo e dedicação, o que muitas pessoas podem encarar como chatice. Pergunta para ele se com clipes como esses que você vai ver agora, compensa “ser chato”.
Videografia:
De La Soul – Ring Ring Ring:
https://www.youtube.com/watch?v=gC1xuVCBl4o&ab_channel=GoiaK
David Bowie – Jump They Said:
https://www.youtube.com/watch?v=avJt0SQec0I&ab_channel=emimusic
Madonna – Bedtime Story:
Iggy Pop – Beside You:
Nine Inch Nails – Closer:
Michael Jackson feat. Janet Jackson – Scream:
Beck – Devil’s Haircut:
Mick Jagger feat. Lenny Kravitz – God Gave Me Everything i Want:
Audioslave – Cochise:
Linkin Park – Faint:
Jay-Z – 99 Problems: