A noite do Oscar foi marcada por quatro filmes premiados e destacados. Dois deles carregam uma temática musical: Bohemian Rhapsody e Green Book. O segundo mostra a viagem de Don Shirley e Tony Lip pelo sul dos Estados Unidos, na década de 1960. A história, que é marcada por música clássica e jazz, também apresenta lados obscuros da segregação que ocorria naquela época (ou ainda hoje), principalmente nestes estados americanos.
Influenciado no piano por sua mãe desde que aprendeu a andar, como ele dizia, Donald Walbridge Shirley já era considerado um virtuoso no instrumento em sua adolescência. Conhecido por executar obras de grandes nomes da música erudita. Durante as décadas de 1950 e 1960, teve destaque por seus álbuns lançados pelo selo Candence, um extinta gravadora de jazz e erudita que trazia como emblema um metrônomo.
Durante a década de 1940, Shirley havia realizado um concerto menor de Tchaikovsky, além de uma composição de sua autoria na Orquestra Filarmônica de Londres. Na década seguinte, Don Shirley compôs inúmeras sinfonias de órgãos, concerti de piano, violoncelo, quartetos de corda, óperas de um ato, obras para órgão, piano e violino e um poema de tom sinfônico baseado no romance Finnegans Wake, de James Joyce. Isso sem falar da obra de maior destaque, Orpheus in the Underworld, de 1956.
Pulando um pouco o tempo, na década de 1960, ele viajou com Tony Lip, interpretado por Viggo Mortensen (Senhor dos Anéis) no filme, pelo sul dos Estados Unidos, tocando obras de Beethoven, Mozart e Bach para a mais alta sociedade. Mesmo sendo doutor em Música, Psicologia e Artes Litúrgicas e tocando o créme de la créme da música clássica, ele sofreu os maiores abusos da época. Não importava os estudos e conhecimento. Ser negro ofuscava tamanho brilhantismo.
Don Shirley lançou 24 álbuns – sem falar das inúmeras apresentações em teatros -, sendo a maioria produzida durante as décadas de 1950 e 1960. O último álbum da década de 1960 se tornou um clássico. Don Shirley In Concert é disputado até hoje a socos e pontapés.
Em 1972, ele voltaria com The Don Shirley Point of View, pela gravadora Atlantic. Retornou aos estúdios 29 anos depois com Home With Donald Shirley. Morreu em abril de 2013.
Felizmente, há produtores e artistas que ainda têm interesse pelo passado, querendo resgatar figuras que merecem destaque, por ter feito algo de grandioso ou por não serem completamente conhecidos, caso de Don Shirley. O artista tocou as mais notáveis obras eruditas exatamente de modo inteligente, respeitoso e sem muitos floreios. Exatamente como ele era.