Crítica | Gran Turismo: De Jogador a Corredor

Engenharia do Cinema Não é novidade que quando foi anunciado um filme do game de corrida “Gran Turismo“, muitos não imaginavam como ele iria sair do papel (uma vez que estamos falando de um jogo que não possui um enredo). Em 2014, numa parceria entre a Playstation e Nissan, foi criado o projeto GT Academy, cujo intuito era levar jogadores profissionais de “Gran Turismo” para correrem como verdadeiros pilotos profissionais. O longa de Neill Blomkamp (“Elysium“) tem esse foco como seu enredo. O enredo é centrado no adolescente Jann Mardenborough (Archie Madekwe), que é apaixonado por carros e o game “Gran Turismo“. Porém, um dia ele acaba sendo convocado para participar do GT Academy, onde ele se vê em um cenário que poderá correr com vários pilotos profissionais. Imagem: Sony Pictures (Divulgação) Não é novidade que aqueles que já conhecem esse tipo de filme, já conseguem prever o escopo central da trama (apesar de muitas coisas terem sido alteradas, para quesitos dramáticos). Mas devido a sábia escolha de Madekwe, David Harbour (Jack Salter) e Orlando Bloom (Danny Moore), para viverem o trio protagonista, facilmente o público acaba sendo conquistado por aquele universo por algo simples: o carisma. A todo momento nos pegamos vibrando, torcendo e se cativando pela relação de carinho entre Jann e Jack, que vai sendo construída aos poucos pela trama. Porém, o roteiro de Jason Hall e Zach Baylin, sofre com algumas coisas clichês do gênero como personagens que são esquecidos e depois reaparecem do nada (como os familiares de Jann), não entendemos a verdadeira situação de Danny (que se resume apenas a um executivo da Nissan, que faz os corres profissionais da trama), isso sem citar algumas dificuldades que não ocorram na vida real (como a cultura do cancelamento do Twitter, pelas quais sequer tinham aquela influência, como hoje).     E o vilão? Realmente não existe um, mas sim uma narrativa que coloca os mesmos como os próprios pilotos rivais. Isso funciona, pois eles aparecem sempre em momentos chaves, principalmente quando estamos vidrados nas cenas dos campeonatos. Essas, conseguem se assemelhar demais com o visual do game, inclusive, é nítido que o diretor Neill Blomkamp não apenas estudou a franquia, como se mostrou como um conhecedor desse universo (só reparar no posicionamento das câmeras, nas cenas de corrida). “Gran Turismo: De Jogador a Corredor” acaba se consagrando como mais uma surpresa desse ano, e ainda mostra que existe um leque enorme de games que podem ser levados ao cinema, com maestria.

Crítica | Drácula: A Última Viagem do Demeter

Engenharia do Cinema Em determinado ponto, o cineasta André Øvredal (“Histórias Assustadoras Para Se Contar no Escuro“) comentou que idealizou “Drácula: A Última Viagem do Demeter“, pensando em uma espécie de “Alien: O Oitavo Passageiro“, se passando em um navio, ao invés de uma nave. Só que diferente do clássico de Ridley Scott, temos um longa que não procura fazer um roteiro plausível e uma direção que realmente seja marcante e original. Sim, era melhor a Universal Pictures ter ficado apenas com o Drácula de Nicolas Cage, em “Renfield“, neste ano. Vale ressaltar também, que até o encerramento dessa crítica, o longa rendeu mundialmente cerca de US$ 19 milhões mundialmente, e como custou US$ 45 milhões, já é um dos maiores fracassos do ano. Baseado no arco da carta do Capitão do Demeter, no conto de “Drácula” escrito por Bram Stoker, a história tem início quando o navio citado levará uma misteriosa carga de Bulgária para Londres. Quando, eles estão em pleno oceano, coisas misteriosas e brutais, começam a acontecer no local e os tripulantes descobrem que trata-se do próprio Conde Drácula (Javier Botet), que tomou conta da embarcação.     Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Ao terminar de conferir essa produção, a única sensação que tive foi “Bela Lugosi está se revirando no túmulo”. Há vários problemas básicos no roteiro de Bragi F. Schut e Zak Olkewicz, e na direção do próprio Øvredal. A princípio eles não só estabelecem um péssimo protagonista, como simplesmente não aprofundam em nada, para nós termos interesse ou sentir as emoções sendo transparecidas. E nessas horas, ficamos pensando que era mais plausível a Universal ter estudado adaptar o livro de Bram Stoker, como um todo, e este ter sido colocado como um filme em uma possível trilogia ou saga do personagem, ao invés de produzir filmes esporádicos sobre o mesmo, em diferentes contextos. Sendo escalado como protagonista, o médico Clemens (Corey Hawkins) parece estar totalmente fora de sintonia com o enredo. Em um cenário caótico, pessoas e animais sendo violentamente dilacerados, ele vem se preocupando em fazer discursos de preconceito e racismo (independentemente do timing, que sempre cai na hora errada). A situação fica não só estranha, como o próprio personagem se torna irritante ou interessante (e ocasiona em um protagonismo rasteiro e forçado). Pior do que isso, é tentarem transformar a misteriosa Anna (Aisling Franciosi), em uma guerreira que não faz absolutamente nada (e ainda é vendida assim, durante quase todo filme). Isso porque ainda não citei só outros tripulantes, pelos quais possuem os perfis tão genéricos, que nós só ficamos como e quando eles serão alvos do próprio Drácula. E entrando no mérito da direção, Øvredal realmente não sabe como conduzir uma cena de ação, muito menos alguma que seja assustadora e chocante (como é o próprio livro de Bram Stoker). 90% das sequências de ação são no escuro (apesar do Drácula ser um ser que aparece de noite, já foi mostrado que dá pra fazer mais cinema), 30% delas na chuva e 60% você não consegue ver quase nada. Isso só transmite raiva (já que você está interessado em ver um filme de ação/horror, e não manchas pretas) e tédio para o espectador. Inclusive, o próprio visual do Drácula se assemelha mais com o Gollum (personagem de “O Senhor dos Anéis”), do que o icônico vilão dos cinemas. Sim, a escolha de conceber aquele em CGI, foi totalmente errônea (uma vez que a sua concepção, quase sempre foi feita por intermédio de maquiagens). “Drácula: A Última Viagem do Demeter” é mais um erro da Universal Pictures, em relação a sua concepção do seu universo de monstros no cinema.

Crítica | Invasão Secreta

Engenharia do Cinema SPOILERS DA SÉRIE INVASÃO SECRETA SERÃO RETRATADOS EM UM PARAGRAFO, NO FINAL DA ANALISE, POR ISSO, SE VOCÊ NÃO VIU A PRÓPRIA, FIQUE ATENTO AO AVISO! Depois do tremendo fiasco que “Mulher-Hulk: Defensora de Heróis“, conseguiu fazer no ano passado (se consagrando facilmente como a pior série na história da Disney+/Marvel Studios), “Invasão Secreta” não só demorou um pouco mais para chegar, do que foi tratado como um verdadeiro “tudo ou nada”, do selo. Porém, muitas pessoas estavam esperando uma pegada no estilo “Vingadores Guerra Infinita” (como este arco é retratado nos quadrinhos), só que acabamos sendo brindados com uma narrativa que beira mais uma versão light de “Capitão América: O Soldado Invernal“. A história começa logo depois que Nicky Fury (Samuel L. Jackson) retorna ao planeta terra, e é notificado por Talos (Ben Mendelsohn), que alguns Skrulls estão se infiltrando no meio dos seres humanos, e começando a iniciar uma Guerra para dominação do nosso planeta. Imagem: Marvel Studios (Divulgação) Dividida em seis episódios, com cerca de 45 minutos cada, temos um arco que engloba apenas os últimos filmes pelos quais a própria Shield é citada (como os dois últimos solos do Capitão América, “Capitã Marvel” e claro, os dos últimos “Vingadores“). Sim, o enredo não se preocupa em dosar personagens, mas sim jogar uma situação que já estava se formando anteriormente dentro do próprio UCM (como ocorreu nos quadrinhos). Mas mesmo que a química de Jackson e Mendelsohn sendo um dos carros fortes, nós sentimos que quando a dupla passa a dividir cenas com Emilia Clarke (G’iah, filha de Talos), faltou uma narrativa melhor para nos importamos com a própria, e até mesmo comprarmos suas motivações, uma vez que ela está totalmente perdida (conflitos com o Pai, não é uma desculpa que funciona mais neste contexto). Faço também uma menção honrosa para Don Cheadle (Rhodey/Máquina de Combate), que exerceu a melhor interpretação de seu personagem, em todas as produções da Marvel (inclusive, aumenta a curiosidade e ansiedade para vermos o seu longa solo, que já foi confirmado para o Disney+). Em contraponto, o vilão Gravik (Kingsley Ben-Adir) consegue ser um dos melhores das últimas produções do selo, em formato de série, só que quando está beirando para o arco final, vemos que o fator “muitos roteiristas revisaram o texto” (já que passou por 11 mãos diferentes durante a produção e, este caos fica nítido) prejudicaram o que poderia ser um antagonista excelente (uma vez que ele também tem uma motivação plausível). Ciente que o material base não era dos melhores, o diretor Ali Selim mostra que sabe dosar cenas dramáticas e de ação (que conseguem prender mais atenção, mais do que qualquer episódio de “She-Hulk”), de modo que a próprias não fiquem cansativas e forçadas em sua apresentação. “Invasão Secreta” não consegue ser tão marcante, quanto seu arco nas HQs, e mesmo tendo uma pegada mais séria do que as últimas produções do selo, entretém e apenas isso. SE VOCÊ NÃO VIU A SÉRIE, A PARTIR DE AGORA, COMEÇARÃO OS SPOILERS! Como foi dito em um dos parágrafos acima, um dos pontos prejudiciais nesta minissérie é o quesito de roteiro. Temos uma Maria Hill sacrificada no início da atração, e em momento algum sentimos que a própria está sendo vingada (como fizeram com o Agente Coulson, no primeiro “Vingadores”). Depois, descobrimos algo mais chocante ainda, que é o fato de Rhodney ser um Skrull há anos, e o verdadeiro sequer vivenciou os eventos de “Vingadores Ultimato”. Não existe um “boom”, tudo soa de forma vazia, cansativa e “eles deveriam ter criado uma atmosfera melhor”. E mesmo com o penúltimo episódio abrindo porta para um “grande final”, somos brindados com um arco que se assemelha a qualquer filme policial, intercalando com uma batalha final entre Gravik e G’iah. Essa situação chega até ser uma piada, pois até o presente momento a atração nos preparou tudo para ser este o primeiro e Nick Fury (uma vez que o próprio, aparentemente iria ter sua grande cena de ação). E ainda somos “brindados” com uma versão pobre das lutas do “Dragonball Z“, onde um Kamehameha finaliza tudo em um segundo (depois de 10 minutos deles estarem fazendo coreografias de luta).

Crítica | Mansão Mal Assombrada (2023)

Engenharia do Cinema Em uma onda de falta de criatividade e de tomar novas iniciativas, a Walt Disney Pictures resolveu realizar este reboot de “Mansão Mal Assombrada”, cujo original estrelado por Eddie Murphy, foi lançado em 2003, nos cinemas. Embora tenha sido um enorme fracasso (custou US$ 90 milhões e rendeu cerca de US$ 180 milhões, mundialmente), foi o suficiente para se pagar, mas ao contrário deste, o novo não está tendo sorte (uma vez que estrearam o próprio justamente na semana posterior aos sucedidos “Barbie” e “Oppenheimer”, e em meio a uma greve dos atores em Hollywood), pois custou US$ 150 milhões e ainda está na faixa dos US$ 40 milhões, mundialmente. Mas desde o princípio, o estúdio também vendia a produção como uma espécie de “reboot mais sério” e com mais referências a atração da Disneylandia (que serviu de inspiração para ambos filmes). Contando com vários nomes de peso como LaKeith Stanfield, Rosario Dawson, Owen Wilson, Danny DeVito, Jamie Lee Curtis e Jared Leto, temos mais um caso de projeto que se salva por conta do talento dos próprios, ao invés do quesito técnico.  Depois de presenciar assombrações em sua casa nova, uma mãe solteira (Dawson) contrata Ben (LaKeith Stanfield) para investigar tais aparições. Porém, para tal feito ele também contará com a ajuda do Padre Kent (Wilson), a médium Harriet (Tiffany Haddish) e o atrapalhado professor Bruce (DeVito). Imagem: Walt Disney Pictures (Divulgação) Se fosse depender dos primeiros 20 minutos, facilmente já teria desistido de ver esta produção se fosse em streaming. Com vários erros grotescos de filmagem, enquadramentos horrendos (com direito a câmera balançando demais e atores com um foco forçado), montagem muito problemática (não conseguimos criar uma afeição por ninguém) e enredo central sendo apresentado às pressas, ficou nítido que este projeto enfrentou problemas na sua pós-produção. Quando finalmente a produção começa a engrenar, vemos que o diretor Justin Simien (“Cara Gente Branca”) comete menos erros do que vimos no primeiro ato, e a situação fica plausível de se acompanhar. É quando o roteiro problemático de Katie Dippold (do fracassado reboot feminino de “Caça-Fantasmas“, e aqui tenta fazer um primo pobre deste), nos apresenta os arcos mais clichês, ridículos e jogados de forma gratuita (tanto que muitas decisões, não fazem sentido). Nessas horas, percebemos o quão os nomes envolvidos na frente das câmeras são competentes. Sim, Danny DeVito é de longe a melhor coisa desta produção, e literalmente rouba a cena com piadas geniais e sua naturalidade tremenda, assim como LaKeith Stanfield demonstra ter uma ótima carga dramática, que consegue até salvar seu arco neste trabalho.   O mesmo não se pode dizer de nomes como Rosario Dawson, Jamie Lee Curtis e Jared Leto (que interpreta o vilão, o fantasma Crump, em uma analogia pobre e canastrona ao próprio Donald Trump), que não tinham o que fazer, por conta do material ruim nas mãos. Sim, o longa realmente se salva por conta dos dois nomes citados anteriormente. O reboot de “Mansão Mal Assombrada” poderia ter sido melhor, se tivessem contratado nomes tão bons para trás das câmeras, e não só na frente delas.

Crítica | Asteroid City

Engenharia do Cinema Ame ou odeie, o cineasta Wes Anderson ainda é um dos poucos que sempre conseguem mover uma centena de espectadores para seus filmes, independentemente da temática. Usando tonalidades claras, enquadramentos assimétricos e um elenco estrelar (composto na maioria das vezes, sempre pelos atores Edward Norton, Jason Schwartzman, Adrien Brody, Jeffrey Wright, Tilda Swinton e Bill Murray – porém, aqui este teve de ser substituído por Steve Carell de última hora, pois acabou testando positivo para COVID-19). “Asteroid City” chegou corrigindo e muito os erros de seu último projeto (“A Crônica Francesa”), conseguindo resgatar a leveza que Anderson sempre nos trás. A história se passa no início dos anos 50, quando um roteirista (Edward Norton) começa a confeccionar sua nova peça teatral, sobre a fictícia cidade de “Asteroid City“. Nela acompanhamos os mais caricatos moradores e visitantes, que chegam ao local para um evento científico que é surpreendido por um acontecimento bizarro.     Imagem: Universal Pictures (Divulgação) Em seu primeiro arco, o roteiro tenta nos vender como o grande protagonista da atração um tímido fotógrafo (Schwartzman), que vai até o local com seus filhos para o mais velho (Jake Ryan) apresentar seu projeto de ciências. Ao mesmo tempo que ele tem de lidar com a partida de sua finada esposa (Margot Robbie), e o fato do seu sogro (Tom Hanks) não gostar dele. Só que embora essa trama em si, não seja bem explorada, o foco é a própria cidade como um todo.    Construída em um local isolado para a gravação deste filme, fica plausível que realmente houve um enorme cuidado para confecção da Asteroid City. Seja na concepção dos imóveis, figurinos e os famosos enquadramentos de Anderson (que facilmente, podem ser tirados vários papéis de parede belíssimos), e devo mais uma vez fazer uma ressalva pelos excelentes trabalhos dos constantes parceiros deste, Alexandre Desplat (trilha sonora), Robert D. Yeoman (fotografia) e Adam Stockhausen (design de produção). Porém, vale a ressalva que mesmo contando com um eclético elenco de estrelas, muitas delas só aparecem brevemente, e acabamos soltando o famoso “olha quem ta ai”, pois muitos deles não possuem uma profundidade que justifique sua participação.  “Asteroid City” não é o melhor trabalho de Wes Anderson, mas consegue tirar o gosto amargo que “A Crônica Francesa” havia deixado.

Crítica | A Era de Ouro

Engenharia do Cinema Não acredito que até o término desse ano, não me depare com uma produção tão ruim como essa. Escrito e dirigido por Timothy Scott Bogart, o próprio estava tentando tirar do papel A Era de Ouro“, desde 2019, uma vez que a história é sobre seu pai Neil Bogart, o fundador da produtora Casablanca Records (responsável por lançar nomes como Kiss, Village People e Donna Summer). Apesar da premissa ser interessante, temos uma verdadeira aula de como não fazer cinema, em vários quesitos. Se passando em meados dos anos 70, o enredo é centrado no empresário Neil Bogart (Jeremy Jordan), que junto de vários amigos próximos, tentava estabelecer a Casablanca Records, no meio do mercado musical, uma vez que nenhum dos seus clientes estavam realmente fazendo sucesso.     Imagem: Paris Filmes (Divulgação) Logo no prólogo de abertura do longa, a única sensação que temos é estarmos vendo uma versão pobre de “O Lobo de Wall Street“, escrita por um roteirista de propaganda de margarinas. Com diálogos clichês, sem emoção e remetendo ao filme citado (só para fazer jus ao termo “sexo, drogas e rock’nroll”), a produção poderia ter vida, se ao menos fossemos apresentados dignamente aos protagonistas. Tudo parece ter sido jogado às pressas, pelos quais, em momento algum entendemos as verdadeiras motivações de Neil, que mais parece um antagonista e sequer nos pegamos interessados em torcer por ele. Sim, Jeremy Jordan não é um bom ator e é muito canastrão (só vermos suas expressões em momentos tristes e felizes, que são resumidas em sorrisos escrachados), e termos como sua parceira alguém como a atriz Michelle Monaghan (que não faz nada aqui também), chega a ser vergonhoso. De quebra, uma das coisas mais vergonhosas, é a edição achar que pode disfarçar alguns problemas da produção, como ausência de direitos sobre algumas marcas e músicas (uma vez que o enredo ainda vilaniza algumas bandas como “Kiss“). Para piorar existem algumas tomadas externas, onde é nítido o recurso da tela verde, colocando todo o cenário em CGI (inclusive os figurantes parecem ter saído de um game do Playstation 1). Para não falar que tudo realmente é uma desgraça, o figurino pelo menos consegue ser operante em relação a época, embora não tenha o grande destaque que merecia (uma vez que em produções desse tipo, esse quesito acaba pesando tanto como a trilha sonora). “A Era do Ouro” consegue ser mais falso que ouro comprado no Paraguai, uma vez que temos uma história porcamente executada e mal conduzida.

Crítica | Bird Box: Barcelona

Engenharia do Cinema Sendo um dos maiores sucessos da história da Netflix, o longa “Bird Box” (estrelado por Sandra Bullock e lançado em 2018) teve muitos rumores que ganharia uma continuação. Porém, devido a conturbada agenda da própria, o projeto segue engavetado e a plataforma começou a apostar em uma expansão do universo do próprio. “Bird Box: Barcelona” se passa no mesmo período daquele, mas na Espanha, no local citado no título. Em pleno debate da era de Chat GPT, e roteiros que são totalmente escritos por este recurso, é nítido que os roteiristas Àlex Pastor e David Pastor (que também assinaram a direção) usaram o próprio para conceber essa história, que diferente do filme estrelado por Bullock (que era inspirado no livro de Josh Malerman), é totalmente original. A história gira em torno do misterioso Sebastián (Mario Casas), que anos depois de ter conseguido sobreviver no cenário apocalíptico, onde não se deve deixar os olhos abertos ao ar livre, vaga por Barcelona, deturpando vários grupos de sobreviventes. Sim, essa é a história do filme. Imagem: Netflix (Divulgação) Em seus primeiros minutos, fica nítido que os roteiristas não estavam interessados em exercer situações realistas, dentro do cenário proposto pelo longa. A facilidade como Sebastián se infiltra nos grupos de sobreviventes, chega a ser hilária (com tamanha facilidade, e em momento nenhum ninguém chega a cogitar suas atitudes maléficas) e ofensiva para o bom senso do ser humano. Interligado por momentos de quando a infecção começou a tomar pelo mundo, e como ele perdeu sua família (em momentos que possuem emoção zero, de tamanha previsibilidade). Não existe uma sensação de impacto e desconforto, que o próprio estava vivenciando. Nada disso funciona, e só piora ainda mais, pois Casas é um ator canastrão. Sim, o longa estrelado por Bullock já não era grande coisa (porém, pode ser considerada uma versão melhorada do cômico “Fim dos Tempos“, com Mark Walhberg), só que este consegue ser banal em vários aspectos (tanto que não conseguimos criar familiaridade por um personagem, só por tratar de ser uma criança ou um Pai de luto por sua filha), por ainda tentar forçar um protagonismo em uma mulher (Georgina Campbell), que está com uma menina (), cuja mãe desapareceu em meio ao caos. “Bird Box: Barcelona” é mais um spin-off vergonhoso, realizado pela Netflix, e mostra que realmente o selo está tentando tirar suco de uma fruta que já nasceu podre.

Crítica | The Witcher (3ª Temporada – Parte 1)

Engenharia do Cinema Sem um motivo aparente (provavelmente por causa do fator audiência) a Netflix resolveu dividir em duas partes, a terceira temporada de “The Witcher” (com a segunda sendo lançada no final de julho). Com o marketing sendo realizado em sua maioria, por conta da saída de Henry Cavill da atração, no papel de Geralt of Rivia (cujo traje será assumido por Liam Hemsworth, à partir da quarta temporada), essa primeira parte mostra que o próprio realmente deixou a atração por conta da imensa queda da qualidade, em seu roteiro. O enredo continua no ponto onde a segunda temporada havia parado, com Geralt e Yennefer (Anya Chalotra) seguindo sua jornada, agora acompanhados pela aprendiz de feiticeira, Ciri (Freya Allan). Porém, o trio começa a descobrir que eles estão sendo alvo não apenas de mercenários, como de vários reinos, magos e criaturas. Imagem: Netflix (Divulgação) Contendo cinco episódios, essa primeira parte procura de imediato mostrar o quão o trio composto por Geralt, Yennefer e Ciri conseguem viver como uma verdadeira família, mesmo que inusitada. Sim, continuamos apegados aos próximos, e temos vontade ainda de ver o que irá resultar a sua jornada. Porém, à medida que a última vai conseguindo executar e trabalhar melhor seus poderes, novos personagens vão sendo colocados em pauta. É nesta hora, que o roteiro acaba apelando um pouco para personalidades e arcos totalmente genéricos e repetitivos. Que vão desde um novo e inusitado romance de Jaskier (Joey Batey), com um membro da realeza (inclusive, os diálogos entre ambos chegam a ser vergonhosos), até cenas de batalha com um CGI vergonhoso, em alguns desfechos (principalmente em uma cena onde Ciri vai emperrar uma espada, em um monstro, cujo design parece ter sido feito pelos técnicos do Chapolin). Felizmente, fica nítido que (por mais vergonhoso que possa parecer) os atores ainda demonstram interesse em continuar vivenciando essa história. Principalmente da parte do próprio Cavill (que deve ter deixado a série, por conta dos descuidos do roteiro e terem mudado a pegada original de lado, cada vez mais). Além disso, o design de produção, figurino e alguns efeitos visuais para criar o mundo da atração, também continuam funcionando perfeitamente. Mas isso não chega a ser um fator suficiente para conseguir prender a atenção do espectador, por muito tempo nesta nova leva de episódios (que acabam sendo até um pouco arrastados). A primeira parte da terceira temporada de “The Witcher“, consegue ser a mais fraca da série, e mostra que realmente Henry Cavill resolveu cair fora, antes que piorasse de vez.

Crítica | Indiana Jones e a Relíquia do Destino

Engenharia do Cinema Não é novidade que a Disney estava há tempos tentando realizar um novo filme para o personagem Indiana Jones, depois que a compra da Lucasfilm foi concretizada. Depois de decepcionar muitos fãs com os últimos materiais cinematográficos de “Star Wars”, o selo finalmente mirou para a franquia estrelada por Harrison Ford. “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” usa e abusa de recursos de CGI, com o intuito de tentar fazer com que o primeiro volte a viver seus tempos de ouro como o citado. Funciona, mas ainda há ressalvas.    A história se passa em meados dos anos 60/70, quando Indiana está vivendo uma vida triste e pacata, ainda trabalhando como professor e tendo alunos ainda menos interessados em suas aulas. Porém, ele tem seu caminho cruzado com sua afilhada, Helena (Phoebe Waller-Bridge) que comenta estar atrás de um artefato que seu próprio Pai sonhava em desvendar seus segredos. Eis que a dupla descobre que os nazistas, liderados pelo Dr. Voller (Mads Mikkelsen), também estão atrás do próprio, e começa um enorme jogo de gato e rato pelo próprio. Imagem: Lucasfilm (Divulgação) Depois que Steven Spielberg abriu mão de dirigir a franquia (já que ele estava ocupado com “Os Fabelmans” e finalizando outros projetos), o estúdio contratou o ótimo James Mangold (“Ford vs Ferrari” e “Logan‘) para assumir a função. Realmente, embora este tenha como marca grandes cenas de impacto no quesito dramático (pelas quais são regadas de violência, na maioria das vezes), aqui o próprio parece ter feito o copia e cola de tudo que Spielberg fez na trilogia original. E digo isso com total clareza, pois até a fotografia com tonalidades amareladas/depressivas de Phedon Papamichael (que já fez com Mangold filmes como “Johnny e June“) remete aos trabalhos clássicos de Douglas Slocombe (falecido em 2016). Felizmente John Williams pode voltar ao posto de responsável pela trilha sonora, e não existia um profissional melhor para saber como conduzir esta função na saga. Isso faz com que não exista uma marca ou diferencial marcante neste filme, apenas um conjunto de cenas que homenageia o legado do próprio. Porém, isso funciona? A minha resposta é sim! Embora em muitas das cenas vemos que foram utilizados Deep Fake e CGI carregados para rejuvenescer Harrison Ford (uma vez que o próprio já está com 80 anos, e ainda contundiu a perna durante as gravações), especialmente em cenas de ação extrema (já que o próprio não teria como andar correndo à cavalo ou saltar de vagões de trens). Inclusive estas realmente funcionam e prendem nossa atenção (uma vez que ocorrem em boa parte da projeção). Com relação ao elenco de apoio, há algumas participações breves, mas bem retratadas de nomes como Antonio Banderas (“A Máscara de Zorro“), Toby Jones (“Capitão América e o Soldado Invernal“) e John Rhys-Davies (que retorna como o velho amigo de Jones, Sallah), enquanto os vilões vividos por Mads Mikkelsen e Boyd Holbrook (da série “Narcos“), se distinguem no quesito de espalhar o caos, uma vez que o primeiro por suas atitudes e olhares, enquanto o segundo literalmente resolve tudo “na bala” (chegando até ser previsível seus arcos, em certo ponto). Outra questão bastante polêmica no enredo, seria se Phoebe Waller-Bridge se tornaria a “nova Indiana Jones”, uma vez que os roteiros vazados e informações de insiders indicavam isso. Porém, a própria não apenas se assemelha demais com sua personagem em “Fleabag” (inclusive, há algumas referências a série), como não possui um semblante de protagonista para este tipo de filme, ou seja, ela precisará sempre de um Harrison Ford, para conseguir ter sentido de existir e possui motivações. “Indiana Jones e a Relíquia do Destino” não consegue ser uma obra digna de uma despedida grandiosa para Indiana Jones, mas diverte aqueles que estavam com saudades do bom e velho Harrison Ford.