Foto: Grizzlee Martin
Após quase dois anos de uma longa espera por notícias do Sleeping With Sirens, um novo disco foi lançado na última sexta-feira (22) – dia difícil de se destacar no cenário post hardcore & metalcore, uma vez que disputava lugar com novidades do Circa Survive, Asking Alexandria e Enter Shikari. Mesmo assim, Gossip chegou aos serviços de streaming com 37 minutos em que o ouvinte é convidado a descobrir os limites da própria identidade musical da banda.
Formada em 2008, nos Estados Unidos, por Kellin Quinn (vocal), Jack Fowler (guitarra), Gabe Barham (bateria), Nick Martin (guitarra) e Justin Hills (baixo); a banda fez sua carreira em cima de singles pesados, em que a voz aguda e delicada de Quinn era a cereja do bolo – em um show de contrastes e letras românticas. Principalmente em seus dois primeiros álbuns, With Ears To See And Eyes To Hear (2010) e Let’s Cheers To This (2011), as músicas mais delicadas e com temas bastante fortes ganharam o interesse e carinho do público.
Mas, em Gossip, a receita mudou. Melodias mais leves e pop, toques eletrônicos e letras mais corajosas. O que grande parte dos fãs não esperava. Em junho deste ano, falei aqui na coluna sobre o processo de gravação do álbum. A banda passou semanas em um ‘retiro musical’ em New Jersey, quase isolada, para pensar no novo disco e afirmou que o trabalho seria mais dark e sentimental – “como uma luz no fim do túnel”, afirmou o vocalista. Mas não foi dessa forma que o álbum foi recebido por todos. Na internet e grupos em redes sociais há uma forte crítica ao trabalho da banda.
O disco começa poderoso, com Gossip, que dá nome ao álbum. Embora a música seja muito divertida e dançante, a letra parece não ter saído das mãos de Quinn. Ela é muito comercial e cheia de si. Legends é a terceira faixa do álbum e primeiro single lançado do disco. Outra faixa divertida, mas que causa uma certa estranheza por ter uma pegada parecida com raggae e muitos ‘oh-oh-oh’. A música foi escolhida para representar a equipe de natação americana na próxima olimpíada, o que a torna bastante importante no disco.
Touble, Empire To Ashes e Cheers também são faixas que fogem um pouco do que estamos acostumados a ouvir do SWS. Ainda são rock, mas bastante positivas, vibrantes e pop. Nelas, é possível perceber uma maior pegada eletrônica, o que já vinha aparecendo nos últimos dois discos, mas que agora está mais presente do que nunca.
Por outro lado, duas músicas parecem resgatar a identidade inicial da banda: Closer e One Man Army. Na primeira, é possível ouvir a voz de Quinn mais confortável, mais despojada, em seu tom agudo natural, com uma melodia e letra delicadas. A segunda foi apontada pelo vocalista como sua favorita. Ela tem um refrão curto, mas que facilmente gruda na cabeça – o que é ótimo! A letra faz jus ao título e fala sobre não poupar os esforços, mesmo sozinho, para conseguir o que quer.
Hole In My Heart é uma das músicas mais belas do álbum, mais uma em que ouvimos o melhor da voz de Kellin Quinn. Nela ouvimos uma letra mais dolorosa, com uma “luz no fim do túnel”, assim como o vocalista afirmava que o disco seria. Ela tem um propósito bem coerente com a ideia do disco e com o trabalho do SWS. Need To Know completa a dobradinha de faixas românticas. Ela é bastante pop, que casou muito bem com o disco.
De modo geral, o álbum cumpre sua missão: mostrar um outro lado do Sleeping With Sirens. Vivemos uma época em que as bandas estão constantemente provando sua evolução e versatilidade, nem sempre agradando seus fãs. E isso é incrível! É bom saber que muita música está sendo criada não apenas para vender discos (ou downloads), mas para a expressão dos próprios artistas. Nas entrevistas que antecederam o lançamento de Gossip, o toda a banda se dizia bastante orgulhosa de poder mostrar seu lado mais pop, blues (e até meio raggae), que ainda não havia sido exposto.
A mudança de gravadora também pode ter tido alguma influência neste disco. Antes pela Epitaph Records e agora pela Warner, a banda estará exposta a um público muito maior do que o anterior, o que pede músicas diferenciadas, capazes de agradar um número maior de pessoas. Outro fator de mudança também foi a ‘mão invisível’ de David Bendeth, produtor do disco. Conhecido por álbuns ‘revolucionários’ de bandas como Paramore, Asking Alexandria e Killswitch Engage, ele pode ter encorajado o SWS a ir além do óbvio e mostrar novos limites para sua própria identidade musical.