Essa semana eu faço aniversário, e é foda, você vai somando algumas primaveras em seu currículo, toma umas cagibrina, e mais o cansaço diário, começa a se achar filósofo. Em algumas vezes você chega a pensar em muita coisa inútil ou bate aquele saudosismo piegas pra caralho do “no meu tempo…”. Não tem como fugir, é automático. Quando você viu bandas surgirem e acabarem, ídolos morrerem ou se tornarem verdadeiros imbecis, pensa no que você já viveu e repara em como as coisas funcionavam “na sua época”. Vou tentar ser breve, afinal ninguém merece resmungo depois do feriado.
Eu não conheci as bandas que todo mundo guardou à sete chaves durante anos por um vinil foda que eu comprei em uma loja de raridades no centro de São Paulo, não tive amigo que ia pra gringa e voltava cheio de novidade e nunca me aprofundei em um estilo musical determinado. Fui conhecer Descendents quando já tinha passado dos 20, e francamente, não gostei e continuo não gostando até hoje. Bandas do naipe de Kreator eu fui só saber da existência quando já tinha barba na cara, e nem dei tanta atenção, a mesma que continuo dando até hoje. Eu me criei ouvindo rádio e vendo MTV, e tudo que era mostrado pra mim ali eu corria atrás se me interessasse e nessa fui indo. Talvez o estilo que eu tive mais contato foi o Nu-Metal, o que era óbvio pra qualquer pivete da minha idade. Minha primeira namorada trabalhava em uma Lan House com o irmão, como eles também eram fãs, viviam peneirando na hora do expediente os eMule e Kazaa da vida atrás de alguma coisa, e através dali tive muito contato com bandas que eram bizarramente geniais.
Tudo aquilo depois de um tempo se tornou esquisito demais pra mim, e eu fui atrás de outras coisas. Como o final dos anos 90 e começo dos 2000 foram sinônimos de mistureba musical, acabei absorvendo de tudo um pouco. Na MTV, as faixas que eu mais gostava eram da madrugada. Como eu tinha problemas pra dormir na época, passava noites e noites assistindo Riff, AMP, Lado B e qualquer coisa que passasse ali naquele horário. Quem pegou essa época lembra bem que à partir da 01:00 da matina era uma espécie de freak show. No rádio eu ouvia o Espaço Rap na 105 FM da região metropolitana de São Paulo. A rádio tocava pagode o dia todo, mas das 17:30 pra frente era submundo da subcultura total. Eu ouvia involuntariamente nessa Lan House que minha mina trabalhava, o dono era Thug e só deixava a gente jogar Counter Strike aos sábados se rolasse um Facção Central de fundo.
Querendo ou não, nos intervalos da programação, ou quando você estava esperando algum programa começar, sempre rolava algo que não era sua cara. Quem nasceu entre 1985 e 1993 provavelmente sabe quem foram os Backstreet Boys, e talvez até se lembre que eles tiveram uma cópia irlandesa chamada Five. Você sabia quem eram esses caras, as Spice Girls, o Smash Mouth, o Lenny Kravitz, a Alanis Morisette, pois de Domingo à Domingo essa galera estava na sua TV, no seu rádio, e você gostando ou não, acompanhava um pouco de suas carreiras. Como a própria Alanis poderia dizer: “Isso é um pouco irônico, você não acha?”
O que antes era desinteresse e em alguns casos aversão, como passar dos anos se tornou nostalgia, e a galera que era “nirvanêra” naquela época, hoje se rende à esse tipo de hit. É hilário quando eu encontro alguém cantando As Long As You Love Me ou Wannabe, já vi gente com camisa do Ramones dando dessas. Não que seja vergonha, muito pelo contrário, afinal é o Whisky A Go Go da minha geração.
O tempo passou, e com isso, a forma de se consumir música também mudou. As rádios se tornaram praticamente um padrão, a MTV morreu e a internet nos introduziu ao streaming e ao download. Porra, finalmente eu poderia escutar meu amado Metallica sem ter que aguentar a Wanessa Camargo ou o KLB me interrompendo, e tudo isso quando eu quiser, como quiser e principalmente quantas vezes quiser. Ou seja, estava ali criada a situação perfeita, de certa forma cômoda e confortável. Eu simplesmente subiria os muros do meu feudo musical e que se foda o resto do mundo. O isolamento social que aconteceu nos últimos anos foi enorme, e é nítido perceber, mas vamos focar na música e não esticar o chiclete.
Eu trabalhei dois anos em uma empresa que tinha muita gente nova, na sua maioria mais novos que eu. Elas falavam de Lana Del Rey, Imagine Dragons, Kendrick Lamar e eu não sabia do que se tratava. E eu sempre me senti um merda, pois as pessoas me olhavam com aquela cara de “ah, você diz que escreve sobre música, mas não sabe quem é a Nicki Minaj”. Enfim, eu me sentia um verdadeiro analfabeto musical, e ainda me sinto, por não ter me atualizado.
Aí você deve pensar: “Mas jovem, a internet ta aí pra isso”, pois é, mas vamos ser honestos? Quem da um pulinho ali no quintal do vizinho pra ver o que ele ta escutando? Querendo ou não, nós ficamos tão apegados com a nossa relação de facilidade com a internet, que nem nos importamos com isso. Jamais eu vou parar de escutar o meu amado Rancid pra dar atenção para o que essa pivetada aí ta fazendo, é um terreno abrupto e difícil de se adaptar, portanto é muito mais fácil eu esperar por um álbum novo deles escutando sua discografia completa repetidamente por anos e anos. Ah, importante, se aparecer fedelho aí metido à Tim Armstrong, é pagação de pau, e “pra que eu vou ouvir a cópia se eu posso ouvir o original?”
Hoje em dia me sinto um tremendo babaca quando eu escuto a mulecada conversando sobre música. Eu penso muito, “como que eu não conheci nenhum projeto de música eletrônica nos últimos 10 anos?”. Eu me vejo como um velho caquético e ignorante que acha que o futebol morreu nos tempos do Ademir da Guia, e que nada que foi feito após aquilo presta. Resumindo, talvez quando você se desafia ou é desafiado musicalmente, de forma involuntária aquilo agrega alguma coisa em você mesmo. Seja no seu espírito, no seu gosto, ou no que quer que seja. Quando você escuta uma música nova, jamais você continua a mesma pessoa.
O que eu tenho feito pra driblar todo esse marasmo? Spotify na veia! Mas é aquela, ter disciplina é fundamental. Tenho aos poucos explorado playlists que não tem nada a ver com aquilo que eu estou habituado à escutar. Outra coisa que tem me ajudado bastante, é dentro do meu próprio conforto procurar opções. Projetos, bandas e carreiras solo de artistas que eu admiro e que não tem absolutamente relação alguma com suas carreiras principais são uma forma incrível de explorar sua musicalidade e descobrir coisas nunca antes vistas.
Uma dessas bandas que eu conheci foi o Dot Hacker, mas vamos falar melhor dela na semana que vem, pois faremos um especial de bandas e projetos solos que são lindos e maravilhosos. Por enquanto, beijo na alma e até semana que vem.