Sepultura inicia turnê e comemora 30 anos em Santos nesta sexta-feira

Sepultura inicia turnê e comemora 30 anos em Santos nesta sexta-feira

Por Carlota Cafiero (*)

Preparem os ouvidos e os pescoços porque uma verdadeira avalanche sonora vem aí, com o show de uma das maiores bandas de thrash metal do planeta: o Sepultura, que toca nesta sexta-feira, na Tribal Eventos, em Santos, por onde inicia a turnê do mais novo álbum, The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart, lançado no Brasil pela Substancial Music, e em todo o mundo pela Nuclear Blast. Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo), Derrick Green (vocal) e o mais novo integrante, Eloy Casagrande (bateria), sobem ao palco depois das bandas Surra e Vetor.

Aos 30 anos de carreira e mudanças em sua formação original, o grupo segue fiel à mistura de metal, hardcore, thrash, punk e tribal que o consagrou neste que é o décimo terceiro disco de estúdio – e que tem um título longo porque cita uma frase do filme Metrópolis, de 1925, dirigido por Fritz Lang.

Em livre tradução, The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart significa: “o mediador entre a cabeça e as mãos tem de ser o coração”. E é dessa maneira que Andreas Kisser – que passou a liderar a banda após a saída dos irmãos e fundadores Max e Igor Cavalera (respectivamente vocal e batera) – diz que encara o seu trabalho.

“Sem amor ao que faço seria impossível manter uma carreira como essa, com tantas mudanças dentro e fora da banda. Pois o Sepultura veio de uma época em que não existia celular, quando o máximo em tecnologia era o fax. A banda também sobreviveu ao surgimento de vários outros estilos musicais, como o grunge. Trinta anos depois, continuamos fazendo o que curtimos e amamos”, disse o guitarrista, em entrevista para A Tribuna.

Para produzir este disco, a banda voltou a trabalhar com Ross Robinson, que produziu Roots, de 1995, o álbum de maior sucesso da banda. O novo registro oferece tudo o que se espera do Sepultura: intensidade, introduções longas e cheias de climas, letras politizadas, vocais indignados, riffs empolgantes e baixo e bateria que evocam ritmos brasileiros.

“Foi uma bela oportunidade voltar a trabalhar com o Ross Robinson. Roots é um dos discos mais importantes da nossa carreira e o Ross é um produtor que conhece muito bem a banda e se reinventou ao longo do tempo. Gosto dele porque é um produtor mais orgânico. Não fica muito preso ao computador. Não que a gente não utilize muito essa ferramenta, mas não nos tornamos escravos dela. A gente gosta de manter aquela coisa da banda tocando como se fosse ao vivo. Isso foi fundamental para termos essa sonoridade”, ressalta Andreas.

Público seleto
Com expectativa de tocar para cerca de 1,1 mil pessoas na Tribal, o Sepultura, apesar de conseguir lotar estádios, nunca deixou de fazer shows em espaços menores. “Sempre tocamos com a mesma garra, seja em festivais grandes como o Rock in Rio, seja em lugares menores. Gostamos de ter essa mobilidade e a dinâmica e o repertório costumam ser os mesmos”, promete Andreas, que adianta que o show terá cerca de 1h30 de duração.

No repertório, músicas do Mediator e, claro, também dos demais álbuns. “Sem dúvida tocaremos muitas do disco novo, mas relembraremos a história da banda, ainda mais neste momento em que estamos comemorando três décadas”.

Referências
The Mediator… é o primeiro disco gravado nos EUA desde Against – o primeiro com Derrick substituindo Max nos vocais, lançado em 1998 – e não é o primeiro a se inspirar conceitualmente em uma obra cinematográfica ou literária: Dante XXI (2006) é baseado no longo poema A Divina Comédia, de Dante Alighieri; e A-Lex (2009), no livro Laranja Mecânica, de Anthony Burgees.

Andreas conta que criar um álbum é como compor uma trilha sonora, coisa que ele tem feito desde o final da década de 1990. “Fiz trilhas para filmes como No Coração dos Deuses, do Geraldo Moraes, com o Antônio Fagundes. Eu e o Igor (Cavalera) participamos da trilha de Lisbela e o Prisioneiro (de Guel Arraes), onde surgiu a parceria do Sepultura com o Zé Ramalho (à qual os fãs chamam de “Zépultura”). Quando se define um tema, você foca o jeito que vai falar das coisas. Ajuda na criatividade quando você tem que trabalhar dentro daquele mundo, daqueles elementos que a outra obra fornece. Foi o que aconteceu com A Divina Comédia e Laranja Mecânica. O Metrópolis influenciou com a frase que escolhemos para o título. É um clássico do cinema que foi relançado com sequências inéditas, que estavam perdidas até 2010”, explica o guitarrista.

Porém, independentemente de se basear em um livro ou um filme, uma coisa que a banda não deixa de exercitar é a observação crítica da realidade, que se traduz em músicas como Trauma Of War, Manipulation of Tragedy, The Vatican e Grief – esta aborda a tragédia na boate Kiss, em janeiro de 2013, que matou mais de 200 jovens em Santa Maria (RS).

“Sempre estamos falando das coisas do dia a dia. A gente tem o privilégio de viajar o mundo, de ver e ouvir o mundo com nossos próprios olhos e ouvidos, e não ficar dependendo só de televisão e jornal. Isso nos dá uma visão mais pé no chão, mais realista do mundo. E é bom lembrar que moramos em uma metrópole, que é São Paulo, de onde vem essa necessidade de falar sobre os desafios de se viver em uma cidade grande”, considera o guitarrista, que tinha 19 anos quando entrou para o Sepultura, em 1987, e, hoje, aos 45, é pai de uma garota de 18, e dois garotos, um de 16 e outro de 8.

“Quando olho para trás, parece muito tempo, mas passou rápido. E é uma história única de uma banda brasileira tocando uma música extrema. Ter um reconhecimento internacional dessa forma dá muito orgulho”, conclui.

Serviço – Sexta-feira (17/01), a partir das 22 horas, na Tribal Eventos, Rua Frei Gaspar, 6, 3221-4360 e 9134-4949. Ingressos: R$ 40,00 (preço único), à venda na Evolution Skateshop (Shopping Miramar) e Nautica Tatoo (Shopping Praiamar), em Santos. Censura: 18 anos.

(*) Matéria originalmente publicada em A Tribuna no dia 17/01/2014