VINICIUS HOLANDA
A comparação pode ser ousada, mas tem fundo de verdade: Bob Marley está para o reggae como o Slowdive está para o shoegaze (ou shoegazing). Essa vertente viajante, melódica e, muitas vezes, melancólica do indie rock encontra sua melhor tradução no som da banda de Reading (Inglaterra).
Apresentados pela imprensa britância com a Scene That Celebrates Itself – já que os integrantes de um grupo eram sempre vistos nos shows dos outros -, os showgazers ganharam um breve destaque no Reino Unido na virada da década de 1980 para 1990. O quinteto fez escola e ganhou cópias em outros países a partir do primeiro álbum, Just For a Day (1991), e seu sucessor, Souvlaki (1993).
As guitarras etéreas, que muitas vezes eram confundidas com teclados, a infinidade de efeitos (flanger, reverb, delay, entre tantos outros) e o clima tristonho acabou virando tendência naquele período. Ride, Chapterhouse, My Bloody Valentine, Pale Saints, Adorable, Lush, uns mais, outros menos, fizeram seu barulho – às vezes, silencioso. Até o grunge explodir do outro lado do oceano e tomar de assalto o rock.
A boa notícia poderia ser apenas a volta do Slowdive, há dois anos. As duas principais caras da banda, os vocalistas e guitarristas Neil Hastead e Rachel Goswell, deixaram para trás o trabalho com o Mojave 3, de som bem acústico, para retomar as pedaleiras. Não só: em maio o quinteto lança um novo disco (homônimo). As duas músicas que já foram liberadas para audição prévia, Sugar for the Pill e Star Roving, dão mostras de que valeu esperar duas décadas após o último trabalho, o fraco Pygmalion (1995).
Mas o melhor ainda está por vir: os ingleses trazem seu dreampop para o Brasil, mais especificamente no Cine Joia, em São Paulo, no dia 14 de maio. Eles serão a atração principal do Balaclava Fest – festival que já trouxe o Swervdriver, outra banda associada ao estilo. As canções já liberadas mostram que pouca coisa mudou. Estão lá as melodias agridoces emolduradas pela muralha de efeitos. Está lá a ambientação soturna. Os vocais ternos e algo entediados. É a prova de que pode haver muita beleza sob as sombras.