Jesse Malin e Kelley Swindall em Glasgow com o pessoal do Green Day na plateia

A noite do dia 28 estava concorrida em Glasgow. Num raio de 1,5 km eram três opções de shows: o eterno vocalista do D-Generation, Jesse Malin, a banda de hardcore norte-americana Lag Wagon, além do Kings of Leon. Optei pelo ineditismo na minha check-list e fui no primeiro. A escolha foi acertada. O local em si, o King Tut’s Wah Wah, já tem história de sobra. A pequena casa, com capacidade para 300 pessoas, já recebeu nomes como Oasis, Rage Against the Machine, Biffy Clyro, Radiohead, Blur, Travis, Pulp, The Verve, entre outros no início de carreira. Além disso, não tive o privilégio de assistir a um show do D-Generation e Jesse Malin nunca se apresentou no Brasil. De quebra, colocou a incrível Kelley Swindall para abrir a noite. E se tudo isso não bastasse, ainda tive o prazer de vivenciar isso com Billie Joe e Tré Cool, do Green Day, ao meu lado em um espaço 2×2, próximos à mesa de som. Sim, ambos são muito amigos de Jesse e aproveitaram que farão um show hoje em Glasgow, sequência da tour que o Blog n’ Roll acompanhou em Londres, para prestigiar o companheiro. Sem cerimônia, Kelley Swindall subiu ao palco no horário previsto. Bastante comunicativa, a cantora contou histórias sobre o seu repertório e arrancou muitos aplausos. Lançado na pandemia, o álbum You Can Call Me Darlin’ If You Want serviu como base do repertório. Fortemente influenciada pela música americana, com alguns traços de folk e country, Kelley é uma contadora de histórias nata. Do seu setlist autoral, destaco a faixa-título do álbum, Dear Savannah, California e You Never Really Loved Me Anyways. Após concluir sua apresentação, Kelley distribuiu autógrafos e vendeu seus próprios discos na banquinha enquanto Jesse conversava com o público. Jesse Malin Jesse Malin não demorou a assumir o palco. Muito ativo durante a pandemia, fazendo inúmeras lives, o músico nova-iorquino não escondeu a emoção de poder andar no meio do público. “Fiquei muito tempo preso em casa e entediado. Queria muito ter saído, mas o medo me manteve em casa. Mas confesso que estou cansado de gravar lives”. E um dos motivos para a empolgação era o álbum Sad and Beautiful World, lançado durante a pandemia. Foram cinco faixas do disco apresentadas no King Tut’s, incluindo Backstabbers, Before You Go, Dance With the System, State of the Art e The Way We Used to Roll. Apesar da minha expectativa, Billie Joe e Tré Cool não foram ao palco durante o show. O baterista do Green Day estava muito animado ao lado da mesa de som, mas Billie Joe parecia entediado, passando boa parte do tempo no celular. Mas se não teve esse feat, nem músicas do D-Generation, Jesse Malin entregou um belo dueto com Kelley, a grata surpresa da noite, com uma releitura de You Ain’t Goin’ Nowhere, de Bob Dylan.
Dobradinha de peso em Glasgow: Kasabian e Liam Gallagher

Glasgow não é para os fracos. É preciso ter muita disposição para aguentar a euforia dos fãs. É chuva de vinho, cerveja, cocaína e muitos esbarrões o tempo todo. Isso sem falar nos sinalizadores que deixaram os seguranças em pânico no Hampden Park, o estádio oficial dos jogos da seleção de futebol da Escócia. Foi nesse clima que acompanhei, debaixo de chuva, a dobradinha Liam Gallagher e Kasabian em Glasgow. Já havia assistido ao Kasabian duas vezes no Brasil, mas estava curioso para ver sem o vocalista Tom Meighan, expulso da banda após comportamentos abusivos com a esposa. Sergio Pizzorno assumiu o vocal e afastou a desconfiança do público logo de cara. Não é segredo que ele sempre foi a alma da banda, mas é sempre estranha a troca de vocalista. Com um set bem equilibrado, Pizzorno e companhia ignoraram apenas um dos sete álbuns da discografia (Velociraptor!, de 2011), já incluindo nessa conta o futuro The Alchemist’s Euphoria, que chega em agosto. West Ryder Pauper Lunatic Asylum (2009) e For Crying Out Loud (2017) foram responsáveis por metade do set, com três músicas cada. Só hit, por sinal. A sequência inicial do show, com Club Foot, III Ray (The King) e Underdog, foi tocada sem intervalo, garantindo uma apoteose dos fãs, em sua maioria adolescentes. Enquanto gritavam e pulavam insanamente, policiais e seguranças tiveram trabalho para conter os sinalizadores acesos na pista. Propositalmente ou não, Pizzorno parece ter notado que a loucura da plateia estava fora do comum e deu uma desacelerada. Deu espaço para You’re in Love With a Psycho e estreou Chemicals, do novo álbum. Mas a tranquilidade pouco durou. Shoot the Runner, Stevie e Bless This Acid House, uma seguida da outra, funcionaram como uma panela de pressão. Ao chegar na terceira dessa sequência, a loucura já estava novamente na pista. E mais correria para conter novos sinalizadores. A reta final, já com o jogo ganho, trouxe mais momentos catárticos para os escoceses, incluindo Empire e Fire. Se o objetivo era aquecer os fãs para o show de Liam Gallagher, Pizzorno conseguiu isso e muito mais. Fez show de headliner com set list reduzido. Liam Gallagher O canto da torcida do Manchester City celebrando mais um título, ecoando nos alto-falantes do estádio, já sinalizavam que Liam estava próximo. Engraçado que essa brincadeira nunca fica velha, afinal o City ganha títulos todos os anos. Acabou de conquistar o bicampeonato da Premier League, o quarto título nos últimos cinco anos. Fuckin’ in the Bushes, acompanhada de imagens de Liam e mensagens positivas, trouxe o icônico vocalista do Oasis para o palco. Aliás, vale destacar que Liam tem dois feitos e tanto sobre o irmão: renovou o público, trocando os coroas saudosistas por adolescentes apaixonados pela sua banda de origem, além de entregar os clássicos do Oasis da forma mais fiel possível, sem tesouras ou outras esquisitices em suas releituras, como Noel faz. Mesmo com uma carreira solo consolidada, Liam sabe que o repertório do Oasis é o ponto forte dos shows. E isso não é um problema para ele. Hello, Rock ‘n’ Roll Star e Morning Glory vieram em sequência. Logo depois, Liam testou a força do repertório solo com Wall of Glass, Everything’s Electric e Better Days, as duas últimas do recém-lançado C’mon You Know. Impressionante como a euforia não se reduz em nenhum momento na pista. Sempre intercalando Oasis e carreira solo, Liam pouco falou, mas quando se arriscou a fazer isso, arrancou aplausos e vaias simultaneamente. Explica-se: o vocalista elogiou Glasgow e disse ser uma ótima cidade de um ótimo país independente. No entanto, nem todos pensam da mesma forma. A população é dividida entre ser independente ou seguir dentro do Reino Unido, com Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Mas Liam soube abafar a polêmica rapidamente com mais uma trinca de Oasis: Stand by Me, Roll It Over e Slide Away. Ainda teve espaço para a linda Soul Love, do Beady Eye, banda que Liam montou logo após o término do Oasis. Com novidades de C’mon You Know e mais algumas boas faixas de seus dois primeiros álbuns solos, Liam mostrou força com More Power, acompanhada de backing vocals, The River e Once. Na saída do palco, antes do bis, ainda simulou estar tocando tesoura, tal como uma integrante da banda de Noel, arrancando risos dos fãs. Um curto intervalo separou dessa interação e as últimas quatro canções do show, todas do Oasis: Some Might Say, Cigarettes & Alcohol, Wonderwall e Champagne Supernova. Nem mesmo a chuva e o frio, em pleno verão escocês, foram páreo para os fãs. Muitos saíram eufóricos do estádio, rodando a camisa e cantando mais músicas do Oasis nas ruas. E foi assim até a região central de Glasgow, distante uns 4,5 km dali. Sim, caminhando e cantando debaixo de frio e chuva.