Entrevista | The Rasmus – “Estaremos no Brasil em 2026”

O The Rasmus acaba de lançar Weirdo, seu 11º álbum de estúdio, um trabalho que equilibra peso, melodia e uma mensagem de aceitação (confira o review do álbum aqui). Com faixas que vão do impacto imediato de Creature of Chaos ao intimismo de I’m Coming for You, o disco mostra a maturidade da banda finlandesa ao mesmo tempo em que resgata a energia dos primeiros anos. Nesta entrevista ao Blog N’ Roll, o vocalista Lauri Ylönen conta de maneira exclusiva que a banda voltará ao Brasil em 2026, após 8 anos, e fala também sobre a ida à Grécia para compor o álbum e sobre questões pessoais que influenciaram as letras. O que o título Weirdo representa para você e para a banda neste momento da carreira? Essa palavra sempre esteve ao meu redor. Quando eu era criança, as pessoas me chamavam assim como um insulto. Foi difícil me aceitar quando era mais jovem, com meu visual diferente, penteado, maquiagem e roupas. Mas sempre mantive meu estilo, não importava o quanto tivesse que lutar. Quero celebrar 30 anos de The Rasmus e 30 anos de ser um weirdo. Isso conta minha história e, talvez, sirva de exemplo para jovens que precisam acreditar em si mesmos. Queremos transformar essa palavra em algo positivo, e não em um insulto. Como é a cena musical na Finlândia? Aqui no Brasil, as crianças da minha sala também não me entendiam e curtiam o samba e a música sertaneja. E no seu país? A Finlândia é conhecida por rock e metal, e eu tenho muito orgulho disso. Somos uma nação pequena, com cerca de 5,5 milhões de pessoas, e mesmo assim o mundo conhece nossas bandas. É impressionante como produzimos tanta música. Acredito que o som mais sombrio da Finlândia vem do clima. Tudo por aqui é um pouco mais intenso: a comida, as bebidas, até os doces. Isso se reflete também na música. É incrível ver como os shows de rock e metal unem gerações, com pessoas de 17 a 75 anos dividindo a primeira fila. Existe uma comunidade muito forte, todos se sentem acolhidos. Grande parte das músicas foi escrita na Grécia. Como esse ambiente influenciou o som do disco? Não sei se o lugar em si influencia diretamente, mas é ótimo para escrever. Fomos cinco vezes para lá com o produtor Desmond Child. É um lugar silencioso, afastado do mundo, perfeito para se concentrar. A ilha em que ficamos tem centenas de capelas brancas espalhadas pelas montanhas, o que dá uma atmosfera espiritual especial. A natureza é dura, seca, cheia de oliveiras, bem diferente da Finlândia. Eu gosto muito da Grécia. Você citou Desmond Child, mas o álbum também teve outro grande nome, o Marty Frederiksen. O que mais aprendeu com eles? Ambos são fantásticos, verdadeiras lendas. Desmond trabalhou com Kiss, Aerosmith, Bon Jovi, Alice Cooper. Marty, com Ozzy Osbourne e também Aerosmith. É incrível tê-los produzindo nossa música, já que sempre me considerei parte de uma pequena banda. Acho que eles gostam de trabalhar conosco porque temos um som diferente. Desmond chegou a dizer que certas melodias nossas nunca apareceriam nos Estados Unidos, mas que eram únicas do The Rasmus e muito especiais. Trabalhar em Nashville, em um grande estúdio, foi uma experiência inesquecível. Weirdo traz elementos de nu metal, pop, indie rock, mas ainda soa como The Rasmus. Como é se reinventar sem perder os fãs de longa data? Nossos fãs já estão acostumados a não saber o que esperar. Sempre fazemos música que nos deixe felizes primeiro. Já experimentamos sons eletrônicos, como no álbum Dark Matters, que talvez não tenha sido o melhor, mas foi essencial para nossa trajetória. Queremos ter uma carreira longa, e isso exige explorar novos caminhos. Agora senti vontade de trazer de volta as guitarras e o som mais pesado. Tivemos grandes riffs como base e contamos com produtores incríveis. Além de Desmond e Marty, trabalhamos com Joseph McQueen, de Los Angeles, que trouxe um toque moderno ao disco. E sobre os fãs brasileiros? O que eles podem esperar do setlist da turnê Weirdo? O Brasil está nos planos? Sim, mas só no próximo ano. Este ano já está todo planejado para a Europa e alguns shows no México. Em 2026 vamos fazer América Latina, Estados Unidos, Austrália e muitos outros lugares. Não posso dar mais detalhes agora, mas o Brasil está confirmado. Alguns fãs interpretaram a música Rest in Pieces como se falasse da saída da Pauli da banda. Pode falar mais sobre isso? Prefiro não citar nomes, mas essa música é pessoal sim. É sobre um velho amigo que me traiu. Acho que todos já passaram por isso, confiar em alguém e se decepcionar profundamente. Escrevi essa faixa no fim do processo de gravação, quase sozinho, e senti que precisava estar no álbum. Acabou se tornando o primeiro single. Para encerrar, pode deixar uma mensagem para os fãs brasileiros? Pessoal do Brasil, desculpem não conseguirmos ir este ano, mas em 2026 estaremos aí. Espero que possamos tocar em muitos shows e encontrar todos vocês. Até breve, cuidem-se.

Entrevista | Ezra Collective – “Os brasileiros dançam como se ninguém estivesse olhando”

Primeira banda de jazz a ganhar o Mercury Prize (concedido ao melhor disco do Reino Unido e Irlanda) por seu álbum de 2022, Where I’m Meant to Be, o quinteto londrino Ezra Collective estreou no Brasil, no último fim de semana, com um show impecável no Cine Joia, em São Paulo. Durante a passagem pela Capital, o baterista Femi Koleoso conversou com o Blog n’ Roll, via Zoom, e falou mais sobre o álbum mais recente, Dance, No One’s Watching, música brasileira, influências, entre outros assuntos. Leia mais abaixo. Formado por Femi Koleoso (bateria), TJ Koleoso (baixo), Joe Armon-Jones (teclados), Dylan Jones (trompete) e James Mollison (saxofone), o Ezra Collective tem expandido os limites do gênero desde sua formação em 2012. A mistura única com outros estilos, como afrobeat, hip-hop e reggae, chamou a atenção da cena musical do Reino Unido e agora está se espalhando por todo o mundo, transmutando as percepções do público sobre a música. * Qual é sua primeira impressão do Brasil?  Eu amo isso aqui. Já comi feijoada, tomei caipirinhas e sambei. Estou confortável, não demorou muito para conseguir isso, é um lugar especial. O Ezra Collective fez história ao ganhar o Mercury Prize com Where I’m Meant To Be. Como esse reconhecimento impactou a banda?  Não mudou a maneira como abordamos a música, nada mudou musicalmente. Foi uma noite muito bonita, uma experiência muito bonita, mas a missão continuou a mesma. Os prêmios são como um presente de Natal. Se eu ganhar um presente de Natal, direi obrigado, sou muito grato, mas isso não mudou minha vida, sabe? E foi mais ou menos assim, mas musicalmente não nos mudou em nada.  Nós escrevemos Dance No One’s Watching antes de ganharmos o Mercury Prize, então o álbum que veio depois, nós já tínhamos escrito antes de ganharmos o Mercury Prize.  Mas, definitivamente, mais pessoas estão cientes do nosso nome, nos reconhecem e essas coisas são muito positivas. Dance No One’s Watching foi descrito como uma documentação da jornada da banda ao redor do mundo. Como essa experiência internacional influenciou seu som?  Acho que foi tudo sobre diferenças e semelhanças. As pistas de dança parecem as mesmas quando são realmente boas, em qualquer lugar do mundo. Você sabe, as pistas de dança em São Paulo parecem pistas de dança em Lagos, parecem pistas de dança em Tóquio, quando é tudo sobre a dança. As pessoas fecham os olhos e apenas balançam e se movem e isso parece similar, mas então as diferenças são como a maneira que chegamos àquele lugar, e a música que você ouve, e o olhar das pessoas, e essas diferenças são preciosas. Então foram apenas essas viagens que realmente nos inspiram de uma forma grande. Como o Ezra Collective equilibra a fusão de jazz com afrobeat, hip-hop e reggae para criar um som tão autêntico?  Autêntico vem de reconhecer que você nunca soará como uma banda de afrobeat perfeita, você nunca soará como uma banda de samba, você nunca soará como um hip-hop perfeito, mas você pode definitivamente fazer um som que faça as pessoas saberem que você o ama, e é isso que o faz parecer autêntico.  Nós nunca estamos tentando ser outra coisa, mas nunca estamos tentando esconder o que amamos, e essa combinação o faz parecer inovador e autêntico. E então você só precisa se manter aberto, você precisa estar aberto todos os dias. Uso o Shazam toda vez que ouço algo que gosto, pego o nome, salvo, baixo ou compro, e estou sempre procurando por novas músicas. Este é um ótimo lugar para música, então estou encontrando o máximo que posso e deixando que isso me inspire. Há uma banda ou artista específico que influencia mais você?  Eu amo o Azymuth e Sergio Mendes. Amo como Sergio Mendes misturou jazz com samba, e essas são apenas algumas das pessoas que realmente amo, mas amo muita música brasileira.  O jazz moderno vem ganhando cada vez mais espaço fora do circuito tradicional de turnês musicais. Você sente que o Ezra Collective está ajudando a definir a percepção do gênero para as novas gerações?  Sim, porque quanto mais a inspiração viaja, mais pessoas vão começar a tocar, e isso só vai criar mais músicas que amo. Então isso é emocionante para mim, sabe? E o título Dance No One’s Watching sugere liberdade e entrega à música.  O que essa ideia significa para você, e como ela reflete na experiência de tocar junto?  Significa apenas que a vida é muito curta e preciosa para se importar com o que as pessoas pensam, e deixar que isso roube o momento. Então seja livre e se expresse. Mas a questão sobre o Brasil é que os brasileiros são especialistas nisso. Os brasileiros dançam como se ninguém estivesse olhando, então hoje à noite (dia do show) estou aqui para aprender a dançar como se ninguém estivesse olhando. Não estou aqui para ensinar ninguém, estou aqui para aprender. Estou ansioso para o público me ensinar como realmente festejar, sabe?  Você topa um jogo rápido? Nomeio alguns artistas e você os descreve em uma palavra ou frase. Jamie Cullum – Cara legal.  Norah Jones – Linda. Gilberto Gil – Icônico.  Bob Marley – Herói. Rihanna – Fofa Quais os três álbuns que tiveram a maior influência na sua carreira e por quê?  Teacher Don’t Teach Me Nonsense, de Fela Kuti, porque esse foi o álbum que me fez me apaixonar pelo Afrobeat. Voodoo, de D’Angelo, para mim, é meu som favorito de álbum. A maneira como flui de música para música influenciou como vejo o conceito do álbum.  Por fim, diria Catch a Fire, de Bob Marley, porque para mim, é uma aula magistral de contar uma história. Então, sim, esses seriam os três álbuns.

Entrevista | Fantastic Negrito – “Era um esperma velho. Esse é meu legado”

Em uma entrevista reveladora para o Blog n’ Roll, o músico norte-americano Xavier Amin Dphrepaulezz, o Fantastic Negrito, de 56 anos, nos proporciona uma jornada íntima e crua, refletindo sobre traumas de infância, relacionamentos familiares e o poder de transformar a dor em arte.  Seu novo álbum, Son of a Broken Man, emerge como uma obra profundamente pessoal, onde ele explora memórias dolorosas e o impacto de ser “filho de um homem quebrado”. “Para mim, o álbum é como um novo relacionamento… Não tenho certeza se quero namorá-la, mas gosto muito dela”, diz ele, em uma comparação que revela sua vulnerabilidade com este trabalho. A conversa também destaca sua colaboração inesperada com Sting, na faixa Undefeated Eyes, e suas influências, que vão desde o blues de Robert Johnson ao grunge do Nirvana.  Em meio a reflexões sobre seus conflitos internos e experiências de vida nas ruas, Fantastic Negrito demonstra a autenticidade que sempre marcou sua música, em um álbum que, nas palavras dele, permite que ele seja humano – corajoso, vulnerável, e acima de tudo, verdadeiro. Confira a entrevista completa, onde Fantastic Negrito, que se apresentou no fim de outubro no Cine Joia, em São Paulo, fala sobre a criação do álbum, sua relação com a música e até brinca ao descrever ícones como Aretha Franklin e Prince em uma palavra. Você está animado com o seu novo álbum, Son of a Broken Man? Alcançou o que você esperava antes de iniciar a gravação? Para mim, o álbum é como um novo relacionamento. Não tenho certeza se quero namorá-la, mas gosto muito dela. Não sei se somos feitos um para o outro, mas estou gostando. Tenho que continuar tocando, e isso é para entrar na corrente sanguínea, mas o processo de composição foi bom, e a produção foi boa.  Eu ia perguntar sobre isso, porque este álbum foi descrito como o mais pessoal até agora. Como foi o processo criativo?  Muito disso é medo. Quando você está escrevendo algo tão pessoal, há medo. É algo como querer ser legal, quero ser essa imagem que tenho de mim mesmo. Não quero ser vulnerável, não quero falar sobre algo que me esmagou, que me machucou.  Meu pai tinha 63 anos quando nasci. Minha mãe tinha 30. Sim, sou esperma velho, era um esperma velho. Esse é meu legado. Tão difícil, fui durão a vida toda, porque meu pai, quando tinha 11 anos, parou de falar comigo, e mesmo quando eu o via na rua, ele me ignorava, e então aos 12, ele simplesmente me expulsava. Eu fugia, não sabia o quanto isso me afetava. Realmente me afetou, porque o pai, quando você é bem pequeno, é meio que seu herói. E então você passa pela fase da adolescência, mas ele não me deixou passar por isso. E é muito, muito doloroso. Machuquei muitas pessoas e a mim mesmo. Como segurar isso a vida toda, com essa dor, essa lesão? E essa é a história mais antiga do mundo, é um pai e um filho que lutaram. E quão fácil é traduzir isso para a música? Você só tem que ficar fora do caminho, porque quando você está fazendo isso, tudo atrapalha. As pessoas vão gostar? O que as pessoas vão pensar? É constrangedor. Eu vou ser vulnerável. E se eu mostrar meu coração? E se eu mostrar tudo e for uma droga? Isso traz muito medo. Então tenho que sair do caminho e me deixar ser humano. E acho que ser humano é parte de ser vulnerável, ter medo, ser corajoso, ser violento, ser amoroso. Isso é permitir que isso aconteça. E acho que queria usar todo o trauma pessoal em algo incrível. Sei que isso dói, isso dói, é traumático, mas vou usar isso em uma música. Senti que era o processo. Quem é você na música Living With Strangers?  Essa é uma pergunta muito, muito boa. Você me pegou de surpresa. Mas agora tenho que tirar minha máscara. Acho que é como acabei sendo atraído em parte da minha vida por um certo tipo de mulher. Porque eu estava tão fodido, tão pra baixo, sofrendo. E então fiquei triste, porque vou te tratar muito mal e atacar porque estou com medo. Meu pai, ele me esmagou, e minha mãe, ela me ignorou. E sinto que isso dói.  Não quero que você faça isso comigo. Então talvez tenha tido a ver com meu relacionamento com mulheres. Estava muito bravo com a minha mãe, que ainda está viva. Não sou tão próximo dela. Sou o oitavo de 15 filhos. Você não pode se aproximar de sua mãe. Não tenho raiva dela, mas acho que talvez tenha algo. Não quero chamar isso de raiva, mas tirei isso. Parece que quando estou cantando essa música, lembro que estou um pouco bravo. É difícil até falar sobre isso porque não quero. Tudo bem. Eu sinto que essa é uma pergunta de um psiquiatra.  Sim, eu estava pensando na mesma coisa. Não quero responder a essa pergunta. Mas o mais importante é que sou eu. Tipo, me sinto mal. Me sinto um nada. Então como lido com isso? Como lido com isso sentado em um piano e vivendo com estranhos? Eu tinha 12 anos, vivia com crianças de rua e gangues. Ou eu vou ou a polícia me leva para uma casa para menores, algo como lar adotivo. Quero lembrar desse medo, mas vou lutar pela minha vida. Filho da puta, vou lutar pela minha vida. Se isso acontecer comigo, quero estar morto. Tive que lutar com um homem, tentaram me pegar. Isso é constrangedor. Mas lutei e sobrevivi. E você fez isso muito bem feito. Parabéns! Você conseguiu realmente passar a mensagem. Desculpe por demorar tanto. Tudo bem. Vamos falar rapidamente sobre Undefeated Eyes. Como surgiu a colaboração com Sting?  Estava abrindo um show para ele e o Sting estava lá o tempo todo. Fiquei nervoso. Esse cara escreveu tantas músicas incríveis. Minha música é uma droga. Depois, ele disse: “ei, isso é bom.