Romper Stomper #29 – Araya x Internet: O que aprendemos?

Romper Stomper #29 – Araya x Internet: O que aprendemos?

Desde que o convívio digital foi inventado, a treta é o principal combustível que move a internet. Nem adianta falar que “ah, na época do Orkut todo mundo se amava”, porque isso é mentira. A treta sempre existiu, mas hoje acontece de uma instantaneidade e uma intensidade muito maior. Cada semana aparece um assunto novo em pauta, que gera reboliço e os famosos textões. A pauta da vez foi esse senhor de voz tenra e suave.

Eu não entendi muito bem o que aconteceu, não acompanhei pois tinha mais o que fazer, mas vi muita gente criticando duramente o posicionamento político de Tom Araya, que no caso, era de apoio ao presidente norte-americano Donald Trump. Embora na minha concepção isso seja um absurdo, não é algo que me chocou ou me surpreendeu. Por que? Tom Araya foi criado em uma família evangélica extremamente conservadora. Quando sua família foi do Chile para os EUA, seus pais fundaram uma das primeiras igrejas de Hutington Park, um dos maiores redutos latinos de Los Angeles. Desde pequeno, Araya teve uma educação conservadora, e embora não concorde com seu posicionamento político, por saber de todo o background envolvendo o cara, não me surpreende o fato dele apoiar tal pessoa.

Sabe quem mais eu não me surpreenderia se fizesse tal coisa? Esse menino aqui.

Josh Homme já se declarou Republicano de carteirinha em diversas ocasiões, sendo inclusive um colecionador de armas, e seu melhor amigo, Jesse Hughes (Eagles Of Death Metal), se declarou além de Republicano, Evangélico Renascido, e ano passado disse que é à favor da legalização do porte de armas. Outros casos que não me surpreenderiam, embora considere um absurdo.

Mas você deve se perguntar o que raios quero dizer com isso. Longe de mim defender atitudes e posições absurdas como essas, mas ver algumas generalizações como “no Metal é assim mesmo”, “o Metal vem propagando o conservadorismo”, “Metaleiro é tudo coxinha” e dentre outras. Tudo bem que alguns dos maiores nomes do estilo não estão atualmente ajudando para que essa imagem melhore, mas o ditado já diz que “toda generalização é burra”, ainda mais quando achamos que está tudo bem no nosso meio. Falo “nosso meio”, porque isso vale para todo meio musical. Independente de estilo ou vertente musical, babaca tem em tudo que é lugar. Né, Phil Anselmo? Aliás, relação de amor e ódio que tenho com esse rapaz.

Se estivesse tudo bem no punk rock/hardcore, Jello Biafra não teria escrito Nazi Punks Fuck Off anos atrás, e convenhamos, é uma música extremamente atual, infelizmente. O mal da internet, é que ela nos deu voz e liberdade para se falar o que bem entender, mas às vezes a gente fala merda até demais. A persona que colocamos nas nossas redes sociais, muitas vezes não condiz com quem realmente somos, e aí podemos ser o personagem que quisermos ser, pois dificilmente vamos conhecer os nossos 800 e poucos amigos. Muitas pessoas vão concordar com o que escrevemos, pois na maioria das vezes as opiniões vão bater, mas claro, nem sempre isso é o que acontece na vida real, afinal, somos personagens.

É muito poético abordarmos assuntos como por exemplo, direitos LGBT, quando não acolhemos, não incentivamos ou não temos uma banda que tenham integrantes do gênero e que levantem essa pauta no nosso meio, da visão deles/delas. É lindo exaltarmos as mulheres através de textões, músicas e o escambau, quando no dia a dia, não as tratamos como nós descrevemos em nossa crítica “construtiva”, ou pior, nem as ouvimos ao menos.

Quando rolou o caso Phil Anselmo, achei pouco a banda ter metade da agenda programada no verão europeu por conta da babaquice do seu vocalista. Esse é o tipo de penitência que tem que acontecer para atitudes desse tipo na minha opinião. Mas absurdos que não são menores ou menos graves acontecem diariamente do nosso lado, e são facilmente tolerados. Não sei se pelas pessoas se conhecerem durante muito tempo e ficarem no “deixa disso”, babação de ovo”, ou rabo preso mesmo. E não adianta a gente ignorar, a gente sabe que essas coisas acontecem. E se não sabe, é porque finge que não sabe.

O ponto é: Babaca existe em todo lugar, repita esse mantra mentalmente. Babaca existe em todo lugar. Esses babacas tem que ser combatidos? Sem dúvida, mas antes de limpar a sujeira externa, que tal arrumarmos nossa própria casa? Afinal, sempre tem aquela que está escondidinha embaixo do tapete e que ninguém quer mostrar quando tem visita. Imbecilidade não é só coisa de metaleiro, tem muito nego do hardcore consciente, PMA e os caralho que é igual ou pior, e isso vale pro rap, reggae, ska, e tudo mais.

Sem mais, bora curtir o sabadão que finalmente saiu sol e parou aquela chuva desgraçada (Nota do editor: Pelo menos em São Bernardo do Campo, risos).

 

#PAS