Som na Vitrola #89 – Post Traumatic, a jornada de Mike Shinoda

Daqui um mês fará um ano que todos nós fomos pegos de surpresa (não por falta de aviso) de que o Linkin Park ficava desfalcado de Chester Bennington. Após o seu suicídio, no mesmo dia do lançamento de um clipe inédito do LP e que sucedeu o novo álbum, One More Light, a incógnita que teimava em aparecer nas mentes dos fãs se tornou mais forte: como será o futuro de uma das bandas que fez parte da vida de muitos desde 2000 com Hybrid Theory?

Se não foi fácil para os fãs, imagina para Mike Shinoda e o restante da banda…

A saída tomada por Shinoda foi colocar todo o sentimento sobre o acontecimento em suas músicas. E assim nasceu, em circustâncias tristes, Post Traumatic. Girando em torno de poder gritar sobre demônios internos, o álbum pode ser considerado um diário de um pesadelo.

Mesmo que seja perturbador ouvir sobre o suicídio de Chester em refrões, elas se tornam uma direção ao início da aceitação e cura do luto. Quanto mais o sentimento melancólico visível, as faixas eletrônicas funcionam mais do que as de raiva, com uma emoção crua, capaz de nos fazer encontrar força e conforto.

Abrindo o álbum com Place To Start, Shinoda dá uma chance ao sentimento que todos nós sentimos com a perda, focando na sensação de não saber por onde começar. A canção é seguida por Over Again, expondo o problema de “Será que há um próximo?, explorando a mutilação pública de uma morte e o processo de cicatrização.

Logo quando Crossing a Line inicia, o ritmo acelera e o álbum obtém um novo ar. Uma percussão sinfônica ligada a um pop dá a sensação de um novo fechamento, indo em direção à aceitação. Liricamente é como se fosse uma conversa entre Chester e Mike dizendo que ele o está deixando, como própria necessidade, mas não significa que ele está sendo deixado para trás, esquecido.

Holding It Together, é uma falsa sensação de diversão, tratando como se fosse uma fuga. Parecido quando você precisa colocar um sorriso no rosto, mesmo que esteja em processo de aceitar ainda. Em Make It Up I Go, os vocais de K. Flay se encontram com o de Shinoda, um dos pontos altos do álbum, pela dinâmica vocal ao longo a música. Lift Off, com Chino Moreno (Deftones) e Machine Gun Kelly, expressa uma jornada de redescoberta de si mesmo, apesar das armadilhas e obstáculos.

No final do álbum, a diferença é gritante entre o início do álbum. Na faixa IOU, Shinoda recupera seu poder e encontra um final confortável nesta jornada através de sua dor. Running From My Shadow, tem uma batida cativante, com percussão, guitarras e sintetizadores, e já se tornou um dos favoritos dos fãs. E se não é, será.

O álbum fecha com Can’t Hear You Now. A última parada deste turbilhão significa Shinoda reconhecendo que em momentos assim você passa pela escuridão e que é mais fácil chegar lá do que os outros, com trabalho necessário você pode se encontrar em um bom lugar. O desejo e a vontade de superação e continuar seguindo sempre foi o caminho do Linkin Park. Desta vez, Shinoda está carregando a tocha.

Melhor do que muito livro de auto-ajuda, o álbum passa por um lado escuro e triste, indo para um final ousado e fortalecedor, marcando o início de um novo capítulo. Um dos álbuns mais pessoais sobre o processo de um homem, não apenas sobre a perda de um melhor amigo, mas a incerteza que surge quando o trabalho de uma vida é questionado e você não tem respostas. Post Traumatic é um convite aos fãs poderem processar tudo que acontece. Original, narrativo e inovador, Shinoda fez um trabalho terapêutico digno de Chester Bennington.