Como muitos já sabem, o glam foi um dos principais gêneros da juventude britânica vigente nos anos 1970. Sua expansão, no entanto, provém de muitos lados. Muito se comenta sobre as transformações camaleônicas que David Bowie protagonizou em sua fase áurea; porém, foi a partir de um estopim de Marc Bolan que a purpurina e os conceitos sonoros do gênero começaram, de fato, a fluir no Reino Unido e no mundo.
Com The Slider, terceiro disco de estúdio do T. Rex, comandado por Bolan, a terra da rainha se viu palco de uma nova sensação entre os jovens, o que abriu espaço para bandas como Slade e New York Dolls cativarem um novo público. Bowie era fã assumido de Bolan, e foi a partir desse disco que surgiram petardos como Hunky Dory, Ziggy Stardust e Aladdin Sane – três dos maiores clássicos da carreira do cantor e da cena glam.
A estética do disco, de capa propositalmente porca (uma fotografia do Marc Bolan desfocada tirada por ninguém menos que Ringo Starr), é o epicentro de tudo que o gênero viria a ser, com melodias inocentes em contraste com uma orquestração classuda. A principal forma de expressão artística do glam, que eram as vestimentas exageradas dignas de Xou da Xuxa misturadas com androginia e sex appeal, também surgiu pela primeira vez aqui, o que à princípio gerou o ódio daqueles que prezavam pela moral e pelos bons costumes. Mas os jovens adoravam.
Nos aspectos sonoros, o pop rock de fácil digestão cativava, em maioria esmagadora, o público adolescente da época. Um fato compreensível, visto que baladas como Mystic Lady e The Slider grudam tanto quanto qualquer canção da Anitta na cabeça de um jovem de 15 anos. Outras faixas, como Metal Guru e Rock On, são daquelas que te deixam feliz a ponto de dançar pelado quando está sozinho em casa.
Tecnicamente falando, as músicas são a principal vitrine para o que viria a ser o hair metal – ou metal farofa, como prefiro chamar – nos anos 1980. Os backing vocals agudos, gritados em coro, são algumas das muitas características inerentes ao gênero oitentista presentes no disco.
Marc Bolan morreria em um acidente de carro cinco anos anos depois. Na época, tentava desprender-se das amarras sonoras que o mesmo construiu. Enquanto Bowie conseguia cada vez mais prestígio, passeando por novas sonoridades e atingindo diferentes públicos, Marc tinha dificuldades em se desvincular da estética que criou, se limitando ao público adolescente e sendo, muitas vezes, desmerecido por conta disso.
No entanto, é importante enfatizar o fato de que o T. Rex apresentou uma curta, porém consistente discografia: todos os discos, desde o debut homônimo até o esquecido Tanx, de 1977, apresentam uma qualidade irrevogável, que a grosso modo se sobressaem a 90% do que foi lançado no período glam.
