O meio da semana começou mais triste e pobre com o falecimento de Aretha Franklin. Cresci ouvindo seus sucessos, que minha mãe colocava incansavelmente, sempre que podia. É sério, com oito anos de idade eu cantava I Say a Little Prayer For You, canção de Burt Bacharach gravada originalmente por Dionne Warwick e, explosivamente, superada pela Rainha do Soul, e imortalizada nas telas do cinema no filme O Casamento do meu Melhor Amigo de 1997.
Aretha passou como um terremoto pelo mundo da música gospel, soul, R&B e pop, e claro, deixou várias pessoas de queixo caído com o seu piano subestimado e sua voz poderosa, que influenciou no movimento negro quando cantava que era jovem, talentosa e negra, ou quando pedia “r-e-s-p-e-i-t-o” em seu sucesso Respect, onde se ponderava diante dos abusos de seu parceiro. A versão original havia sido composta por um homem, o cantor Otis Redding, falecido em um acidente de avião em 1967, e Aretha reconstruiu o arranjo e seu sentido. Confiante e urgente, a canção tornou-se um canto para as batalhas feministas e antirracistas da época.
Com 42 álbuns de estúdio e seis ao vivo, e milhares de compilações, existem 5 álbuns para entender, sentir, amar e idolatrar a Rainha.
- I Never Loved a Man the Way I Love You (1967)
Ocupando o ranking de número 83 na lista dos maiores álbuns da história da música, I never loved… jogou Aretha mais alto do que já estava no estrelato com a já citada Respect, mas outros focos devem ser dados à Drown In My Own Tear, Dr. Feelgood e Soul Serenade, onde uma Aretha Franklin canta com todas as suas forças para um coração partido ou preces de amor.
- Lady Soul (1968)
Falar de seus álbuns sem citar Lady Soul beira ao sacrilégio. Chain Of Fools e sua batida R&B junto com Aretha cantando e os vocais repetindo com “Chain, Chain, Chaaain” te faz querer dançar, assim como Since You’ve Been Gone, Money Won’t Change You. É aquele álbum que você vai ouvir várias vezes e agradecer por ter vivido no mesmo planeta que ela.
- Aretha Now (1968)
A pressão de um músico de fazer o mesmo êxito que ocorre em seu último álbum é extremo. Aretha mostrou que seu sucesso fluía como água. Começando pela primeira faixa: Think, que segue a mesma linha feminista de Respect, onde canta para seu companheiro “Não sou psiquiatra, Não sou doutor com diploma, Mas não é preciso ter muito QI para você ver o que está fazendo comigo”. E como esquecer de I Say A Little Prayer. Nem preciso escrever em como a versão de Aretha é poderosa, certo ?
- Soul 69′ (1969)
Feito para se ouvir com a luz baixa, com um copo de uísque na mão e fechar os olhos e curtir. Exato, curtir o momento. A voz de Aretha junto com a banda formada por Junior Mance (piano), Joe Zawinul do Weather Report (piano elétrico e orgão), Kenny Burrell (guitarra), David “Fathead Newman (saxofone e flauta) e mais outros monstros, te faz viajar.
Para a crítica na época, o álbum é “possivelmente o melhor disco nos últimos cinco anos. Excelente a maneira que a música pop foi reutilizada desde que os Beatles lideraram o renascimento do rock”.
- Hey Now Hey (The Other Side Of The Sky)
O vigésimo álbum de sua carreira abre com a fantástica faixa título, um soul obscuro, com nuances perfeitas para esboçar o sorriso no rosto. Comigo é assim, talvez seja com vocês, quem sabe. Mas Hey Now, merece o seu destaque, mais do que já recebe, pelo seu abrilhantamento, com a Aretha no auge de sua voz, tocando a alma de quem ouve. Do início ao fim, é uma pérola que não deve ser perdida no tempo.
Pela sua voz, sua performance, estilo, sua vida, o que for: Aretha é, e sempre será, a Rainha eterna da Soul Music. Para nós que ficamos, só nos resta um muito obrigado, por tudo.
