Bomayê: Com EP político, Rota 54 comemora 15 anos de estrada

Após o lançamento do single Ali, o Rota 54 divulgou na última sexta-feira (3) o EP de quatro faixas, Bomayê. O novo trabalho, que carrega questionamentos políticos e sociais, marca os 15 anos de estrada da banda paulistana. A reflexão já parte do título Bomayê, termo que aparece na música Ali e que no dialeto africano lingalês, significa “Acabe com”. “A mensagem que queremos passar com o EP é: Bomayê (acabe com) o racismo, a homofobia, o machismo, a intolerância religiosa, o genocídio do povo negro e indígena”, conta o vocalista Caio Uehbe. “Usar um termo africano tem muito significado, pois é necessário superar essa visão eurocêntrica, judaico-cristã, heteronormativa e masculina. É necessário descolonizarmos nosso olhar e nos africanizarmos em busca da nossa verdadeira essência e de uma nova forma de encarar as relações sociais e do ser humano com a natureza”. A faixa destaque no lançamento do EP é Mais Uma Estação, que narra um retrato da rotina da maior parte da população da cidade de São Paulo, em que a jornada de trabalho é cada vez mais extensa, e suas condições cada vez mais precarizadas. “Nossos sonhos vão se perdendo na nossa rotina extenuante e vamos deixando um pouquinho de nós em cada lugar que passamos no cotidiano metropolitano: ‘O velho herói que sempre fui… Barra Funda, Liberdade, Ipiranga, Carrão… Se perdeu em alguma estação… Tiradentes, Paraíso, Sacomã, Conceição… O que perdi em cada vagão”, revela Uehbe. Com produção de Wagner Bernardes e lançamento assinado pelo selos Rota Recs e RedStar Recordings, Bomayê conta com as faixas Ali, Mais Uma Estação, Honestidade e uma releitura de Hey Ho Catadão, música do álbum Subvivência, do Rota 54. “O disco vem num contexto pós pandemia e sobretudo pós governo Fascista no Brasil, onde todo o histórico genocida do país ficou escancarado na forma que o governo conduziu a pandemia, a questão dos povos originários, as políticas públicas de inclusão das minorias etc. A capa do disco mostra essa face do estado brasileiro que há mais de 500 anos elegeu seus alvos e que no último período intensificou a política de sua eliminação”, explica o vocalista. Além de Caio Uehbe (vocal e guitarra), a banda é formada por Daniel Moura (guitarra), Camarada Renan (baixo) e Vinícius Coelho (bateria). O Rota 54 fará o show de lançamento do EP, disponível também em CD, no sábado (11), na capital paulista. Quando: 11 de março, a partir das 19h30. Local: Red Star Studio, Rua Teodoro Sampaio, 512. Saiba mais

Single do Rota 54 homenageia lutas e glórias de Muhammad Ali

O novo single da banda paulistana Rota 54, Ali, é uma homenagem a Muhammad Ali, pugilista norte-americano, considerado um dos maiores boxeadores da história. Além de seus feitos no esporte, foi ainda um defensor dos direitos civis e da luta contra o racismo. Composta pelo vocalista e guitarrista Caio Uehbe, a música contempla algumas passagens marcantes da vida de Muhammad Ali, como no trecho “Não há vitórias quando a luta não é justa! Não servirei a essa guerra suja”, que remete a recusa de Ali em lutar na guerra do Vietnã, num contexto de segregação racial nos EUA. Em outra passagem, aborda a mudança do nome e a sua conversão ao islamismo, alegando que o antigo sobrenome Clay havia sido dado pelos senhores de escravos e por ser um homem livre, não fazia sentido usá-lo. “Sou um homem livre, não aceito as suas leis, sou Muhammad Ali, não me chame Cassius Clay”. A lendária luta contra George Foreman na República Democrática do Congo, antigo Zaire, também não ficou de fora da faixa, e aparece no refrão Ali Bomayê, que no dialeto lingalês significa “Ali acabe com ele”, frase repetida pelos cidadãos locais que seguiam o boxeador nas ruas. “Ali é um líder mundial que me inspira por sua militância, sua força, suas ideias, sua técnica e sua retórica, e que deve ser relembrado. Estamos tendo, após a eleição, a chance de refletir sobre o momento histórico nefasto que foi o desgoverno nazifascista do Bolsonaro, e acredito que uma música com a força de Muhammad Ali está dentro desse contexto de reconstrução de um país que sofreu tanto com um governo abertamente racista”, diz Uehbe. Produzido por Wagner Bernardes e lançado pelo selo Red Star Recordings, o single Ali ganhou um videoclipe dirigido por Marcelo Jacob e estrelado pelo jovem boxeador Kelvy Alecrim, promessa olímpica brasileira. As imagens foram gravadas no Boxe Autônomo, projeto social e academia de boxe antifascista e antirracista na cidade de São Paulo. Kelvy Alecrim, morador da Favela do Moinho, começou a lutar através do projeto e hoje é uma das principais apostas do país na modalidade. “É muito importante que atletas vindos de projetos sociais com um claro viés político comecem a ganhar destaque para acabar com esse discurso conservador, reacionário e empresarial, de que não se deve misturar esporte com política. Muhammad Ali e tantos outros já provaram como o esporte pode e deve ser um instrumento de denúncia e transformação social. Esperamos que Kelvy seja um grande campeão dentro e fora dos ringues, sendo uma voz contra o racismo, em defesa do direito das pessoas de sua comunidade, servindo de inspiração para os jovens”, revela o vocalista. Ali faz parte do quinto álbum do Rota 54, intitulado Bomayê, que será lançado em março deste ano. Formada em 2008, atualmente a banda é composta por Caio Uehbe (vocal e guitarra), Daniel Moura (guitarra), Camarada Renan (baixo) e Vinícius Coelho (bateria).