MC Carol une trap, grime, funk e até fado no álbum Tralha

Depois de mostrar sua faceta politizada e intensa no disco Bandida e chegar com histórias de amores inusitados em Borogodó, MC Carol ressignifica o termo Tralha. Se a palavra é popularmente usada para descrever alguém de má índole, MC Carol a utiliza como forma de controlar sua própria narrativa, abordando temas como violência, dinheiro, sucesso e relacionamentos com perspicácia e humor. O álbum Tralha apresenta um lado ainda pouco conhecido da artista e explora sua complexa vivência como mulher preta, favelada e bem-sucedida, além de incorporar sonoridades urbanas como grime e trap, e surpreendentes, como fado, refletindo sua vasta bagagem cultural. “Eu canto funk há mais de dez anos, mas sempre curti vários tipos de música e nem todo mundo sabe desse meu lado. Eu gosto de MPB, de música árabe, de brega, de várias coisas, mas quando saio com meus amigos, o que a gente mais ouve no carro e nos rolês é rap nacional e gringo. Djonga, Filipe Ret, Travis Scott nunca faltam na playlist. Eu tenho lançado alguns raps nos últimos anos – tipo Fé Nas Maluca com a Iza e Afropatys – mas não tinha pretensão de fazer um álbum completo. Para Tralha eu fui fazendo as músicas com meus amigos produtores e a coisa foi fluindo. Quando vi, tinha várias músicas já prontas e resolvi lançar. Ainda tenho outras em processo mas vou deixar pra lançar mais pra frente, talvez um Tralha parte 2. Aguardem”, antecipa ela, que lança junto o clipe para Vampiro de Madureira, com MC Gorila. “Eu tinha brigado com o meu namorado, estava cheia de ódio no coração, e é sempre quando eu componho melhor. Escrevi a música e mandei pra ele ver o que achava, depois convidei MC Gorila, que eu admiro muito, pra fazer um verso nela, e no final das contas eu me resolvi com o boy e ele até participou do meu clipe. Da raiva saem as melhores músicas”, se diverte Carol. “Eu amo demais a Carol. Sou fã mesmo. Ela é uma das mulheres mais brabas que já conheci”, completa MC Gorila, participação especial na música. MC Carol é uma proeminente figura no cenário do funk carioca, conhecida por sucessos como Minha vó tá maluca. Quase uma década atrás, ela furou a bolha ao participar do reality show Lucky Ladies, da FOX. Carol realizou shows nos Estados Unidos, Reino Unido e Europa continental, além de palestras em universidades e participações em eventos culturais. A MC também se apresentou nas últimas edições do Rock in Rio e, recentemente, no festival The Town, ao lado de Iza. Ainda ganhou destaque com sua participação no reality show “Soltos em Floripa”, da Amazon Prime Video, e iniciou sua carreira como atriz em projetos audiovisuais como No Coração do Mundo, Barba, Cabelo & Bigode e Impuros. Recentemente colaborou com Pabllo Vittar em Descontrolada e lançou o single Fé Nas Maluca no mais recente álbum da cantora carioca Iza. Nesta última, Carol mostrou sua habilidade no rap, base para esse novo trabalho.
Emicida, Planet Hemp, MC Carol, entre outros recriam álbum clássico de Pitty

O álbum de estreia da cantora baiana Pitty, Admirável Chip Novo, ganhou uma versão especial na qual diversos artistas regravam as faixas. Emicida, Planet Hemp, Ney Matogrosso, Pabllo Vittar, Sandy, MC Carol, entre outros participam do disco. Sobre o álbum, batizado como Admirável Chip Novo (Re)ativado, Pitty declarou que é “sobre a diversidade real e a beleza da música brasileira, a riqueza, a potência de tantos estilos que, sim, podem dialogar nas diferenças”. “Esse disco é, também, uma analogia para o que imagino na vida em sociedade: respeito, espaços, afetos, ligações que se dão não por rótulos ou conveniências comerciais, mas por pertencimento nos discursos, posturas e, principalmente, amor à arte”, justifica. De acordo com Pitty, o convite para os participantes foi curto e direto. “Oi, eu amo seu trabalho, queria regravar o Chip Novo. Pega uma música dele e faz dela O QUE VOCÊ QUISER”. Ainda segundo a cantora, o mote do projeto era justamente que ela não interferisse em nada do processo criativo das pessoas convidadas. “Pega essa música e faz dela tua”.
IZA lança Fé Nas Maluca, single forte e empoderado com MC Carol

O novo álbum de IZA está mais próximo do que os fãs pensam! E para aguçar a curiosidade, a cantora acaba de lançar o primeiro single do disco, Fé Nas Maluca, com a participação especial de MC Carol, e produção de Douglas Moda/WE4 Music, Nox e Nine. Segundo IZA, Fé Nas Maluca – composta por ela, Mc Carol e mais alguns parceiros e parceiras –, fala muito sobre as mulheres que depois de uma decepção amorosa, precisam ser sóbrias e tentar seguir em frente, mas na verdade tudo o que querem é se vingar. “Ela é uma mistura de irmandade e amizade. Quero que as mulheres assumam esse sentimento louco de não disfarçar a dor, de não precisar ser politicamente correta e abraçar a sua verdade”, reflete. “Você acha que eu sou maluca? Então vou ser maluca!”, completa. Fé Nas Maluca tem muita referência a Xangô, orixá da Mc Carol e por isso, pra ela, foi muito especial o convite. “Eu fiquei apaixonada pela música quando ouvi. Esse convite eu jamais esperava porque nossos trabalhos são tão diferentes, mas eu acredito que foi um presente do Universo, dos orixás e de Deus”, conta Carol. “Acredito que cada um que ouvir terá um entendimento, mas o que eu entendo dessa música é que ela fala sobre como algumas pessoas, de forma geral, se aproveitam das mulheres artistas pretas parar tirar algum proveito de todas as formas. Eu passei por várias situações na minha vida, com empresários e namorados, e essa música chega para falar de justiça”, reflete a MC. Como em todos os lançamentos de IZA, a faixa chega acompanhada de um clipe – pela primeira vez todo filmado em película –, que conta com a participação especial do ator Fábio Lago, além de MC Carol. O curta, gravado na Tribe Pedreira, em Pirapora do Bom Jesus, tem direção do sempre parceiro de IZA, Felipe Sassi. O álbum, que ainda virá, fala das várias camadas do amor e o caminho escolhido para o roteiro desse curta foi criar uma lenda urbana, que trouxesse as vivências da cantora, a visão de uma mulher brasileira, preta, que represente e fale com o púbico. Segundo Caio, que assina o roteiro junto com IZA, Felipe e Nídia Aranha, a ideia foi criar uma mulher, representada pela Mulher de Pedra, que faz parte do folclore brasileiro. “Ela é muito valiosa e é descoberta por um garimpeiro, no clipe interpretado pelo ator Fábio Lago”, conta Caio. A partir disso, ele percebe o valor dela e começa a se apropriar dela, comercializando tudo o que ela pode gerar, já que a Mulher de Pedra tem fragmentos de pedras valiosas”, completa. Para a IZA a ideia é mostrar que a personagem vai desde a idealização de um amor, de uma relação, até a realidade, que é aprender que o amor tem várias facetas. “A Mulher de Pedra era pura e ingênua, e se deixava levar por essa relação com o garimpeiro. Até o momento que ela entende que está sendo usurpada por ele e foge, indo ao encontro da personagem da MC Carol, que se torna sua aliada e comparsa de vingança”, conta a cantora. As referências para o roteiro do clipe, e também para essa nova fase da carreira, vieram do cinema setentista brasileiro, que falam dos folclores nacionais. IZA trouxe também referências estéticas e visuais de histórias e lendas cinematográficas, como o filme Cocoon, um de seus preferidos, por se tratar de um ser puro que veio parar no mundo real. Já MC Carol se diz apaixonada pelo clipe. “Tudo nele tem um sentido, onde foi gravado, o que foi pensado pra cada cena e toda a equipe envolvida foi incrível. Era um momento que eu precisava muito. Tanta gente tenta nos diminuir como mulher, como artista, e eu me senti muito nesse clipe, minha autoestima foi lá em cima”, reflete Carol. “Sem contar que trabalhar com a IZA é um sonho realizado”, completa.
Entrevista | MC Carol – “Ser mulher é ter que se impor diariamente por coisas básicas”

Recentemente, eu e o Prof. Dr. Sergio Bento realizamos uma entrevista com Mc Carol ou Carol Bandida como ela mesma cita na entrevista para evocar sua força. Tocamos em vários pontos desde feminicidio até a posição dela quanto ao (des) governo Bolsonaro. Se liga aqui no Blog n’ Roll que tem muita coisa rolando ao mesmo tempo! Falando nisso, você assistiu minhas entrevistas no @blognroll? Não? Está imperdível! Tem Garage Fuzz, O Teatro Mágico, The Mönic, Afrodizia e muuuuito mais. Todas essas foram ações por conta do projeto Juntos pela Vila Gilda. Entrevista – MC Carol Por que o funk representa tão bem a voz da periferia carioca? E como você analisa o funk atual em outros estados? É que o funk é a periferia. O funk, o rap, o samba. Surgiram da gente. Mas agora um momento bem estranho. O funk continua marginal, continua perseguido, mas a favela tá chegando em todo mundo. Não podem mais fechar os olhos pro funk. Só espero que as pessoas não fechem os olhos para a perseguição e usem o funk só quando for conveniente, sabe? “Não foi Cabral” vem sendo usada por vários professores de história em suas aulas. Você acredita que a “História Oficial” que você crítica na canção está finalmente sendo desacreditada? Eu não sei se desacreditada. Mas assim como não podem fechar os olhos pro funk, não podem esconder a verdade. Sempre fico feliz quando ouço que usam minha música na escola. Fico imaginando que meus professores devem pensar disso! (Risos). Como você, mulher, funkeira e feminista, responde a quem acusa o funk de ser machista e objetificar o corpo feminino? Eu falo pra ele prestar atenção nos pagodes, nos rocks, nos sertanejos. Não é o funk que é machista. O mundo que é e precisamos mexer com isso. Não só na mensagem, mas na postura das pessoas. Ser mulher é ter que se impor diariamente por coisas básicas. Mas eu já sou assim desde criança, Carol Bandida. (Risos) Então acho que imponho meu respeito na marra, nem que seja na porrada. E olha que já entrei na porrada. Como você avalia o governo Bolsonaro para a população negra? Olha, nem sei por onde começar. Sabe o que eu disse que ser mulher é ter que se impor por coisas básicas? A gente tá precisando se impor pro coisas básicas, para viver, para ter dignidade. Como mulher, negra e de comunidade, é cansativo… Em tempos de pandemia, como você e sua equipe fazem para sobreviver da arte? A gente sofre! (Risos) Estamos tentando fazer coisas que não envolvam o show, pensar novos lançamentos, ver outras coisas fora da música. Infelizmente tem muita gente que trabalha nesse meio, que vive do show, que tá em dificuldade. Suas letras sempre falam de uma mulher forte, com muita altivez. Você já sofreu relacionamentos abusivos? Se sim, qual conselho você daria às mulheres? Eu já sofri até uma tentativa de feminicidio. O principal é não se calem. Tudo e todos tentam nos calar, não se cale. Meu avô sempre me criou pra eu não abaixar a cabeça pra ninguém e sempre quis ser independente, achava que eu devia ter os mesmos direitos dos meninos que eu andava desde pequena. Queria ser respeitada! Seja na educação ou na base do barraco! (Risos)