Estou lendo nas últimas semanas o livro O Guia Politicamente Incorreto do Rock dos Anos 80 (Leya), escrito por (querendo ou não) uma das cabeças que ajudaram a moldar essa geração que para alguns foi brilhante e para outros uma tremenda de uma catástrofe.
No livro, Lobão começa relembrando o Festival de Saquarema, em 1976, idealizado pelo onipresente Nelson Motta, e que contou com Raul Seixas, Rita Lee, Made in Brazil, Vímana com Ritchie, Lobão, Lulu Santos, O Terço e uma iniciante Angela Ro Ro.
Passando por todos os movimentos artísticos até chegar na década de 1980, Lobão relembra fatos importantes deste período como cinema, acontecimentos, música e os especiais de Roberto Carlos na Globo, que é chamado de múmia depressiva pelo autor.
Mas o foco são os anos 1980, que teve a Blitz abrindo as portas para bandas que hoje em dia ainda estão na ativa ou deixaram saudades. Hoje, no Som na Vitrola, vou relembrar algumas bandas que esculpiram esse movimento.
NOTA: Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Titãs, Blitz, Biquini Cavadão, Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Lulu Santos, Marina Lima, RPM e etc, não estão na lista. Todos tiveram seus papéis no cenário, mas acho que deveria destacar outras bandas que só quem viveu a época chegou a ouvir. Esse é meu agradecimento por terem feito minha cabeça desde que me conheço por gente.
- Gang 90 e As Absurdettes
“Boa noite, senhoras e senhores, eu sou o comissário de bordo Sérgio Ronaldo. Apertem os cintos, pois este vôo está caindo HAHAHA!”
Mesclando o new wave com beatnik, batidas fortes e coro feminino, a Gang 90 e as Absurdetes teve sua estreia na lendária Paulicéia Desvairada em 1981, seguido ainda para o Festival MPB Shell, com a música Perdidos na Selva.
O grupo foi formado pelo disc jockey Júlio Barroso, que gravou apenas três álbuns (Essa tal de Gang 90 e as Absurdettes, Rosas e Tigres, Pedra 90). Trazia em sua formação Herman Torres, Alice Pink Pank, May East, Lonita Renaux, Wilma Nascimento, Gigante Brazil e uma participação de Wander Taffo na guitarra.
Júlio faleceu no dia 6 de junho de 1984, após cair da janela de seu apartamento, no 11º andar.
https://www.youtube.com/watch?v=Oyh6WfRRHMg
- Eduardo Dusek (ou Dussek)
“O que que eu fazia no banheiro, que eu me sinto feliz.”
O sucesso sorriu para Dusek no MPB Shell, em 1980, quando entrou no Maracanãzinho para cantar Nostradamus. Uma música sobre o fim do mundo interpretada por um homem de cabelos longos com asas nas costas, parecendo um anjo saído de um filme de comédia classe C.
Dusek lançou um dos álbuns mais importantes da década de 1980: Cantando no Banheiro. Com a participação de Léo Jaime e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados, o álbum emplacava a faixa-título, Barrados no Baile e Rock da Cachorra.
- Espírito da Coisa
“Mamãe, eu acho que estou ligeiramente grávida. Mamãe não fique pálida, a coisa não é ruim, se bem que você já ficou assim”
Em um pop rock satírico, o Espírito da Coisa, formado por Cláudio (voz), Dila (voz), Victor (voz), Katita (voz), Paulo Correa (guitarra, piano, violão, flauta e voz), Guilherme (teclados, saxofone e flauta), Cláudio Matheus (baixo) e Sobral (bateria e percussão), seguia a mesma linha da Blitz, e lançou apenas um álbum. Mas a música chiclete Ligeiramente Grávida marcou a década.
- Dr. Silvana & CIA
“Taca a mãe pra ver se quica!!”
Formada em 1984 porRicardo Zimetbaum, Cícero Pestana, Jorge Soledade e Edu Lissovsky, a banda ficou marcada pelo duplo sentido em suas letras.
Lançaram no mesmo ano o compacto Eh! Oh!, e o álbum Dr. Silvana & Cia, que trazia os singles Serão Extra e Taca a Mãe Pra Ver Se Quica.
- Magazine
“Acordo sete horas, tomo ônibus lotado, entro oito e meia eu chego sempre atrasado… Sou boy”
Após ser jogado na roda como traidor do movimento punk, Kid Vinil encerra temporariamente os trabalhos de sua banda Verminosa e coloca a quinta marcha e cria o Magazine junto de Lu Stopa, Trinkão e Ted Gaz.
O grupo com seu som new wave teve papel fundamental no cenário rock trash dos anos 1980 com Sou Boy, Tic-Tic Nervoso, Kid Vinil e a regravação de Comeu, de Caetano Veloso.
- Egotrip
“É magia, energia, mutação em mim”
Formada em 1985 por Arthur Maia, Nando Chagas, Pedro Gil, José Rubens e Francisco Farias, o Egotrip foi presença carimbada no Cassino do Chacrinha, e chegou a lançar um álbum, homônimo, que trazia Viagem ao Fundo do Ego e a doce Kamikaze. O grupo encerrou as atividades em 1990 com o falecimento do baterista Pedro Gil, filho do Gilberto Gil, em um acidente de carro.
- Herva Doce
“Amor sem preconceito, sigilo total, sexo total, amante profissional”
Formada durante o carnaval de 1982 por Marcelo Sussekind e Renato Ladeira, o Herva Doce se destacou nas rádio com Amante Profissional e Erva Venenosa, regravação dos Golden Boys.
O grupo ainda chegou a abrir para o Kiss, em sua primeira excursão pelo Brasil, no dia 18 de junho de 1983, no estádio do Maracanã, para um público de 200 mil pessoas.
Em 2015, Renato Ladeira, que foi também vocalista d’A Bolha, faleceu aos 63 anos no Rio de Janeiro.
- Metrô
“Coração ligado, beat acelerado”
Formada em 1978, com o nome de Gota Suspensa, no colégio Liceu Pasteur, por Virginie Boutaud (vocais), Alec Haiat (guitarra), Yann Laouenan (teclados), Xavier Leblanc (baixo) e Dany Roland (bateria), a banda mudou a sua sonoridade rock progressivo para o new wave em 1984 junto com o nome que faria a banda ser conhecida: Metrô.
Com o sucesso em ascensão, o Metrô chegou ao mesmo patamar que Barão Vermelho, Ultraje a Rigor, Kid Abelha e Titãs com o seu primeiro álbum, Olhar.
O Metrô teve dois momentos em que pararam suas atividades, voltando em 2015 com a formação original.
- Rádio Táxi
Por isso, põem devagar, põem devagarinho que é pra não machucar. Põem bem de mansinho dentro do coração”
O Rádio Táxi foi a junção dos integrantes do Tutti Frutti, banda de apoio da Rita Lee e dos Secos e Molhados. Composto por Wander Taffo, Lee Marcucci, Gel Fernandes e Willie de Oliveira em 1981, o grupo emplacou sucessos como Garota Dourada, Coisas de Casal, Com o Rádio Ligado. Após o segundo álbum, Willie (vídeo) saiu da banda, sendo substituído por Maurício Gasperini (foto – primeiro da esquerda para direita)
- Cinema A Dois
“Não me iluda, vou te esquecer. Você me pertuba sem perceber”
O Cinema a Dois foi formado no Rio de Janeiro, em 1985, por Fábio Fonseca, Torquato Neto, Bruno Araújo e Kadu, e fez sucesso apenas com o single Não Me Iluda.
- Brylho
“Na madrugada, vitrola rolando um blues, tocando B.B. King sem parar”
Com Cláudio Zoli como integrante, o Brylho fez um dos maiores hits dos anos 1980, revisitado pelo guitarrista até hoje: Noite de Prazer.
Formada em 1978 como Brilho da Cidade, o grupo continuou até 1986 quando encerrou as atividades. Arnaldo Brandão fundou o Hanói-Hanói, Zoli seguiu carreira solo, Paulo Zdanowski formou a Banda SoulRio e, infelizmente, Robério Rafael foi acometido por um AVC e não pôde dar continuidade com a bateria.
- Sempre Livre
“Você pode fazer o que quiser comigo, eu não ligo…Eu Sou Free !”
E no Rio de Janeiro surgiu uma banda formada só por mulheres, com um nome fazendo menção à uma marca de absorventes femininos.
A Sempre Livre conquistou o território, mostrando que mulher também sabe fazer rock and roll, com o disco Avião de Combate em 1984. Lançaram em 1986 mais um álbum, homônimo.
Com cinco fases distintas de integrantes, em sua primeira tinha Dulce Quental no vocal e segue na ativa até hoje.
