Crítica | Silo (1ª Temporada)

Engenharia do Cinema Em meio a um cenário com poucas séries que realmente conseguem possuir uma ótima qualidade, “Silo” é uma das melhores atrações lançadas neste ano de 2023. Inspirado no livro de Hugh Howey, com fortes inspirações na clássica obra de George Orwell, “1984” e remetendo demais ao cenário de vários países atualmente, a atração estrelada por Rebecca Ferguson (dos últimos três filmes da franquia “Missão Impossível”) conquista seu espectador já no piloto (cujo foco não é ela). A série se passa em um futuro pós-apocalíptico, onde a raça humana vive em um bunker de alta segurança chamado “Silo”. Por lá, todos os moradores vivem sob um regime totalitário e aqueles que começam a questionar o próprio, podem sofrer penas irreversíveis. Até que, após um escândalo envolvendo a política do local, a mecânica Juliette Nichols (Ferguson) é colocada na patente de Xerife do próprio e começa a investigar o que realmente está acontecendo.    Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Dividida em nove episódios (com cerca de 50 minutos, cada), essa primeira temporada primeiro começa a mostrar aquele universo logo no seu episódio piloto. Não focando na verdadeira protagonista, e sim no casal Allison (Rashida Jones) e o Xerife Holston (David Oyelowo), já começamos a perceber quais serão as verdadeiras intenções dos governantes locais e estabelecemos um cenário que aos poucos vai jogando suas teias (algo que muitas séries resolvem fazer, porcamente, já no meio/final da temporada como em “The Last of Us“). E o próprio funciona, pois durante boa parte dos episódios, nos pegamos refletindo as motivações dos chefões da atração, coincidindo com vários governantes mundiais no cenário atual (inclusive, o jogo psicológico que fazem com os moradores do local, para acusar de algo quem age diferente). E neste contexto que entra o governante Bernard Holland (Tim Robbins, que voltou a ter um ótimo e grande papel, depois de anos) e o investigador Robert Sims (Common, no seu papel mais assustador na carreira, pois sua presença em algum local, já consegue amedrontar qualquer um). Partindo para a protagonista vivida por Rebecca Ferguson, apesar dela casar e muito com os últimos personagens dela em longas como “Missão Impossível”, pois ao mesmo tempo que exibe o perfil de durona, também possui um lado humano (que é exemplificado não apenas em flashbacks, mas em pequenas atitudes como um olhar, lágrima, expressão Embora não seja muito complexo na hora de desenvolver o cenário (já que estamos vendo a todo momento um bunker, e isso requer um CGI plausível, da forma que foi feito), o design de produção assinado por Gavin Bocquet lembra e muito o visual da franquia “Star Wars” (inclusive, o próprio assinou a função nos Episódios I, II e III, da saga citada). A primeira temporada de “Silo” só deixa comprovado que o streaming da Apple TV+, está cada vez mais acertando em mais qualidade em suas atrações, ao invés da quantidade.

Crítica | Falando a Real (1ª Temporada)

Engenharia do Cinema Atire a primeira pedra que a série “Falando a Real” conseguiu conquistar os usuários da Apple TV+, apenas pela presença ilustre de Harrison Ford (que está entrando no universo das séries nesta e também na ótima “1927”). Apesar de ser o coadjuvante (não preciso falar que ele rouba a cena, na maioria da atração), a atração é estrelada por Jason Segel (que também é um dos criadores/roteiristas junto de Brett Goldstein e Bill Lawrence) que já mostrou que consegue tirar o riso com situações cotidianas em vários cenários (vide “Ressaca de Amor” e “Sex Tape: Perdido na Nuvem“), e aqui não é diferente. O enredo é centrado no psicologo Jimmy (Segel) que está vivendo em um período de luto, uma vez que sua esposa faleceu há pouco tempo. Lidando com sua filha adolescente Alice (Lukita Maxwell), pacientes com seus amigos de trabalho Gaby (Jessica Williams) e Paul (Harrison Ford), ele começa a perceber que à vida deve continuar, mesmo com adversidades. Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Dividida em 10 episódios, esta primeira temporada procura estabelecer primeiro a vida de Jimmy como um todo, para posteriormente focar nos coadjuvantes (e neste quesito a atração acertou em cheio). Apesar de Segel mais uma vez interpretar um personagem extrovertido, com pitadas depressivas, ele se encaixa muito bem no timing cômico e dramático de Ford e Williams (além de possuir uma enorme química com ambos). Porém, adianto que estamos falando de uma série mais dramática, do que cômica (embora a Apple lhe venda como uma comédia). Por se tratar de uma série, obviamente muitas pontas começam a serem exercidas com o intuito de deixarem para ser exploradas nas próximas temporadas (tanto que em determinado ponto, a atração passa a ignorar constantemente a relação de Jimmy com seus pacientes, que são nada ortodoxas). Só que algumas sentimos que são totalmente deixadas para escanteio, e dão espaço para outros arcos novos. Tanto que o próprio Paul passa a ter mais destaque depois da primeira metade dos episódios e Sean (um dos pacientes de Jimmy, vivido por Luke Tennie) é deixado como um mero figurante. “Falando a Real” consegue ser uma série divertida graças ao roteiro que sabe usufruir do talento de seus envolvidos, especialmente Harrison Ford.

Crítica | Still: Ainda Sou Michael J. Fox

Engenharia do Cinema Quem cresceu nos anos 80 e 90, sabe o quão famoso era o ator Michael J. Fox (para geração atual, é semelhante ao que estamos vendo com nomes como Tom Holland). Protagonista da trilogia “De Volta Para o Futuro“, o próprio também estrelou diversas outras produções que fizeram bastante sucesso nas várias reprises televisivas. Porém, o que marcou demais foi o próprio ter sido diagnosticado com Mal de Parkinson, quando estava na faixa dos 30 anos e desde então vem tratando da doença.     Baseado no livro de autoria do próprio Michael J. Fox, “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” trata-se não apenas deste fato na vida do próprio, como também de toda sua carreira, desde sua infância simples e como ele reagia em torno de sempre ser o “baixinho” na escola, família e trabalhos, como se tornou um dos principais nomes de Hollywood. E neste contexto, entra o fato de como o diagnóstico de Parkinson, afetou sua trajetória pessoal e profissional. Imagem: Apple Originals (Divulgação) Idealizado pelo próprio Fox e com direção de Davis Guggenheim (que já havia comandado documentários sobre nomes como Malala, Barack Obama e Joe Biden), temos uma verdadeira aula de como se conceber um documentário que mescla imagens de arquivo, relatos e produções dramatúrgicas. E tudo isso é repassado de uma forma que não cansa o espectador, principalmente por não haver arcos desnecessários (resultando em uma produção com cerca de 90 minutos, que é uma metragem válida neste contexto).    Um claro exemplo, é quando determinadas situações são mencionadas nos relatos, acabamos presenciando cenas dos filmes do próprio Michael (como “O Segredo do Meu Sucesso” e “O Garoto do Futuro“), intercalado por cenas com atores (com o intuito de embasar uma divertida nostalgia, com fatos) e isso acaba funcionando. Sem citar que o recurso também é plausível por se tratar de uma história que a maioria do público alvo (cinéfilos que cresceram e vivenciaram na época do auge de Fox, assim como fãs do trabalho do próprio e seus filmes) já conhecia. “Still: Ainda Sou Michael J. Fox” consegue ser uma verdadeira carta de amor ao legado do eterno adolescente dos cinemas, e resgata a nostalgia de seus antigos filmes.

Crítica | A Última Coisa Que Ele Me Falou

Engenharia do Cinema Em um primeiro momento, a minissérie “A Última Coisa Que Ele Me Falou” se assemelha demais com as produções da HBO (onde temos uma situação X, e o mistério do paradeiro do personagem Y). Porém, essa atração da Apple TV+, estrelada e produzida por Jennifer Garner consegue captar a atenção do espectador por conta do envolvimento de sua protagonista com a sua enteada (vivida por Angourie Rice).     Baseado no livro de Laura Dave (que também assina o roteiro aqui), após um empreendimento dar errado, Owen (Nikolaj Coster-Waldau) acaba desaparecendo da noite para o dia, deixando sozinhas sua filha Bailey (Rice) e a atual esposa Hannah (Garner). Mesmo deixando indiretamente algumas pistas sobre seu paradeiro e regalias financeiras para ambas, elas começam uma investigação para tentar entender o que realmente aconteceu e levou a viverem neste cenário caótico.   Imagem: Apple Originals (Divulgação) Dividida em sete episódios, com cerca de 45 episódios cada, foi sábia a decisão de não esticar muito os tópicos dos mesmos, com o intuito de ter assunto para até mesmo uma possível segunda temporada. Em cada episódio, somos apresentados a uma pista e/ou contexto e eles são bem trabalhados a ponto de tentarmos raciocinar com Hannah e Bailey, sobre tudo que está rolando.     E isso também funciona por mérito da química positiva entre Garner e Rice (que cada vez mais está evoluindo na atuação, em projetos interessantes, mesmo quase sempre sendo a filha dos protagonistas), pois é natural a relação entre madrasta e enteada. Agora, o desenvolvimento da dupla não é inovador e se assemelha em quaisquer produções dramáticas nesta pegada. “A Última Coisa Que Ele Me Falou” consegue ser uma interessante minissérie de suspense, cujo significado vai muito além do explanado em sua premissa.

Crítica | Ghosted: Sem Resposta

Engenharia do Cinema Sendo vendido como um dos principais carros chefes da Apple TV+, a comédia romântica de ação “Ghosted: Sem Resposta” aposta no talento e engajamento que os nomes de Ana de Armas (nova musa do cinema de ação) e Chris Evans podem trazer. Mesmo sendo realmente similar ao longa “Encontro Explosivo” (estrelado por Tom Cruise e Cameron Diaz), temos mais uma produção que consegue entreter dentro de sua premissa, sem exigir muito do seu espectador. A história mostra o tímido floricultor Cole (Evans) que um dia acaba tendo seu caminho cruzado com a misteriosa Sadie (Armas), por quem se apaixona. Após descobrir que esta fez uma inesperada viagem para Londres, ele resolve ir de surpresa ao local e acaba descobrindo que ela é uma super agente secreta. Consequentemente, ele acaba se envolvendo também em sua missão secreta, onde ela deverá negociar com um perigoso terrorista (Adrien Brody). Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Chega a ser engraçado que Armas já trabalhou mais de uma vez com Evans (nos sucedidos “Entre Facas e Segredos” e “O Agente Oculto“), e esta é a primeira vez que eles estão vivendo como um casal nas telas (inclusive eles esbanjam uma grande química e sintonia em cena, em vários sentidos). E isso fica tão bem executado, que em momento algum o enredo procura em rotular Cole sempre como inferior a Sadie, e sim um homem que aos poucos se mostra tão maduro e habilidoso como esta, na maioria das situações mostradas (algo que o cinema ultimamente não tem feito). Porém o roteiro de Rhett Reese, Paul Wernick (os dois primeiros são responsáveis pelos dois “Deadpool“, inclusive), Chris McKenna e Erik Sommers (já estes últimos escreveram toda a trilogia recente de “Homem-Aranha“, para a Marvel) não é dos mais criativos, ao usufruir de cenários já conhecidos neste tipo de filme (com cenas de ação similares ao longa de Cruise, só trocando o sexo dos personagens). Mesmo estando em uma atmosfera total da Marvel (não só por conta dos roteiristas citados), os fãs das primeiras fases do estúdio ficarão totalmente felizes em ver algumas divertidas participações especiais de alguns nomes (pelos quais não entrarei em mérito de spoilers, mas digo que alguns irão arrancar vários risos). Mas acaba sendo triste vermos nomes como o de Adrien Brody (que nos últimos anos vem virando em mais vilões) dando vida a um personagem bastante genérico. Só que como estamos falando de um filme com pitadas de ação, é nítido que o cineasta Dexter Fletcher (que vem de filmes como “Rocketman” e da minissérie “The Offer“) sabe conduzir cenas de ação de forma simples e não apela para recursos mais complexos (como outros nomes que fazem essa transição e acabam falhando, em tópicos óbvios). “Ghosted: Sem Resposta” é mais um entretenimento pipoca, onde mesmo sendo bastante clichê, ainda diverte e entretém por conta da presença de Ana de Armas e Chris Evans.

Crítica | Tetris

Engenharia do Cinema Não existe uma pessoa que pelo menos uma vez na vida, não jogou o famoso game “Tetris“. Criado em plena Rússia, em 1984, pelo cientista russo Alexey Pajitnov, em pleno período onde a União Soviética estava em crise por conta do enfraquecimento do comunismo, o próprio acabou se tornando uma verdadeira arma para os apoiadores do movimento, que tentaram usufruir do interesse de várias grandes empresas (entre elas a Nintendo) para tentar mostrar a força do movimento (mesmo com ele estando em sua queda). E é exatamente este o foco da narrativa. Baseada em fatos reais, a história se passa em 1988, quando o vendedor de games Henk Rogers (Taron Egerton) acaba descobrindo o icônico game “Tetris”. Vendo o enorme potencial do mesmo, ele resolve ir por conta própria para a Nintendo, no Japão, para negociar com os CEOs da empresa a fabricação do mesmo. Porém, durante o desenvolvimento do processo, ele descobre que existem problemas contratuais na questão dos direitos autorais. O que lhe faz viajar até a Rússia, para tentar reaver os mesmos. Imagem: Apple Original Productions (Divulgação) O roteiro de Noah Pink (da série “Genius“) em um primeiro momento tenta nos vender a importância do jogo “Tetris“, no cenário apresentado e como sua facilidade de jogatina e fabricação, poderia ser mais plausível e comercializada que os já sucedidos games do Super Mario (que coincidentemente, terá seu filme lançado nesta semana). Para em um terceiro ato vir salientar como era o clima do comunismo na Rússia, e o quão delicado era aquele cenário no país (uma vez que eles não aceitavam nem cair em contradição). E o diretor Jon S. Baird (“Stan & Ollie“) está ciente das possibilidades que podem ser executadas no visual da produção, e consegue encaixar uma estética que remete à vários momentos, o próprio “Tetris” e o icônico “Super Mario” (o que é até divertido, e traz um conforto e fácil compreensão na narrativa aos mais desatentos). Ele só pecou um pouco ao inserir cenas de ação desnecessárias no contexto que havia sendo apresentado (soou bastante aleatório, uma vez que o longa não clamava por isso).     Outro grande acerto é a escalação de Edgerton, para interpretar Hank, pois o ator não só se assemelha um vendedor nato, como também gostamos dele logo nos primeiros minutos em cena, ele literalmente nos vende a importância do “Tetris” (causando até vontade de irmos jogar o próprio). “Tetris” termina sendo um interessante retrato de como funciona a indústria dos games, e como o comunismo é um movimento cruel, que realmente não funciona. 

Crítica | Emancipation – Uma História de Liberdade

Engenharia do Cinema É um fato que este filme está sendo boicotado por boa parte do público e imprensa, por conta do incidente do tapa no Oscar deste ano. Embora estamos falando de uma produção séria, forte e impactante, era certeza que veríamos o astro Will Smith sendo mais uma vez indicado na premiação citada em 2023. “Emancipation – Uma História de Liberdade” é basicamente na mesma pegada de “12 Anos de Escravidão“, com a realidade dos escravos sendo mostrada de forma nua e crua, na perspectiva de um próprio. Baseada em fatos reais, a história se passa exatamente no período onde a escravidão estava prestes a ser abolida pelo então Presidente Abraham Lincoln, em 1863, nos EUA, na perspectiva do escravo Peter (Smith). Ao fugir do seu novo proprietário, o temido Jim Fassel (Ben Foster), ele se encontra em uma jornada para encontrar sua família e tentar sobreviver em um cenário totalmente macabro.  Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Em seus projetos o diretor Antoine Fuqua (que é conhecido por filmes como “O Protetor” e “Dia de Treinamento“) normalmente usa e abusa da violência para impactar seu espectador. Usando o recurso mais uma vez, e de forma bastante plausível, desde os primeiros cinco minutos da narrativa sentimos na pele o que os escravos sentiam. Seja somente por olharem, pararem para respirar ou até mesmo falarem que “estão com fome”, eles eram agredidos violentamente por seus senhores e toda essa brutalidade (que inclui mutilações e mortes à sangue frio) é mostrada (tanto que os espectadores mais sensíveis, não irão conseguir seguir em frente no longa).    E em meio a este cenário, Smith mais uma vez se desconstrói totalmente e está irreconhecível. Com um sotaque carregado e feições depressivas e de medo em sua face, compramos seu sofrimento de imediato, ao mesmo tempo que sentimos o clima tenso transposto por Foster (que em dado momento, deixa claro que ele só é maléfico com escravos, por conta de uma conversa com seu Pai).  Mas por se tratar de um filme de época, a fotografia de Robert Richardson apela para tonalidades em preto e branco para representar a situação épica, ao mesmo tempo tensa daquela época. E por intermédio da violência sendo representada, isso ainda ganha mais força em sua execução. Porém, acaba sendo lastimável o lançamento ter sido direcionado direto ao streaming (embora tenha tido breves sessões em alguns cinemas pelo mundo), pois a mixagem de som é outro recurso muito bem realizado e seria melhor explorado em uma exibição nas telonas. “Emancipation – Uma História de Liberdade” acaba sendo um dos mais necessários filmes sobre a temática da escravidão, que infelizmente não está tendo o sucesso que merece por conta de uma decisão chula e hipócrita da grande imprensa, em relação a Will Smith.

Crítica | Spirited: Um Conto de Natalino

Engenharia do Cinema Sempre nos meses de novembro e dezembro, chegam aos cinemas e streamings os longas com temática natalina. Alguns são um mais do mesmo, já outros acabam pegando ideias que deram certo e executam de uma maneira totalmente diferente do que conhecemos. Isso já aconteceu com os sucedidos “Os Fantasmas de Scrooge” e “Os Fantasmas Contra-Atacam“. Em “Spirited: Um Conto de Natalino” o escopo é exatamente o mesmo dos citados, porém o desenvolver é diferente do icônico conto de Charles Dickens, “Um Conto de Natal”. A história mostra que existe uma agência secreta, que realiza diversas ações com pessoas arrogantes e incrédulas, para que elas mudem suas atitudes por intermédio das visitas dos fantasmas do passado, presente e futuro. Após vários anos trabalhando na função, o Fantasma do Presente (Will Farrell) vê que está na hora de buscar algo mais desafiador e para isso escolhe o inescrupuloso empresário Clint Briggs (Ryan Reynolds), que segundo os dados do sistema da mesma, jamais irá conseguir mudar seu comportamento. Imagem: Apple TV+ (Divulgação) Uma coisa que os roteiristas Sean Anders (que também assinou a direção) e John Morris sabem fazer e seus filmes, é tirar graça de situações cotidianas de forma inteligente e sem medo das consequências do politicamente correto (“A Família do Bagulho” e “Sex Drive: Rumo ao Sexo” estão ai para comprovar). Apesar de se tratar do primeiro musical da dupla, eles conseguem tirar situações hilárias com Farrell e Reynolds (que possuem uma ótima química) que juntos também possuem talento para este tipo de filme (lembrando que eles já tiveram em outras encenações musicais, seja no cinema ou na televisão). Como estamos falando de uma nova roupagem de um conto já conhecido, além da dupla estar ciente da brincadeira exercida na trama, ainda há uma brecha para as atrizes Octavia Spencer (Kimberly) e Sunita Mani (a Fantasma do Passado, que inclusive possui um arco hilário), conseguirem tirar bons e agradáveis momentos. Inclusive, as músicas escritas pela dupla Benj Pasek e Justin Paul conseguem cativar e servir como gatilho para o espectador se prender ainda mais na narrativa (afinal, hoje em dia os filmes precisam destas artimanhas para se sobreporem às conversas no celular). E as confecções destes números musicais, embora não sejam criativos, são bem conduzidas e você denota que há uma felicidade no olhar dos envolvidos na mesma (diferente de alguns outros longas do estilo, que são bem monótonos e cansativos). “Spirited: Um Conto de Natalino” consegue se destacar como a mais divertida produção de natal deste ano. Grande acerto da Apple TV+, de Will Farrell e Ryan Reynolds.

Crítica | Passagem

Engenharia do Cinema Após a Apple TV+ ter roubado a cena no Oscar deste ano com a vitória de “No Ritmo do Coração” (que entrou para a história como o primeiro filme distribuído por uma plataforma de streaming, a vencer na categoria principal), é nítido que o serviço iria começar a fazer várias apostas para a edição de 2023. Em “Passagem“, é nítida a sensação que o mesmo irá apelar em uma indicação para Jennifer Lawrence (que andou sumida nos últimos anos), em uma produção cujo único propósito transparece ser este. A história gira em torno de Lynsey (Lawrence), que acabou de voltar da Guerra e está sofrendo com várias consequências de um traumatismo craniano obtido em conflito. Eis que ela começa a desenvolver uma amizade inusitada com o mecânico James (Brian Tyree Henry). Imagem: A24/Apple TV+ (Divulgação) Estreante no comando de longas-metragens, a diretora Lila Neugebauer parece conduzir suas cenas com foco total em Lawrence, e em como sua personagem está lidando com as consequências de seu acidente. Embora os primeiros dez minutos sejam focados no tratamento dela, nas situações precárias pelas quais ela se encontrava e até mesmo na total depressão que estava sua vida, o roteiro dos estreantes Ottessa Moshfegh, Luke Goebel e Elizabeth Sanders simplesmente faz um corte abrupto, onde em um take ela não conseguia andar direito e no outro ela já andando normalmente na rua.     A única sensação que transparece era a oportunidade que poderiam ter criado neste primeiro arco, para criarmos uma afeição com Lynsey, e sua luta para melhorar (e ao invés disso, sentimos nada por ela). Eis que o enredo corta para a questão de amizade entre esta e James, que mesmo que seja interessante a ideia, é totalmente clichê e parece estarmos vendo mais um filme comum da “Sessão da Tarde“. Mesmo com Lawrence e Henry tendo química, estamos falando de uma ideia que foi totalmente jogada no lixo, para ficarem em um mais do mesmo.     Como o próprio título sugere, “Passagem” será mais um título totalmente passageiro no catálogo da Apple TV+, pelo qual ganhará uma certa notoriedade por ser o filme que desperdiçou o talento de Jennifer Lawrence em um enredo clichê e monótono.