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Slow Train Coming – O grito cristão de Robert Zimmerman

RICARDO AMARAL

Quer você queira ou não, é a hora da tradução: Precious Angel. Bob Dylan é uma criatura de complexa compreensão. Sua origem judaica sempre esteve ligada à sua instrução intelectual e sempre assombrou sua capacidade de mudar. Mudar sempre. Slow Train Coming é a maior marca de suas inúmeras mudanças.

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O álbum começa fantástico na ilustração da capa, assinada por Katherine Kanner. O trem chegando enquanto na ferrovia ainda em construção. Genial! Só a presença de Mark Knopfler (Dire Straits) dá ao álbum status de imortal.

Lançado em 1975, Dylan praticamente estreia e encerra sua fase Gospel, louvando a Jesus Cristo e confessando resistência e o ceticismo criado com a sua nova opção religiosa. Deixe-se bem claro que a aceitação do mito, ou dogma sagrado de Jesus não destrói ou corrompe o judaísmo, mas só o sustentam. Jesus viveu, professou e morreu como judeu, não tendo, nunca, segundo suas “escrituras” (que não são suas), criado uma igreja nova ou uma nova crença.

Assim a poesia de Dylan desfia maravilhas da primeira a última faixa de Slow Train Coming! Deixemos a melhor para o final. Precious Angel.

Got to Serve Somebody é uma fortíssima crítica social que esmaga a hipocrisia da “escolha” de Dylan em servir a Cristo. Na canção, Dylan revela que todos, todo tempo, servem a alguém, de uma certa forma.

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“Você pode ser um embaixador para a Inglaterra ou França:
Voce pode gostar de jogar, você pode gostar de dançar;
Você pode ser o campeão mundial dos pesos pesados;
Você pode ser uma socialite, com um longo colar de perolas;
Mas você vai ter quer servir a alguém. Sim, realmente, terá de servir alguém;
Pode ser ao diabo, pode ser ao Senhor…”

I Believe in You é um vigoroso desabafo. Dylan narra a reação da sociedade por “acredita em você”. Os contra cantos da guitarra de Mark Knopfler desenham a suavidade da fé e a delicadeza da confissão de amor a Jesus. Uma obra prima!

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A faixa título é uma ácida crítica aos curandeiros, satanistas e aos políticos malfeitores. Dylan metaforiza o “trem” como a morte para igualar a todos.

Man Gave Name to All The Animals remete o ouvinte ao gênesis, à criação. Num recatado reggae, Dylan faz sua síntese da criação, obviamente expondo o dogma inquestionável, contra a inevitável construção cientifica da evolução Darwiniana.

Por fim, a mais bela canção do álbum, Precious Angel, na qual a poesia de Bob Dylan lança mão de figuras poéticas tão fortes e vibrantes, que se pode enxergar cada desenho e cada intenção literária criada pelo gênio de Dylan

Agora….Quer vocês queiram, ou não é a hora da tradução…

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Anjo precioso, sob o sol,
Como eu ia saber que você seria a única
A me mostrar que eu estava cego, me mostrar que eu tinha ido partido.
Quão fraca é o fundação que me sustentava?
Agora, há uma guerra espiritual e a carne e sangue rompendo.
Você ou tem fé ou tem incredulidade e não há nenhum terreno neutro.
O inimigo é sutil, como seja, estamos tão enganados
Quando a verdade está em nossos corações e nós ainda não acreditamos?

Brilhe sua luz, brilhe sua luz em mim.
Brilhe sua luz, brilhe sua luz em mim.
Brilhe sua luz, brilhe sua luz em mim.

Eu sei que não poderia fazê-lo por mim mesmo.
Eu estava um pouco cego demais para ver.
Meus assim chamados amigos caíram sob um feitiço.
Eles me olham diretamente nos olhos e dizem: “tudo está bem.”
Podem imaginar a escuridão que virá do alto
Quando os homens implorarem a Deus para matá-los e eles não forem capazes de morrer?
Irmã, deixa eu falar sobre uma visão que eu tive
Você estava servindo água para o seu marido. Você sofria sob a lei.
Você contava a ele sobre Buda, você contava a ele sobre Maomé
na mesma ocasião.
Você nunca mencionou nenhuma vez o homem que veio e morreu como um criminoso.

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Brilhe sua luz, brilhe sua luz em mim.
Brilhe sua luz, brilhe sua luz em mim.
Brilhe sua luz; brilhe sua luz em mim.

Eu sei que não poderia fazê-lo por mim mesmo.
Eu estava um tanto cego demais para ver.
Precioso anjo, você acredita em mim quando eu digo
O que Deus nos deu, nenhum homem pode tirar.
Estamos cobertos de sangue, menina, você sabe que os nossos antepassados eram escravos.
Esperemos que eles encontrem misericórdia em suas sepulturas cheias de ossos.

Você é a rainha da minha carne, menina, você é minha mulher, você é o meu prazer,
Você é a lâmpada da minha alma, menina, e você ilumina até a noite.
Mas há violência nos olhos, garota, então não vamos ser induzidos
Na saída do Egito, através de Etiópia, à sala de julgamento de cristo.

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Bob Dylan é uma escuridão na língua portuguesa. Suas poesias são tão profundamente ricas que o prêmio Nobel não lhe veio para angariar agrados dos fãs de sua música. Dylan é um soco no estômago. Uma revelação visceral da realidade. O maior letrista da história da música.

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