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Romper Stomper #32 – 50 Anos de Kurt Cobain

Particularmente, não gosto de ficar desenterrando histórias de músicos falecidos ou comemorar aniversários de nascimento/morte, mas alguns nomes são tão intrigantes, e possuem histórias tão fascinantes, que valem ser mencionados diversas vezes, principalmente quando mudaram para sempre o rumo da música. Kurt Cobain é um exemplo genuíno disso, e embora dissesse que não queria e nem era sua intenção fazer história, em um curto período de tempo conseguiu virar o mundo da música do avesso para sempre.

Com nome de batismo de Kurt Donald Cobain, o jovem nasceu na interiorana Aberdeen, no estado de Washington, na fronteira com o Canadá, uma cidade que não acontecia praticamente nada além da pesca de salmão e exploração da indústria madeireira.

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Imagem do portão de entrada da cidade. Crédito: Wikipédia

Sua infância foi bastante conturbada, principalmente pela separação dos pais e a formação das outras famílias dos mesmos. A violência doméstica sofrida por sua mãe e seu então padrasto, e a educação extremamente rígida por parte de seu pai. Seu pai estimulava a prática de esportes, que na realidade, Kurt até se dava bem, mas desprezava o espírito de competição imposto nas ligas estudantis. Kurt praticou wrestling, ou luta greco-romana se preferir, disputando torneios regionais, mas perdendo as finais de propósito.

O mesmo aconteceu nas ligas de beisebol, onde Cobain chegava até dormir enquanto estava no banco. Porém, sua paixão mesmo era a música, e desde pequeno Kurt cantarolava músicas dos Beatles, e chegava até arranhar alguma coisa no piano.

No seu aniversário de 14 anos, seu tio lhe ofereceu uma bicicleta ou uma guitarra usada, e a escolha final não poderia ser mais óbvia. Com sua primeira guitarra, Kurt praticava ouvindo Led Zeppelin, Queen, Ramones, The Cars, entre outros, e sentia vontade de formar sua própria banda. Como não havia absolutamente ninguém em sua escola que compartilhasse dos mesmos gostos musicais, Cobain largou a escola e começou a frequentar shows dos Melvins em Seattle, se envolvendo diretamente com os integrantes da banda e chegando a formar sua primeira banda, o Fecal Matter, que durou pouco tempo assim que o Melvins começou a rodar mais pelo país. A banda chegou a gravar uma demo, mas não passou disso.

https://www.youtube.com/watch?v=8t4rmc984cQ

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Essa demo porém chegou aos ouvidos de Krist Novoselic, um tropeço que frequentava os mesmos rolês de punk rock que Kurt Cobain. A amizade cresceu, os ensaios foram rolando e assim o Nirvana nasceu. Com a adição de Aaron Buckhard na bateria, a banda fez suas primeiras apresentações, sendo substituído por Dale Crover do Melvins mais tarde e Dave Foster, até se firmar com Chad Channing na posição. Com essa formação, a banda gravou a demo Love Buzz/Big Cheese e o primeiro disco da carreira, Bleach, ambos lançados pelo selo Sub Pop.

O estilo do Nirvana começou a chamar a atenção por ser totalmente aberto, indefinido e totalmente despretensioso. A banda compactuava da filosofia englobada no punk rock, mas não soava como uma banda de punk rock. Era tudo muito elaborado para ser punk. A banda tinha riff’s bem construídos e cadências que se alteravam de composição para composição, mas era muito sujo para ser comparado com qualquer coisa que fosse feita no rock no momento, por isso, alguns tablóides começaram a se referir a banda como “Grunge thing”, ou em bom português, coisa imunda.

Blew – A primeira faixa de Bleach

Poucos sabem, mas nessa época o Nirvana atuava como um quarteto, com Jason Everman na guitarra de apoio. Jason chega a aparecer na capa de Bleach, mas acabou saindo da banda pouco depois do lançamento do disco. Apesar de não ter gravado uma música sequer do disco, Everman ajudou na parte financeira, com US$600 custeando a prensagem.

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O primeiro disco rendeu ao Nirvana algumas tours na Europa e por toda América do Norte, chamando a atenção de grandes empresas da indústria da música. Cobain porém não estava satisfeito com seu baterista e pediu que Channing se retirasse da banda em 1990, sendo substituído por Dave Grohl, que na época tocava em algumas bandas de thrash metal e na banda de Hardcore Scream. Essa seria a formação clássica do Nirvana, que após lançar alguns singles, assinou com a Geffen Records, produzindo Nevermind, o disco que parou o mundo e fez com que a música nunca mais fosse a mesma.

Tudo o que estava sendo mostrado na música era extremamente voltado ao comercial, e até o rock estava saturado com o new wave e o metal farofa. Nevermind mostrou a todo mundo que dava para alcançar a atenção da grande mídia fazendo o que você bem entendesse, sem coreografia ou ostentação.

É importante falar, que em nenhum momento o Nirvana buscou o mainstream, o mainstream buscou o Nirvana. Talvez por conta da saturação, talvez pela genialidade explícita da banda, o fato é que tudo aconteceu de forma natural e sem forçar a barra. Uma prova disso é a postura da banda em relação aos padrões estabelecidos pela indústria da música, como por exemplo, apresentações onde o playback era obrigatório.

https://www.youtube.com/watch?v=S0MzeMfcGxA

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Claro, a música do Nirvana era incontestável, mas acima de tudo, a atitude da banda em relação à imprensa e organização de shows e tudo mais era algo que realmente era de se admirar. O trio não era composto apenas por músicos, mas sim artistas, que tinham total comprometimento com sua obra. Se tocar Smells Like Teen Spirit fosse comprometer o restante do set-list, tudo bem sacar o maior hit da banda fora e azar de quem não gostasse, teria que ouvir um cover do Vaselines pois casaria perfeitamente com as outras músicas.

O abuso de drogas e a saúde de Kurt Cobain viravam manchete e boatos de cancelamento de shows viam à tona? Que tal entrar no palco de cadeira de rodas, demonstrando uma suposta fragilidade, trollar fãs e imprensa e fazer um dos maiores shows da história do Reading Festival? Quer dizer, isso não é somente música, isso é arte!

Toda essa atitude contra-cultural tornou o Nirvana, em especial Kurt Cobain, uma verdadeira lenda urbana, mas amigos mais próximos, em diversas entrevistas, documentários e livros o descreviam como uma pessoa extremamente tímida e dócil. Um dos crush’s bem conhecidos de Cobain foi Tobi Vail, jornalista independente, ativista do movimento feminista e fundadora do Bikini Kill. Kurt realmente sentia algo profundo por Tobi, e após diversas tentativas em falar com a moça, Cobain finalmente havia tomado coragem de marcar um encontro. No dia Kurt teve uma crise de ansiedade e acabou vomitando momentos antes do encontro, o que resultou na letra de Aneurysm. É o que conta Charles Cross na biografia Mais Pesado Que o Céu.

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“Love you so much that makes me sick”

Às vezes me pergunto se é possível sentir tanta falta de quem nunca conheceu, ou nem ao menos testemunhou em vida. Longe de idolatria, afinal, o próprio nunca se colocou nessa posição, mas o sentimento é como se uma pessoa fosse tão familiar que você não se surpreenderia que ela aparecesse do nada andando na rua empunhando sua guitarra e soltando sua voz arranhada pelos cantos.

Cobain era apenas mais um em meio a multidão, nunca almejou o topo, e talvez esse mesmo motivo tenha o levado até lá. Não existia fórmulas ou planos, ele apenas fazia o que dava na sua telha, o que ele vivia e tinha vontade de falar, e por isso essa fácil identificação. Ele não era porta-voz de geração nenhuma, mas todos se sentiam ouvidos cada vez que ele pegava em um microfone para falar sobre qualquer assunto. Homossexuais, obesos, negros, depressivos, mulheres, nerds e qualquer tipo de minoria que sofresse opressão, todos eram representados pela sua voz, não porque ele levantou essa bandeira ou exigiu que fosse representante de algo, mas pelo fato de que Kurt também fazia parte disso, ele também era um deslocado social, porém era um dos poucos que tinha a oportunidade de falar abertamente sobre isso e às vezes até mesmo dar o troco, talvez o único.

 

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Você tem que ver:

Last Days (2005):

Filme do cineasta Gus Van Sant baseado nos últimos dias de vida de Kurt Cobain (Inglês)

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Montage Of Heck (2015):

Considerado o documentário definitivo sobre a vida do artista, produzido por sua própria família e amigos.

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