RICARDO AMARAL
Revolver, a continuação. Nunca era cedo ou tarde demais para eles. A capacidade de recriação dos Fab Four, sob a batuta de George Martin não tinha fim . Era agosto de 1966 e, diante das transformações advindas do psicodelismo e da perplexidade diante do novo álbum dos Beach Boys, surgia Revolver. O sétimo álbum dos Beatles surpreendia toda crítica. Pela primeira vez, diante da fúnebre Eleanor Rigby, os críticos de música clássica da BBC se curvaram a um disco pop!
Superando o seu antecessor Rubber Soul, Revolver trazia a primeira capa que desvencilhava a caricatura de bons moços do grupo. Sob assinatura de Klaus Voormann, amigo da banda desde os bares em Hamburgo, a capa traz gravuras e recortes fotográficos obtidos pelo autor.
As música trafegam entre o ocultismo oriental de Love You Too, de George Harrison; o ufanismo de Yellow Submarine e o grande ensaio psicodélico de Tomorrow Never Knows (aqui entre nós, minha canção preferida no álbum). Detalhe: nesta música, o solo da guitarra foi gravado de trás pra frente. Isso mesmo! Não se sabe como, mas a métrica permitiu que isso fosse feito. O que criou um estigma. Bandas como The Zombies e Cream tomaram a mesma iniciativa. E, digamos, o som cria um perfeito clima para as viagens de então.
George Martin, um mago! Mostrou que sua criatividade ultrapassava as expectativas, o que se revelou em bandas que produziu depois dos garotos de Liverpool, como o America! Voltando ao Revolver (sorry, viajei)… Pela primeira vez uma banda inglesa criava um funk. Por favor, o funk da época tem a ver com o de ‘hoy dia’, como Tonico e Tinoco com o sertanejo universitário. Got to Get You Into my Life, regravada pela inesquecível Earth Wind and Fire, enche o som de metais com um toque negro e soul! Revolver era então o prenúncio a última raiz a fincar-se do tronco que se seguia. A árvore do Rock, de cujos galhos sairiam todos os ramos, folhas e frutos do que hoje conhecemos, estava enraizada. O tronco? A banda dos corações solitários do Sargento Pimenta!