Crítica | O Telefone Preto

Engenharia do Cinema Não é novidade que muitos cinéfilos e fãs do gênero horror estavam ansiosos pelo lançamento de “O Telefone Preto“. Repetindo a trinca do diretor Scott Derrickson com o ator Ethan Hawke e o produtor Jason Blum (proprietário do selo Blumhouse), após o sucedido “A Entidade”, de 2012, temos um projeto que capta pela pelo diferencial em seu enredo, apesar de beber um pouco de sucessos recentes de Blum como “Fragmentado“. Inspirado no curta de Joe Hill rotulado de “The Black Phone”, a história mostra Finney (Mason Thames), um garoto de 13 anos que é sequestrado por um homem misterioso (Hawke). Sem ter como obter uma comunicação com o mundo externo, ele é munido apenas de um telefone preto, cujas ligações são feitas por outras vítimas do mesmo sequestrador e que o ajudam a tentar fugir do local. Imagem: Universal Pictures (Divulgação) O roteiro do próprio Derrickson e C. Robert Cargill procura nos primeiros 20 minutos criar uma atmosfera para mostrar o quão Finney não é do típico protagonista padrão deste tipo de filme, muito menos um grande herói. Ele sofre bullyng na escola, sofre agressões constantes do seu Pai (que não superou o falecimento de sua esposa) e ainda tenta defender sua irmã caçula Gwen (Madeleine McGraw) destas mesmas atrocidades. Só que nitidamente vemos que a dupla bebeu bastante das referências das obras de Stephen King como “It – A Coisa“, pois há muito da criação do suspense em cima das crianças e Derrickson não exitam em tirar o impacto de cenas relevantes para o filme (como delas sendo agredidas ou regadas a muita violência). Caso este recurso não tivesse sido explorado, provavelmente não haveria tanto impacto como previsto. Isso sem citar, que o próprio enredo possui um caminhar diferente e atrelado ao que foi dito anteriormente, acabamos comprando a narrativa e tentando se atrelar ainda mais ao arco de Finney e Gwen (já que ambos atores mirins estão ótimos, e conseguem cativar o espectador). E ainda mais pelo antagonista vivido por Hawke, que está cada vez mais acertando em criar esses personagens misteriosos, e conseguem transpor medo só por conta disso. “O Telefone Preto” acaba sendo um dos filmes de suspense mais divertidos e inesperados, nos últimos meses. Certamente os fãs do gênero irão acabar conferindo ao mesmo, mais de uma vez.
Crítica | Chamas da Vingança (2022)

Engenharia do Cinema Sabe quando nós pegamos um filme que gostamos bastante, e resolvemos apenas selecionar algumas cenas (como se fossem esquetes) para rever? Foi essa a sensação que tive ao conferir este remake “Chamas da Vingança“, que realmente se parece ter sido feito por esta situação pela Blumhouse e a Universal Pictures. Inspirado na obra de Stephen King (“It – A Coisa”), certamente vemos mais um notório caso de que pegaram apenas a ideia do livro, e distinguiram apenas com os “melhores momentos” do mesmo. A história gira em torno de Charlie McGee (Ryan Kiera Armstrong), que começa a perceber que possui poderes paranormais, ao soltar fogo em situações esporádicas ou quando sente medo. Só que ela não imaginava que seu Pai, Andy (Zac Efron) foi cobaia de uma companhia que estudava poderes paranormais em seres humanos. O que fará a dupla ter de fugir da organização, quando esta descobre que ambos ainda estão vivos. Imagem: Ken Woroner/Universal Pictures (Divulgação) Realmente este filme possui vários problemas, que os fazem ser ruim em diversos aspectos. Seja pela porca edição, que não se deu ao trabalho de explorar a fluidez de algumas cenas (inclusive o diretor Keith Thomas não é bom, pois ele constantemente apelava em focar na cara dos atores para “tirar” olhares dramáticos), ou até mesmo a trilha sonora mal executada de John Carpenter (que chegou a dirigir uma boa parte da produção dos anos 80, mas largou o trabalho por divergências criativas), que executa melodias pobres e clichês para as cenas chave (inclusive, ele deve ter topado apenas por conta do cachê). Isso porque não entrei ainda no mérito dos efeitos visuais, cujas tomadas envolvendo alguns personagens pegando fogo, são nítidas que eles estavam usando uma roupa especial para este intuito (já que eles não se movem, e ficam apenas sempre fazendo o mesmo movimento). Com uma atenção breve, é nítido que quaisquer espectadores notaram isso. Pior, que a atriz mirim Ryan Kiera Armstrong tenta se esforçar (e realmente ela manda bem) mesmo ciente que ela não tinha um material bom em mãos. Afinal de contas, o roteiro de Scott Teems não se preocupa em detalhar ou até mesmo criar atmosferas para termos empatia com Charlie e Andy. E isso faz com que quaisquer chances de possíveis arcos de suspense, sejam jogados no lixo. Isso sem citar, que às vezes Efron parece uma versão imbecil do Professor Xavier (não estou brincando), combatendo um vilão (Michael Greyeyes) que parece ter saído de uma novela mexicana ou até mesmo da icônica novela da Record, “Os Mutantes”. Em seu desfecho, “Chamas da Vingança” mostra que a protagonista deveria ter tacado fogo no próprio filme, de tão vergonhosa que se torna esta produção.