Para presentear os fãs, Elton John iniciou 2020 com o lançamento de Live From Moscow 1979. Acompanhado apenas por Ray Cooper, um dos maiores monstros da percussão (até os dias atuais), o pianista fez história.
Entre os dias 21 e 28 de maio de 1979, a Rússia ainda era chamada de União Soviética, ou União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Os shows foram maiores diante das tensões da Guerra Fria entre a URSS e o Ocidente.
Ademais, um sinal crescente da tolerância das autoridades comunistas em relação à cultura popular ocidental. Além disso, Elton John, que já havia saído do armário, via sua carreira com uma leve caída. Todavia, ele se tornaria o primeiro artista de rock a aparecer na URSS.
Acordo com a URSS
Elton acreditava que se pedisse para ir à Rússia fazer alguns shows, eles aconteceriam. Mas claro que não. Teve que ser feito um pedido à embaixada soviética em Londres. Logo, um oficial cultural da embaixada foi a um show do músico. Impressionado, foi concordado que aconteceria dez concertos.
John Reid, empresário de Elton, declinou. Ele queria oito shows, divididos em Leningrado (atual São Petersburgo) e Moscou. Por US$ 1.000 por show, Elton John embarcou rumo a Moscou.
Com ingressos custando 8 rublos, que equivalia ao salário médio diário da União Soviética, 90% dos tíquetes foram comprados por membros do Partido, diplomatas e oficiais militares. O restante era encontrado em mercado paralelo por até 25 vezes o preço oficial.
Lembrando que, com o repudio da cultura ocidental, discos do Elton John custavam cerca de US$70 cada no mercado paralelo.
Concertos
Os concertos abriam com Your Song, apenas Elton no piano, seguido de faixas mais intimistas como Daniel, Sixty Years On e Skyline Pigeon. O momento ápice do show era em Funeral For a Friend, onde Ray Cooper aparecia lunático, vestido como um bibliotecário rufando tambores e címbalos enquanto a introdução de Tonight emergia.
O show transcorria com Part Time Love, Better Off Dead, Bennie and The Jets e Crazy Water. Quando as luzes subiram depois da última música, os oficiais do alto escalão deixavam o salão.
Logo, a frente do palco era tomada pelos fãs para mais uma explosão de Saturday Nights (Alright For Fight), Pinball Wizard, Crocodile Rock, Get Back e finalizando com Back In The URSS.
As autoridades russas deixaram avisado que não poderia tocar Back In The URSS. Mas Elton John faz o que quer para manter a plateia agitada. O que não aconteceu durante maior parte do show.
Acontece que não poderia ter nenhum tipo de manifestação que estamos acostumados a assistir em shows da década de 1970, com todos pulando, dançando. Quem fizesse isso, seria preso. Até o momento que os oficiais saíssem.
Outra proibição: não chutar a banqueta do piano. Ignorado do mesmo modo.
Pós-show de Elton John
Em entrevista dada em 1986, o músico disse “obviamente os anfitriões soviéticos queriam propaganda pré-olímpica”. Lamentou também que apenas 10% dos ingressos foram disponibilizados para o público. Além disso, destacou a generosidade do povo russo.
O concerto final, realizado na Rossiya Concert Hall em 28 de maio, foi marcado como a primeira ligação estéreo por satélite entre a URSS e o Ocidente. Tudo isto devido a transmissão ao vivo pela BBC pela Europa. Na Grã-Bretanha, o programa foi ao ar na Rádio da BBC.
Agora, lançado com apenas 16 músicas, entre elas I Heard It Through The Grapevine, cover de Marvin Gaye, que dura quase 12 minutos, Elton John mostra que não é preciso de uma banda. Só colocar alguns quilos de cocaína, litros de vodka, um piano e a freneticidade de Ray Cooper com pandeiros, címbalos, xilofone e tambores que tudo vira uma festa.
O show pode ser conferido no documentário To Russia With Elton. Completo, vocês podem conferir nos bootlegs Russian Bullet e A Single Man In Moscow (ou abaixo), gravado durante o último show em Moscou.