Ia completar o título com a piada, mas achei manjada demais. Enfim, sobre o assunto principal, estava a fazer aquela limpeza no HD e comecei a escutar algumas coisas que não ouvia já fazia um tempo e parei no Charlie Brown Jr. Me dei conta que este ano, especialmente, fará 20 anos do lançamento de Transpiração Contínua Prolongada, o primeiro álbum de estúdio da banda. E por que não falar um pouco sobre a trajetória do CBJR? Para contar mais sobre a história do Charile Brown, é preciso entender um pouco sobre seus integrantes.
Chorão nasceu em São Paulo, trabalhou desde cedo ajudando sua mãe a vender salgados, e depois de uma infância muito difícil, com a separação dos seus pais, se mudou para Santos no final dos anos 1980. Marcão era corretor de imóveis e tocava em uma banda (Last Joker) com o batera Renato Pelado. Thiago Castanho fazia faculdade e Champignon era só um pivete de 12 anos. O epicentro do encontro de todos foi com o fim da banda What’s Up, que contava com Chorão e Champigon, e após uma batida de carro em uma barraca de água de coco com o desenho de Charlie Schulz estampado, a banda já tinha nome.
Após alguns anos de forma independente, e muitos problemas com casas de show (afinal Champignon era menor de idade), Chorão resolveu ir na procura de Rick Bonadio, que havia se destacado por trabalhar com o Mamonas Assassinas. O mesmo recebeu uma demo tape com três faixas, que gostou e resolveu apostar na banda. O resultado foi o disco citado, que se tornou um sucesso tremendo logo no seu primeiro mês. Quinta-Feira, O Coro Vai Comer, Corra Vagabundo se tornaram sucessos instantâneos, mas o que de fato fez o disco e a banda bombar de vez, foi uma música que particularmente não gosto, essa ai…
Sem perder tempo, no final de 1998, a banda já produzia seu segundo disco, que viu a luz do dia no ano seguinte. Preço Curto… Prazo Longo deu a mão para o sucesso do seu antecessor, e impulsionou ainda mais o nome do Charlie Brown Jr no País. Musicalmente é um disco menos pop do que Transpiração, com músicas instrumentais, abusando de oitavadas e distorções.
Em sequência foi lançado Nadando Com os Tubarões, inspirado no Gangsta Rap californiano, em uma temática que abordava a ostentação de bens materiais. Foi também um disco muito influenciado pelo rap brasileiro, que estava emergindo e ganhando atenção do grande público aos poucos. A prova disso é a A Banca, com participação de ninguém menos que RZO e Sabotage.
https://www.youtube.com/watch?v=ONDs01Rv1D4&ab_channel=CharlieBrownJr-ETERNO
Os anos seguintes foram conturbados para o Charlie Brown Jr. Ao mesmo tempo que a banda se tornava cada dia mais popular, participando de comerciais, sendo trilha de abertura de novela e a porra toda, Chorão se envolveu em diversas polêmicas, sendo a mais famosa em que o mesmo LITERALMENTE socou a cara de Marcelo Camelo em um aeroporto.
As confusões começaram a atingir a banda internamente, e em 2005, no auge comercial da banda, Champignon, Marcão e Pelado deixaram Chorão sem banda. O cara abriu contrato com outros músicos, entre ele Thiago Castanho que havia deixado a banda anos antes, e seguraram a barra na tour de Tamo Aí Na Atividade. Nessa época, Chorão inaugurou seu Skate Park em Santos, e chegou a gravar um DVD no lugar, o batizado Skate Vibration. A sessão reuniu grandes nomes do skate como Bob Burnquist, performando enquanto a banda tocava.
Porém a nova formação não deu liga, e Pinguim deixou as baquetas da banda para a entrada de Bruno Graveto (Ex-The Bombers), e posteriormente Heitor deixou o baixo para que Champignon voltasse para a banda. A notícia alegrou muito os fãs, principalmente depois de um depoimento em que o baixista soltou na internet declarando sua devoção para a banda.
Durante o Viradão Carioca de 2011, Chorão disse que tinha uma surpresa para os fãs, e que o show não seria com quatro integrantes e sim com cinco, marcando assim o retorno de Marcão para a banda depois de seis anos longe do Charlie Brown Jr. Porém os desentendimentos voltaram e Chorão voltou a se estranhar com Champignon durante um show em Apucarana/PR. Como um quinteto, o Charlie Brown Jr gravou o DVD Música Popular Caiçara, e emplacou Céu Azul em sua galeria de hits.
Esse foi o último hit da banda antes de Chorão e Champignon falecerem em 2013. A banda se dissolveu depois disso, com Graveto indo para o Strike, Thiago Castanho para o Capital Inicial, e Marcão formando o Bula.
O mais interessante da carreira do Charlie Brown Jr, é que apesar de todas as confusões que seus integrantes se envolveram durante os anos, a união musical estabelecida durante sua carreira é louvável. Quer dizer, na época ninguém queria saber de rap, o que os caras fizeram? Foram para o estúdio com o RZO e Sabotage, e ainda conseguiram colocar eles no mesmo palco e na mesma noite de Marcelo Nova durante a gravação do álbum Acústico da banda. Que outra banda conseguiria colocar Lobão no estúdio para ser produzido por Rick Bonadio? Declaradas antíteses da música naquela época. O Charlie Brown conseguiu, e aliás, que bela linha de guitarra gravada pelo Lobão.
https://www.youtube.com/watch?v=hMO4wU-iOQU&ab_channel=CharlieBrownJr-ETERNO
O Charlie Brown Jr também foi a última banda no Brasil que conseguiu carregar uma legião de fãs aos seus shows. Se tornar tão popular a ponto das pessoas mitificarem suas letras e tentarem decifrá-las. Gostando ou não da banda, o que temos que dar o braço a torcer é que o Charlie Brown Jr foi a última banda que conseguiu levar o rock ao mainstream. Eles nunca foram geniais, musicalmente falando, nunca criaram nada de novo, mas o legado deixado pelo CBJR é algo que tem que ser respeitado.
A sintonia que as letras do Chorão tinha com o público é algo de se assustar. Ele não era um cara que se baseava em autores e filósofos que viveram há 500 anos para compor uma música. Ele se baseava na própria vida, e em consequência, o público se identificava, pois viveu ou estava vivendo os mesmos problemas financeiros, as mesmas perdas, os mesmos conflitos internos, e tinha a mesma vontade que tudo isso mudasse.
O mais incrível é que 20 anos depois de tudo isso começar, essas músicas não soam piegas ou como algo “de época”, tudo isso soa muito contemporâneo e autêntico, o que ainda carregará o nome e a mensagem deixada pelo Charlie Brown Jr por anos e mais anos.
É preciso combater os inimigos que também são internos, pois somos adultos, mas quase sinceros.